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Conheça 10 curiosidades sobre Lina Bo Bardi

Primeira arquiteta brasileira consagrada com o prêmio Leão de Ouro, na Bienal de Veneza de Arquitetura, Lina tinha uma relação estreita com o mundo da arte

por Beta Germano

Poltrona Bowl, de Lina Bo Bardi
Poltrona Bowl, de Lina Bo Bardi

Uma das maiores arquitetas do Brasil, era italiana. Lina Bo Bardi foi uma figura essencial para a história da arquitetura, da arte e do design no país que ela adotou. Não à toa, este ano, ela se tornou a primeira brasileira consagrada com o prêmio Leão de Ouro, na Bienal de Veneza de Arquitetura que abre amanhã!  No discurso oficial,  o curador Hashim Sarkis ressaltou  a carreira de Lina como designer, editora, curadora e ativista lembrando do papel do arquiteto “como construtor de visões coletivas” e também ressaltou a capacidade de Lina em permanecer criativa, generosa e otimista o tempo todo. 

Lina estudou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma e ganhou certa notoriedade,  estabelecendo um escritório próprio em Milão. No entanto, durante a II Guerra Mundial enfrentou um período de poucos serviços, chegando a ter o escritório bombardeado em 1943!

Em 1946, ela casou-se com o jornalista Pietro Maria Bardi e, neste mesmo ano, em parte devido aos traumas da guerra e à sensação de destruição, veio para o Brasil, país onde acabou passando o resto da vida, naturalizando-se brasileira em 1951. Na mala, ela trouxe ideias modernistas que naquele período moviam artistas, curadores e patronos – eles já idealizavam instituições que iriam instigar e sacramentar a arte moderna brasileira e mundial como a Bienal de São Paulo e os MAMs de São Paulo e Rio de Janeiro. 

Apesar de se apaixonar pelo Rio, ela acaba morando em São Paulo e construindo sua famosa Casa de Vidro no Morumbi. Os Bardi tornam-se personagens constantes na vida intelectual do país, relacionando-se com personalidades diversas da cultura brasileira, como Ciccillo Matarazzo, Mario Pedrosa e Assis Chateaubriand – o último acabou convidando Lina para projetar a sede do museu que idealizava, o MASP. 

No final da década de 1970 executou mais uma obra que virou marco da arquitetura brasileira: o SESC Pompeia. O edifício que abriga incríveis exposições de arte e uma programação cultural intensa tornou-se uma forte referência para a história da arquitetura na segunda metade do século 20. Confira abaixo algumas curiosidades sobre essa mulher tão instigante e inspiradora! 

Revista Habitat, de Lina Bo Bardi
Revista Habitat, de Lina Bo Bardi

1.O primeiro emprego dela foi na Revista Domus 

Durante a década de 1930 ela se mudou para Milão, onde trabalhou para Giò Ponti, fundador de uma revista chamada Domus. Aqui no Brasil,  ela criou a icônica Revista Habitat com Pietro.  Editada por ambos entre 1950 e 1953, a publicação foi inovadora no campo do design gráfico e da crítica de arte e arquitetura no Brasil. Recentemente o Masp fez uma mostra procurou posicionar Lina como uma intelectual polivalente e multidisciplinar e uma verdadeira pensadora da cultura de seu tempo.

Lina Bo Bardi usando seu colar de águas-marinhas que foi roubado
Lina Bo Bardi usando seu colar de águas-marinhas que foi roubado

2.Ela amava joias, inclusive desenhou algumas

Se Marilyn Monroe tivesse conhecido Lina Bo Bardi, teria aprendido uma lição preciosa (no sentido puro da palavra): o melhor amigo de uma garota não é o diamante. Muito menos o ouro ou a pérola, mas as pedras de Minas Gerais. Desde os 6 anos, Lina colecionava pedras em seu estojo de pó de arroz. No Brasil, apaixonou-se pela experiência artesanal e, se tantos artistas já se deixaram seduzir pelo mundo da joalheria – desde Picasso até Tunga, passando por Anish Kapoor e Lucio Fontana –, com ela não foi diferente. 

Era inevitável, ainda, que Lina, apreciadora de tudo o que é essencialmente brasileiro, ficasse hipnotizada pelo colorido das nossas pedras: ela desenhou, então, em 1946, joias com as gemas tropicais…entre elas, estava um belo colar de cascata de águas-marinhas que foi roubado em 1986 do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. 

A mão do povo brasileiro, idealizada por Lina no Masp
A mão do povo brasileiro, idealizada por Lina no Masp

3.Ela amava arte popular!

Desde a temporada na Bahia, desenvolveu uma imensa admiração pela cultura popular, sendo esta uma das principais influências de seu trabalho. Inicia, então, uma coleção de arte popular. Desta forma, a base de seu trabalho estava no diálogo entre o Moderno e o Popular! 

A mão do povo brasileiro foi a primeira exposição temporária do recém-inaugurado prédio do MASP na Avenida Paulista. Organizada por Lina Bo Bardi (1914-1992), Pietro Maria Bardi (1900-1999), Glauber Rocha (1939-1982) e Martim Gonçalves (1919-1973), abriu ao público em 1969 e apresentou uma seleção de cerca de mil objetos da vasta cultura material do Brasil, desde as regiões do sertão do Nordeste até o Sul do país – buscando inserir a cultura popular – a produção do povo brasileiro – no domínio do museu de arte. Em 2016, o MASP fez uma nova exposição para homenagear a coletiva visionária de Lina. A nova montagem de A mão do povo brasileiro não propunha uma reconstrução exata, mas sim uma reencenação com adaptações, tanto na lista de trabalhos quanto em sua expografia, porém seguindo as diretrizes, tipologias e conceito da mostra original

Os icônicos cavaletes do MASP
Os icônicos cavaletes do MASP desenhados por Lina

4.Foi ela quem desenhou os cavaletes do MASP

Além de desenhar um museu maravilhoso e inovador colocando o MASP no mapa mundial da arquitetura e arte, Lina foi surpreendente também ao pensar sobre a expografia. Ela projetou os emblemáticos cavaletes com base de concreto e madeira e suporte de vidro permitindo que as obras sejam observadas por completo, numa volta de 360 graus.

