Com quase 50 % da população vacinada, os norte-americanos começam a ver uma luz no fim do túnel pandêmico e os museus voltam a celebrar a arte “tirando o atraso” da programação. Listamos sete exposições que merecem sua atenção agora e nos próximos meses.
Retrospectiva da Judy Chicago em São Francisco
Conhecida pela instalação Dinner Party, de 1971-79, onde celebra várias e interessantes mulheres da história, Judy Chicago é um ícone da arte feminista do pós-guerra. No entanto, foram poucas as mostras que mergulharam profundamente em sua obra. Mas a retrospectiva do De Young Museum promete uma reparação histórica: irá incluir cerca de 150 obras que abrangem a carreira da artista, desde seu envolvimento inicial com os movimentos minimalistas, que pesquisavam luz e espaço na década de 1960, até a exploração das imagens femininas nas décadas de 1970 e 1980. Será possível ver, também, a série mais recente, The End: Meditation on Death and Extinction – um ciclo de pinturas em vidro, cerâmica e bronze em que Chicago considera sua própria mortalidade ao lado do destino de outras espécies ameaçadas de extinção.
Onde? De Young Museum, em São Francisco
Quando? De 28 de Agosto de 2021 até 9 de Janeiro de 2022
O Museu de Arte Moderna de São Francisco apresenta, até o dia 3 de outubro, a maior retrospectiva de um dos mais notáveis artistas da Coréia do Sul, Nam June Paik. A exposição, com mais de 200 obras, celebra sua prática multidisciplinar e colaborativa que englobou artes plásticas, música, performance e tecnologia, tudo em diálogo com filosofias e tradições das culturas oriental e ocidental.
Inovador, irreverente e divertido,Paik previu a importância da mídia de massa, das novas tecnologias e vislumbrou o futuro da comunicação na era da internet. Organizada por tema, a exposição reunirá muitos dos trabalhos mais icônicos e provocativos como TV Buddha, de 1974, composto por um Buda de madeira do século 18 que parece assistir a si mesmo em uma televisão moderna para a época – vale lembrar que ele unia , influência das filosofias zen budistas à abordagem de arte e tecnologia. Outro trabalho notável é TV Garden, de 1974–77, uma instalação envolvente com dezenas de aparelhos de TV “mergulhados”em uma densa folhagem, o que cria uma paisagem futurista onde a tecnologia é parte integrante do mundo natural.
Organizada por SFMOMA e Tate Modern, Londres, com apresentações adicionais no Stedelijk Museum Amsterdam e na National Gallery Singapore, a retrospectiva será a primeira grande exposição de Paik nos Estados Unidos em mais de 20 anos e o primeiro levantamento em grande escala de seu trabalho na costa oeste.
Onde? SFMOMA, em São Francisco
Quando? Até 3 de outubro de 2021
Os padrões e cores espetaculares que aparecem nas pinturas e gravuras de Firelei Báez evocam uma cultura visual fundamentalmente híbrida que nasce com a diáspora africana. Para a instalação encomendada pelo Institute of Contemporary Art de Boston, a artista dominicana imagina o processo de explorar a história cultural como uma escavação literal
A site-specific monumental sculpture evokes the ruins of the Sans-Souci palace—the residence of post-revolution Haiti’s first and only monarch—while textile patterns and various insignias on the structure and throughout the installation allude to Boston’s historical role as a trade center, immigration hub, and site of international exchange. A estrutura da escultura monumental criada para o museu evoca as ruínas do Palácio de Sans-Souci – residência do primeiro e único monarca do Haiti pós-revolução – enquanto os padrões e a várias insígnias retomam o papel histórico de Boston como um centro comercial e, consequentemente, da imigração, tornando-se um local de intercâmbio internacional.
Onde? Institute of Contemporary Art Boston, em Boston
Quando? De 3 de julho até 6 de setembro de 2021
Born in Flames: Feminist Futures em Nova York
Se o tempo é líquido, decorrendo como alguma criatura fluida, nosso futuro requer canalização contra correntes opressivas. É preciso revirar as concepções de justiça, moral e esperança para traçar caminhos que nos levarão a realidades alternativas – só assim, afinal, será possível sobreviver. Nascer em chamas é partir em direção a um futuro radical.
