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Livro explora relação entre Tarsila, Oswald e a moda

Obra, que sai pela Companhia das Letras, refaz guarda-roupa modernista do casal a partir de pesquisas dentro e fora do Brasil

por Gabriela Valdanha

Foi durante a preparação para uma aula sobre indumentária brasileira no século 20, enquanto Carolina Casarin era professora de história do vestuário no Senai Cetiqt, no Rio, que a ideia do livro “O guarda-roupa modernista: o casal Tarsila e Oswald e a moda” surgiu. A obra
(R$ 109,90) sai agora pela Companhia das Letras e acompanha outras publicações da editora no centenário da Semana de 22. 

Capa "O guarda-roupa modernista", de Carolina Casarin, Cia. das Letras
Capa de ‘O guarda-roupa modernista’, de Carolina Casarin, ed. Companhia das Letras.

“A imagem da Tarsila com um vestido xadrez na Galeria Percier [Paris] — já tinha sido dito que era do [estilista] Paul Poiret— me chamou a atenção, mas também causou certo estranhamento. Fui então atrás da documentação e de outros arquivos que dessem mais pistas da relação da Tarsila com a moda”, afirma a autora. 

Tarsila do Amaral no vernissage na Galeria Persier, 7 jun. 1926; foto: Fundo Mário de Andrade, IEB-USP
Tarsila do Amaral no vernissage na Galeria Percier, 7 jun. 1926. Foto: Fundo Mário de Andrade, IEB-USP.

A primeira hipótese de Casarin, que é também editora, figurinista e pesquisadora, era que o casal Tarsiwald, como eram chamados por Mário, tivesse participado da produção do vestido que a artista usou em 1926 no vernissage de sua primeira exposição individual. 

“Além disso, sempre esteve no horizonte da minha pesquisa aprofundar a análise da construção desses personagens, quais significados estavam mobilizando na elaboração de suas aparências. Agora, por exemplo, sabemos e temos registros de que Tarsila aparece de Paul Poiret na maioria das fotos que conhecemos dela.” E o que isso significa? É o que Casarin busca desvendar nas páginas de seu livro. 

Casarin enfatiza, já no início, que a casa de alta-costura francesa capitaneada por Poiret era novidade no Brasil dos anos 1920, mas, de certa forma, démodé na França do mesmo período. O estilista estava ligado às vanguardas e era colecionador de obras de arte. “Expressa em termos de brasilidade, a semântica do ‘exótico’ na estética moderna se afina às criações da maison Poiret”, escreve. 

O projeto nasceu de sua tese de doutorado em artes visuais na UFRJ, realizada entre 2014 e 2020, período em que reuniu e cruzou documentos, peças de roupa, fotografias, pinturas, obras literárias e correspondências espalhados em arquivos, bibliotecas, centros de documentação e reservas técnicas no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Campinas, em Paris e em Londres.

Tarsila, ao lado de Oswald, veste o traje Righi, s.d. Foto: Fundo Aracy Abreu Amaral, IEB-USP
Tarsila, ao lado de Oswald, veste o traje Righi, s.d. Foto: Fundo Aracy Abreu Amaral, IEB-USP.

Em 2014, no início de seu doutorado, sua ideia era que a narrativa fosse guiada por mais um personagem: Mário de Andrade. As pesquisas que realizou em Paris, no entanto, foram cruciais para definir o casal e sua relação com a moda como fio condutor. 

“(…) As roupas contribuíram para o projeto artístico de elaboração de uma estética moderna e nacional, e a ideia de ‘brasilidade modernista’ se inscreveu na aparência e nos trajes do casal, seja pela atenção que eles dedicaram ao vestuário e à moda, seja pela maneira como os registros de suas roupas foram assimilados pelas narrativas sobre o modernismo de 1922”, explica na apresentação. 

Os trajes evocavam o modernismo da mesma forma que os trabalhos de Tarsila e Oswald eram influenciados pela moda. 

Em 1925, o poema Atelier, de Oswald, cujo primeiro verso diz “Caipirinha vestida por Poiret”, parece ser um prenúncio da Tarsila com o vestido xadrez na Galeria Percier no ano seguinte. “Quando analisamos a construção da aparência como se analisássemos uma obra de arte, buscando referências e significados, encontramos casos em que a evocação do modernismo é mais patente, como nesse exemplo. Parece que estão projetando a imagem da caipirinha vestida pelo estilista, como se fosse a materialização do verso. Por outro lado, o próprio Oswald evoca a moda em sua produção poética”, diz.  

O mesmo ocorre quando Tarsila escolhe o manteau rouge para fazer seu autorretrato em 1923. “Manto esse que talvez seja do [estilista] Jean Patou, ainda não temos a documentação que comprove. Esse quadro, que confunde corpo, fundo e roupa, também é uma forma de inserir a moda na construção do modernismo.” 

Autorretrato ou Le manteau rouge, 1923, Tarsila do Amaral. Coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
Autorretrato ou Le manteau rouge, 1923, Tarsila do Amaral. Coleção Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

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