Desprezados por 20 anos dentro do museu, eles voltaram a fazer parte da expografia oficial e hoje sustentam a exposição permanente do acervo do museu. “É uma forma muito radical e inovadora de expor pintura que recentemente foi recuperada por muita gente que estuda o assunto. Sem dúvida, este é um patrimônio do museu que deveria voltar, especialmente se considerarmos o modo convencional e conservador, e a má qualidade das últimas montagens”, declarou o arquiteto Martin Corullon, responsável pela revisão e aplicação do projeto de dar nova vida aos cavaletes. 

A escada do MAM da Bahia, desenhada por Lina, virou um marco da arquitetura brasileira
A escada do MAM da Bahia, desenhada por Lina, virou um marco da arquitetura brasileira
A escada foi ponto de referência para alguns trabalhos de Ivan Grilo
A escada foi ponto de referência para alguns trabalhos de Ivan Grilo

5.Ela foi a idealizadora da escada icônica do MAM Bahia 

No final dos anos 1950, aceitando um convite de Diógenes Rebouças, Lina vai para Salvador proferir uma série de palestras. É o início de uma temporada na Bahia, onde dirigiu o Museu de Arte Moderna e fez o projeto de recuperação do Solar do Unhão. Dona Lina, como os baianos a chamavam, permaneceu em Salvador até 1964 e lá projetou a escada caracol, talvez a mais icônica do Brasil! Tanto que o artista Ivan Grilo chegou a criar uma exposição inteira inspirada pela escada espiral e o movimento de girar em torno de si. 

A luminária da Casa de Vidro foi reeditada
A luminária da Casa de Vidro foi reeditada
Lina Bo Bardi desenhou até uma maçaneta
Lina Bo Bardi desenhou até uma maçaneta

6.Desenhou muitas peças de design: de poltronas, passando por luminárias, até maçanetas! 

Além de uma arquiteta e pensadora brilhante, Lina desenhava peças de design que também tornaram-se ícones. Aliás, recentemente essas peças viveram um boom internacional e atingiram preços exorbitantes por aqui. Entre os projetos mais amados e desejados, está a poltrona Bowl, que ganhou reedição limitada coordenada pela empresa italiana Arper em 2015. Ela também fez uma luminária maravilhosa que hoje fica na cozinha de sua Casa de Vidro. O pendente LBB01, desenhado para uso pessoal, é a primeira luminária da arquiteta ítalo-brasileira produzida para o público. Em 2017 ela foi reeditada pela Lumini. Ela desenhou outros móveis que amamos e criou até uma maçaneta, reeditada pela empresa inglesa Izé em 2013! Lina só não desenhou sofás porque odiava o móvel…ela gostava de festas e acreditava em ambientes mais dinâmicos, com cadeiras, poltronas e bancos, que instigavam o diálogo e a sociabilidade. 

Lina chegou a fazer um projeto para uma sede do MASP em Sao Vicente, no litoral de São Paulo
Lina chegou a fazer um projeto para uma sede do MASP em Sao Vicente, no litoral de São Paulo

7. Ela desenhou um projeto para um museu no litoral que nunca foi construído 

Em 1951 ela chegou a projetar uma sede para o Masp em São Vicente, no litoral de SP. A ideia era construir um museu à beira do mar todo aberto, no qual arquitetura e paisagem se integram num só corpo. O projeto não foi realizado por falta de verba ( quem sabe um dia!), mas virou base da Casa de Vidro, obra-marco na carreira de Lina. 

Eames House
Eames House
Johnson House
Johnson House
Casa de Vidro da Lina Bo Bardi
Casa de Vidro da Lina Bo Bardi
Farnsworth House
Farnsworth House

8. A sua casa faz parte de um grupo das casas modernistas icônicas do mundo

A sua famosa Casa de Vidro, projetada em 1951 e onde hoje funciona  a sede do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, faz parte da Getty Foundation que unifica várias casas de vidro assinadas por arquitetos relevantes pelo mundo. Ao lado de Lina, estão a The Eames House, idealizada por Charles e Ray Eames em 1949; a Farnsworth House, construída por Ludwig Mies van der Rohe entre 1945 e 1951; e, a The Glass House criada por  Philip Johnson entre 1948 e 1949. Se você mora ou vai visitar São Paulo, não deixe de agendar uma visita. 

9. Ela era muito amiga de Rubens Gerchman

Lina era amiga de muitos artistas, em especial de Rubens Gerchman. Não à toa, ela o convidou para desenhar os azulejos da piscina do Sesc Pompéia!

Lina e seus gatos
Lina e seus gatos

10. Ela era apaixonada por gatos!

Lina era apaixonada por gatos e chegou a ter 22 felinos passeando pela Casa de Vidro. O nome deles? Reza a lenda que os gatos eram chamados de “gatos”. A Lina chamava o Bardi de “gato elétrico”. Portanto todos eram seus gatos. Depois de um tempo um caseiro batizou as fêmeas de “Mucca”, a última gata descendente dessa turma vive até hoje mas está velhinha e tem complicações no rim.

Uma das fotos mais famosas de Lina na escada de sua Casa de Vidro
Uma das fotos mais famosas de Lina na escada de sua Casa de Vidro

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