Quem é Pipilotti Rist, artista que inspirou Beyoncé e hoje tem obra exibida no Inhotim?

Uma das principais referências mundiais do vídeo, Pipilotti Rist acaba de inaugurar no museu mineiro obra que foi destaque da 51ª Bienal de Veneza

por Giovana Nacca
3 minuto(s)
Pipilotti Rist, “Open My Glade (Flatten)”(still), 2000

Elizabeth Rist nasceu em 1962, em Grabs, uma comuna da Suíça com cerca de 6.352 habitantes. O pseudônimo “Pipilotti” surgiu quando ela já estava fazendo suas primeiras criações artísticas, aos 24 anos, quando combinou seu apelido de infância, Lotti, com o primeiro nome da personagem de livros infantis Pippi Longstocking, da escritora sueca Astrid Lindgren.

Tendo estudado design e vídeo, o interesse de Rist pelas artes visuais sempre esteve acompanhado pelo da cultura de massa, especialmente a música. Em seu primeiro vídeo, “I’m Not the Girl Who Misses Much”, de 1986, ela já faz referência a uma das maiores bandas do mundo, os Beatles. Nas imagens desfocadas, ela dança e canta repetidamente o título da obra, uma variação de um verso de “Happiness Is a Warm Gun” do grupo britânico. Entre 1988 a 94, Rist integrou uma banda bastante performática chamada Les Reines Prochaines, onde sua paixão pela música e pela experimentação visual continuaram se estreitando.

Um de seus trabalhos de maior projeção no circuito foi “Pickelporno”, de 1992, para o qual Rist registrou um homem e uma mulher em um ato sexual. O título, que mistura as palavras “espinha” (pickel) e “pornografia” (porno) em alemão, se dá pelo tom cômico da obra, evidenciado pelos close-ups extremos que focalizam até os póros das peles dos retratados. Cenas de partes íntimas são emendadas com tomadas da natureza, explorando as imagens do corpo, em sua materialidade e beleza, como paisagens, sem necessariamente cair em clichês de erotismo.

Pipilotti Rist, “Ever Is Over All”, 1997

Em 1997, a artista se destacou na Bienal de Veneza com a obra “Ever Is Over All”, pela qual recebeu o Premio 2000. A instalação é composta por dois vídeos exibidos lado a lado: à esquerda, imagens psicodélicas de flores em um campo; à direita, uma mulher caminha sorridente pela calçada, quebrando janelas de carros com uma enorme flor. As cenas, não por acaso, podem soar familiares para quem já assistiu ao clipe de “Hold Up” de Beyoncé, onde a cantora se apropria do conceito de Rist.

Pipilotti Rist, “Homo sapiens sapiens”, 2004. Vista da obra no Inhotim. Crédito: Ícaro Moreno

No Brasil, Rist já expôs na 22ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1994, e, em 2010, recebeu uma retrospectiva de seu trabalho no MIS e Paço das Artes, também em São Paulo. Mas foi em 2004 que a história da artista cruzou as trilhas de Inhotim. Em 2004, o museu, com uma coleção de arte começando a ser formada e sem nem ter sido aberto ao público ainda, recebeu artistas de diferentes lugares para conhecer o espaço e produzir suas obras a partir disso. Pipilotti Rist foi uma dessas pessoas. Chegando no museu em Brumadinho, já preparada com câmera e produção, a artista gravou a obra “Homo sapiens sapiens”, que foi exibida no ano seguinte na 51ª Bienal de Veneza. Depois de duas décadas desde a concepção, a obra retorna agora para o Inhotim, sendo exposta na Galeria Fonte do museu. O espaço, com pufes espalhados pelo chão, nos convida a deitar e assistir ao vídeo projetado no teto. Com grandes dimensões e não tão distante de nós, a projeção imerge nossos corpos para uma dimensão que beira hipnótico. No centro dessa viagem onírica está Pepperminta – personagem que protagoniza outras duas obras da artista –, habitando as vegetações e se entregando às texturas, cheiros e gostos de corpo inteiro.

Pepperminta parece dissolver os limites entre corpo e paisagem com um senso quase infantil de descoberta. Há uma intensidade nos gestos – os dedos que tocam folhas molhadas, a boca que prova frutas e flores, a pele que sente calor. Nesse encontro edênico, vemos a celebração da vida no seu sentido mais puro, lembrando-nos daquilo de uma ideia tão primária, mas que constantemente esquecemos na vida pós moderna: nós, seres humanos, ainda somos natureza.

Pipilotti Rist, “Homo sapiens sapiens” (still), 2004.

O tempo parece derreter nas cores saturadas e movimentos lentos da personagem. E para recuperá-lo, voltar à realidade depois de sair da galeria, é preciso um longo intervalo. Ao caminhar pelo museu, o público se vê cercado pelo mesmo jardim que inspirou Rist. Ao caminhar pelo museu, o público se vê cercado pelo mesmo jardim que inspirou Rist, dando continuidade à experiência da obra e acrescendo uma camada poética à ela que não existia em sua exibição original de 2005.

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