É possível vestir uma obra de arte? Ou então seria possível fazer do vestuário arte? E quem sabe…contemplar a moda enquanto arte, dentro de coleções em museus? Quais são as possibilidades de diálogo e reflexão que o relacionamento entre Moda e Arte pode nos oferecer?
Apesar de encontrarmos alguns enroscos teóricos, que colocam a prova as possibilidades da moda ser interpretada como objeto de arte ou de contemplação artística, ao longo das décadas tanto artistas, quanto estilistas, conseguem fluir entre ambos os campos, promovendo trabalhos envolventes que capturam a atenção de ambos setores.
Um dos maiores agentes dos enlaços entre Moda e Arte, no Brasil, é justamente o MASP!
Desde a sua fundação, nos anos 1950, o MASP promove iniciativas que entrelaçam a moda e a arte. Em entrevista para o ARTEQUEACONTECE, o curador assistente do museu, Leandro Muniz, assinalou que o diretor fundador da instituição, Pietro Maria Bardi, junto da arquiteta Lina Bo Bardi, foram os responsáveis por inaugurar, por exemplo, a “Seção de Costumes”: uma coleção de indumentárias, composta inteiramente de doações, que recebem etiquetas assinadas por estilistas como Christian Dior, e até artistas como Salvador Dali.
Esse envolvimento, que parte do nascimento da instituição, cativou as paredes do museu e, com o passar do tempo, só cresceu. Já na década de 70, com 20 anos de existência, o MASP inaugura a coleção Rhodia, que nasce a partir de colaborações entre artistas e estilistas, passando a ser incorporada ao acervo do museu – que hoje possui cerca de 600 itens ligados à preservação da diversidade de vestuários.
Grande expressão dessa vontade de criar moda a partir da arte (e vice e versa, quem sabe…), a Rhodia uniu, no miolo do século XX, estilistas ilustres da História da Moda Brasileira, com artistas enigmáticos da cena nacional. Nomes como os de Denner Pamplona, José Nunes, Guilherme Guimarães, Marcílio Menezes e Rui Sphor, colaboraram com Alfredo Volpi, Burle Marx, Antônio Bandeira, Amélia Toledo e Manabu Mabe, para dar vida à peças em tecidos cujas estampas traziam temas e detalhes caricatos trabalhados nas obras de cada criativo selecionado pela empresa.
À época, todas as criações realizadas pela Rhodia – pioneira na introdução de fios e fibras sintéticas no Brasil – foram exibidas em desfiles, os quais também fizeram do MASP seus palcos. Durante a entrevista, Muniz detalhou que a grandiosidade dos fashion shows da RhodiaxMASP foi tamanha, que até mesmo artistas como Caetano Veloso e Rita Lee chegaram a tocar durante os eventos!
Pensando no compromisso que o MASP possui com a preservação da Moda, em 2017, o projeto criativo MASP Renner também nasceu como herança dessa relação entre Museu e Estilo, justamente para desafiar a ideia convencional de moda, apresentando peças criadas que debatem as possibilidades de uma roupa se tornar arte.
Contendo um quê dos aromas da antiga parceria do museu, cartão postal da cidade de São Paulo, com a Rhodia, a exposição (que vai ao ar nesta sexta-feira) possuiu curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e do próprio Leandro Muniz. A proposta visava convidar artistas contemporâneos para colaborar com estilistas da cena nacional, sugerindo essa reflexão sobre a roupa não apenas como documento histórico ou item autoral.
Sobre a parceria entre o MASP e a gigante do varejo fashion, Muniz revela que “as coleções desenvolvidas mostram uma gama de possibilidades. Nós vemos como esses limites e relações [entre roupas e corpos] são testados, as vezes mais conceitualmente, as vezes mais praticamente, pela impossibilidade do uso”.
Divergindo um pouco do projeto Rhodia, dos anos 70, a colaboração atual produz peças que na realidade foram produzidas diretamente para o acervo, sem usos ou circulação prévios.
“A roupa do museu é pensada em relação a escala e proporções do corpo – e também, que corpo é esse? – Acho que o vestuário implica uma série de convenções e normatividades sobre o corpo, e quando a roupa não se veste necessariamente nele, esses assuntos se tornam opacos, param de ser naturalizados e de repente, podem ser explorados como possibilidade, se tornando objetos de reflexão”, completa Leandro Muniz.
Durante 7 anos e 3 coleções inteiras confeccionadas, artistas como Randolpho Lamonier, Criola, Sônia Gomes e Ayrson Heráclito, colaboraram com os estilistas Vicenta Perrotta, Luiz Cláudio, Gustavo Silvestre e André Namitala, respectivamente, para criar diferentes artigos que dialogam com questões abordadas por artistas em suas obras, tentando estabelecer um ponto de encontro com os grandes nomes da moda brasileira – seja através de pautas sociais defendidas por ambos, ou até mesmo tecidos e cores abordados igualmente.
Sobre as parcerias realizadas dentro do MASP Renner, Leandro Muniz conta:
“Sempre tem um ponto de contato que passa pelos trabalhos. Seja pela forma, pela cor ou pelos assuntos… O Alexandre da Cunha e o Reinaldo Lourenço, por exemplo, têm elementos em comum: usam bastante franjas, seja em esculturas ou em roupas.”
Nesta sexta-feira, 22, a exposição dos figurinos criados pelo projeto MASP Renner será inaugurada, e fica aberta à visitação até dia 09 de junho de 2024, sendo entitulada “Arte na moda: MASP Renner”. A mostra será localizada no 2º subsolo do museu.
Pensando no fio condutor que se estabelece entre as roupas criadas ao longo do projeto MASP Renner, e as motivações artísticas estampadas nas vestes confeccionadas, separamos imagens para fazer um pequeno comparativo entre Arte e Moda. Confira abaixo alguns exemplos:
Serviço:
Arte na Moda: MASP Renner
Local: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – Av. Paulista, 1578
Período expositivo: Até 09 de junho de 2024
Ingressos: R$0 – 70