Você sabe o que é uma feira de arte?
Diferente de uma exposição que você vê num grande museu, como MASP ou Pinacoteca, ou numa Bienal, como a de São Paulo, as obras de arte que estão expostas numa feira estão alí para serem vendidas. É claro que visitar uma feira é um programa cultural porque você sempre vai ver obras incríveis, mas o objetivo maior desse tipo de evento é a venda!
Hoje existem cerca de 300 feiras internacionais sendo que as mais importantes são a ART BASEL, que acontece na Basiléia, Hong Kong, Miami e Paris; e a FRIEZE ART FAIR, que acontece em Londres, Los Angeles, Nova York e Seul.
Como começou?
Depois das guerras mundiais, os centros culturais europeus ficaram abalados não só pelos bombardeios, mas pela perda dos artistas e intelectuais que morreram ou migraram para os EUA. Na década de 1960, cidades como Colônia, Bolonha e Paris já tinham longas histórias de cultura e uma concentração relativamente alta de colecionadores. Mas o comércio de arte por meio de galerias era limitado.
Além disso, com o pano de fundo adicional dos julgamentos dos organizadores do Holocausto, os mais importantes compradores de arte americanos – muitos dos quais também eram judeus – se afastaram da cultura europeia ( e em epecial da alemã!).
“Algo tinha que acontecer para dar nova vida ao comércio de arte estagnado”, explica marchand Rudolf Zwirner, pai do também galerista David Zwirner, em sua biografia. Nesse contexto, Rudolf começou a refletir sobre onde e como buscar um público mais amplo.
Ele tinha uma galeria em Essen, na Alemanha Ocidental, e as cidades candidatas a abrigar a primeira feira de arte era a vizinha Düsseldorf, onde Joseph Beuys havia começado a exercer enorme influência, ou Colônia, uma das cidades mais antigas da Europa, com “uma abertura católica às imagens e à cultura”, como definiu o marchand.
Colônia ganhou por diferentes motivos:
1.Sua relativa proximidade com Bonn, capital política da Alemanha Ocidental na época;
2. A cidade tinha um aeroporto internacional que oferecia voos diretos para Nova York;
3.Colônia oferecia uma potente cena musical que gravitava em torno do compositor Karlheinz Stockhausen;
4. O museu Sammlung Haubrich (agora o Museu Ludwig) acabava de abrir em Colônia, o que parecia marcar uma mudança cultural radical que poderia reduzir a sombra da guerra;
Sua fundação, aliás, se deu por meio da doação de obras, em 1946, do advogado e colecionador Josef Haubrich, que colecionava justamente as obras dos chamados artistas “degenerados” da Alemanha, proibidas pelo Terceiro Reich. Então, em 1967, nascia a Art Cologne, idealizada por Rudolf Zwirner e Hein Stünke.
A feira de Colônia forneceu uma plataforma para alguns dos artistas neo-expressionistas emergentes da época, incluindo Anselm Kiefer, Sigmar Polke e Gerhard Richter, além de mostrar artistas pop americanos para uma clientela européia! Mas vale lembrar que Zwirner e Stünke não inventaram a roda. O modelo de feiras especializadas já estava no sangue dos europeus: nos mercados medievais, situados na confluência de rios ou estradas, os comerciantes pagavam aluguel para oferecer suas mercadorias a uma multidão de visitantes.
E já eram relativamente comuns os eventos que criaram um mercado para especialistas em livros e antiguidades. A Feira do Livro de Frankfurt da Alemanha, por exemplo, ainda hoje a mais importante em seu campo, traça sua história desde o século XV. Ao mesmo tempo, as bienais temporárias e outras exposições não comerciais também estavam deixando sua marca na história. A Documenta foi fundada em 1955 em Kassel, outra pequena cidade alemã cerca de 400 km a leste de Colônia, também com a ambição de romper com o traumático passado recente da Alemanha!
Como funciona?
As feiras mundiais, que começaram com a Grande Exposição de Londres de 1851, conseguiram gerar entusiasmo também por serem eventos temporários. A de ver algo efêmero e com exclusividade acabou fazendo com que possíveis compradores estivessem dispostos a pagar por um convite pelo acesso aos produtos mais recentes e exóticos de todo o mundo.
Esse modelo sustenta até hoje o sucesso comercial das feiras de arte modernas. O dinheiro vem do aluguel do estande para as galerias e das taxas de entrada, enquanto a natureza temporária de uma feira incentiva outros eventos locais, relacionados e paralelos. Já reparou na quantidade de exposição que abre durante uma feira de arte? E os brunchs e festas patrocinados por grandes marcas? Uma grande feira de arte costuma mobilizar a cidade inteira.
As galerias pagam para ter um espaço dentro de uma feira de arte (geralmente o preço é estipulado por metro quadrado), mas não é qualquer um que participa! Os candidatos precisam mandar um projeto de exposição ou seleção de obras para o seu stand que pode ou não ser aprovado. Isso porque, ao longo dos anos, as feiras de arte começaram a desenvolver uma série de critérios curatoriais para selecionar e apresentar o melhor do mercado para os colecionadores.
A competição pela atençcão dos colecionadores fizeram com que elas começcassem a criar espaços e pequenas esposições em torno de temas especiais. Na última SP Arte, por exemplo, era possível ver uma coletiva sobre arte e natureza, curada por Ana Carolina Ralston; e, este ano Carolina Lauriano apresenta uma série de obras que falam sobre racismo ambiental.