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No ano de Hélio Oiticica, nova mostra em SP se alia a montagem das Cosmococas no BR e EUA

Exposição “Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto” marca lançamento da Casa SP-Arte, novo espaço de ativações da feira na casa modernista de Flávio de Carvalho

por Luciana Pareja
Casa da Vila Modernista de Flávio de Carvalho onde funciona a partir de 18/3 a Casa SP-Arte, que estreia com a mostra Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto (foto divulgação)

Pelo número de efemérides associadas ao artista, este é o ano de Hélio Oiticica. O carioca que botou o Brasil no mapa da arte mundial ao bagunçar o formalismo concretista junto a nomes como Lygia Clark e Lygia Pape, evoluindo para uma produção transgressora que rompia com a distinção entre arte e vida, museu e mundo, completaria 90 anos em 26 de julho. 

No próximo dia 22, sua morte completa 40 anos. Mas a data mais marcante, e que traz consigo eventos comemorativos, é o aniversário de 50 anos de criação de suas Cosmococas no último dia 13 de março. As obras transgressoras mesclavam ícones da arte subversiva a elementos pop e muita cocaína em instalações imersivas rodeadas de imagens, sons e outros estímulos – entre eles uma piscina –, e foram criadas em parceria com o multiartista e cineasta Neville d’Almeida. 

Imagem que integra a projeção da instalação Cosmococa/ CC4 Nocagions, em versão intimista na curadoria de Luisa Duarte (divulgação)

Na esteira da celebração, a Casa SP-Arte aproveita para estrear seu novo espaço, a casa da Vila Modernista de Flávio de Carvalho antes ocupada pela Gomide&Co, parceira do projeto e, por sua vez, em nova sede na esquina das Avenidas Paulista e Angélica. 

No ano de Oiticica, a mostra de abertura da Casa neste dia 18/3 (sábado) não podia deixar de ser Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto, curadoria da diretora artística da Gomide&Co, Luisa Duarte, com texto de Fred Coelho. “A importância do Hélio Oiticica pra arte brasileira é gigantesca. As gerações que sucederam à sua foram extremamente influenciadas por ele, por Lygia [Clark], por toda aquela turma”, disse ao AQA Luisa Duarte. 

“A partir do momento em que há um reconhecimento internacional da obra de Hélio, ainda nos anos 1990, por instituições importantes fora do Brasil, isso coopera e trabalha pra difusão e pra uma observação mundial sobre o que estava acontecendo na arte contemporânea brasileira. Não por acaso as gerações que se sucederam também ganham um status institucional, de mercado e crítico muito grande. A importância do Hélio é seminal pra arte brasileira e pra difusão dela no exterior na passagem do século 20 pro século 21”, afirma Duarte.

Metaesquema (1958) de Hélio Oiticica que integra a mostra (divulgação)

Partindo do acervo do Projeto Hélio Oiticica (dirigido pelo irmão do artista, César Oiticica Filho), a curadora fez uma seleção de obras que recontam a trajetória de Hélio em todos os momentos marcantes de sua produção. A tarefa não foi fácil diante de uma coleção de tal porte, num “diálogo muito, muito especial com a arquitetura do Flávio de Carvalho”, na definição de Luisa. “Só vindo aqui pra pra sentir”.

“Nosso desafio era fazer uma uma exposição concisa – afinal é para o espaço de uma casa, literalmente –, mas que apresentasse ao público as diferentes fases da obra do Hélio Oiticica: a primeira ainda com as investigações sobre o plano; a fase neoconcreta, dos trabalhos do Grupo Frente e dos Metaesquemas; e um Hélio que vai pouco a pouco ganhando espaço, ganhando as ruas, estabelecendo uma fusão entre arte e vida e assim por diante. De alguma maneira esses vários Hélios se encontram na mostra, em cerca de vinte trabalhos”, conta Duarte.

Bólide de 1964 que compõe a exposição (divulgação)

O público vai encontrar uma seleção dos guaches Metaesquemas, passando por alguns Bólides, caixas ou recipientes que continham materiais diversos que dariam ao espectador uma experiência sensorial pelo tato, olfato e a visão (mas que na mostra não podem ser tocados), até o penetrável PN (1961), que convida o público a entrar na obra e é o centro da exposição, além de dois parangolés, obras vestíveis para seu portador se tornar uma obra viva (um dos quais poderá de fato ser usado pelo público). Mas a cereja do bolo é a Cosmococa/CC4 Nocagions, em formato menor. 

“É uma versão inédita da Cosmococa 4 [CC4 Nocagions], que está em Inhotim, mas feita numa escala doméstica. Era um desejo expresso por Hélio Oiticica em escritos, e que nunca foi feito, uma Cosmococa 4 em versão doméstica. Inclusive, Neville d’Almeida, coautor da obra, está vindo finalizar a montagem hoje [sexta, 17/3], é uma Cosmococa muito, muito especial”, contou a curadora.

Penetrável PN 1 (1960-2020), obra que centraliza a exposição (divulgação)

“Se a mostra começa com obras que estão ligadas a quando o Hélio ainda era um aluno do Grupo Frente, os Metaesquemas, o penetrável, os parangolés, ainda temos essa obra já dos anos 1970, de quando o Hélio morava em Nova York, onde essa fusão entre arte e vida já se dava de uma maneira radical na experiência e na obra do artista, num diálogo com a cultura pop, com o cinema e assim por diante. A Cosmococa fecha esse conjunto já apontando para que o público entre em contato com essa última fase do Hélio Oiticica, além de celebrar a efeméride dos 50 anos”, ela finaliza. 

Cosmococas pelo mundo

Se para além da Cosmococa inédita a mostra promete uma experiência de contato intimista com todas as fases da produção do artista, um conjunto de 11 Cosmococas leva essa imersão ao extremo e ganha celebração de seu meio século no Brasil e EUA. 

Não por acaso, no dia 13 de março (segunda-feira), data oficial de aniversário da série de instalações, o Projeto Hélio Oiticica montou a Cosmococa/CC4 Nocagions na icônica piscina da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Com um telão envergando projeções de imagens da capa branca do livro Notations (1969) coberta por fileiras de cocaína e a execução de composições experimentais de Cage, a piscina ganhou iluminação especial e recebeu o público, que pode mergulhar literalmente na experiência. 

Cosmococa/ CC4 Nocagions na piscina da EAV Parque Lage dentro do projeto que comemora os 50 anos da série de instalações (divulgação)

Batizado Cosmococas – Programa in Progress, o projeto será realizado ainda em locais como Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (RJ), Casa Flávio de Carvalho (Valinhos, SP), Lisson Galery (Nova York), Hunter College (Nova York), The Mistake Room (Los Angeles) e Carcará Photo Arte (SP). 

Quem não quiser esperar pode ir ao Instituto Inhotim (MG) visitar o enorme pavilhão Cosmococa, dedicado a três instalações da série: Cosmococa/CC2 Onobject, em que as projeções nas paredes e a música de Yoko Ono convidam à dançar ou a deitar no chão de espuma; Cosmococa/CC5 Hendrix-War, onde o público pode levitar em redes ao som e imagens de Jimmy Hendrix; e à mesma Cosmococa/CC4 Nocagions, na versão completa, com piscina, como a montada no Parque Lage (tem até vestiário). A repórter que aqui escreve já nadou nas águas geladíssimas da versão de Inhotim e recomenda a experiência.

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