É isso que sugerem os artistas apresentados na coletiva Born in Flames: Feminist Futures. em cartaz no Bronx Museum of the Arts em Nova York. Curada por Jasmine Wahi, a mostra reúne quatorze artistas não binários e identificados por mulheres – incluindo Lizzie Borden, Caitlin Cherry, Chitra Ganesh, Firelei Báez, María Berrío, Sin Wai Kin, Tourmaline e Wangechi Mutu – unificadas por um desejo compartilhado por justiça,evocando realidades que respondem às feridas infligidas pelo capitalismo e pelo patriarcado.
Na exposição, é possível ver uma projeção do documentário Born in flames, de Lizzie Borden, lançado em 1983, um clássico cult feminista. O filme, que dá nome à exibição, segue assustadoramente relevante ao tratar de lutas por uma justiça social que combate a brutalidade policial, sexismo e transfobia. Vale destacar a pintura de Báez: um corpo fluido e engajado, um oceano – senão uma galáxia – de pigmentos que se agitam dentro da figura dinâmica, poderosamente posicionada no topo de um mapa da Ilha de São Domingos.
Muitos trabalhos ecoam a compreensão de uma sensibilidade imaterial. Em Salacia, curta-metragem de Turmalina,” o tempo é transformado em espaço, ao reimaginar a vida de Mary Jones, uma mulher trans da vida real que viveu em Seneca Village em Nova York no século XIX. Como Jones nos lembra, repetidas vezes nos momentos finais do filme, “podemos ser o que quisermos”.
Onde? Bronx Museum of the Arts em NY
Quando? Até 21 de setembro de 2021
A artista americana Christina Quarles pinta corpos que estão sujeitos não apenas ao peso e à gravidade do mundo físico, mas também aos prazeres e pressões do reino social. Suas cenas ambíguas e evocativas apresentam figuras cujos membros, torsos e rostos colidem e se fundem com objetos domésticos familiares tornados estranhos por suas escolhas de cores e gestos pictóricos experimentais. Seu trabalho explora a experiência universal de existir dentro de um corpo, bem como as formas como raça, gênero e sexualidade se cruzam para formar identidades complexas. Maior apresentação da sua obra até hoje, a exposição no MCA reúne uma seleção de obras feitas pela jovem artista nos últimos três anos, além de uma nova instalação de grande dimensão que explora ilusões e histórias da pintura.
Onde? Museum of Contemporary Art, em Chicago
Quando? Até 5 de setembro de 2021
Retrospectiva da Hannah Wilke em St. Louis
Composta por cerca de 100 itens, a retrospectiva Art for Life’s Sake abrange toda a carreira de Hannah Wilke, incluindo muitas obras conhecidas ao lado de outras não exibidas anteriormente. Uma das mais importantes artistas feministas dos EUA, Wilke dedicou o trabalho de sua vida ao corpo feminino, enfatizando suas capacidades de sensualidade e vulnerabilidade. Muitas vezes, ela usava seu próprio corpo em fotos, vídeos e performances, mas também esculpia partes da anatomia feminina usando goma de mascar, chocolate, látex ou couro. Os últimos trabalhos incluem uma série de delicadas formas biomórficas que Wilke fez com papel cortado na década de 1960, bem como modelos e desenhos para esculturas públicas não realizadas.
Onde? Pulitzer Arts Foundation, em St. Louis
Quando? Até 16 de janeiro de 2022
Retrospectiva de David Driskell, em Portland
Quando David C. Driskell morreu de COVID-19 em abril de 2020, muitos enfatizaram sua carreira como curador e estudioso da arte afro-americana, especialmente por causa da lendária exposição “Two Centuries of Black American Art: 1750–1950,” que aconteceu em Los Angeles County Museum of Art, de 1976 – você poderá entender melhor esse marco para a história da arte afro-americana assistindo o documentário Black Art: In the Absence of Light, lançado esse ano pela HBO. Mas Driskell também tem um potente trabalho artístico! Apresentada no High Museum of Art, em Atlanta, pouco antes do aniversário de um ano de sua morte, “David Driskell: Ícones da Natureza e História” é a primeira grande pesquisa do artista. A partir do dia 19 de junho abrirá no Portland Museum of Art antes de viajar para a Phillips Collection, em Washington.
Na época em que montou “Two Centuries”, ele havia passado quase vinte anos estudando alguns dos sessenta e três artistas da exposição – Elizabeth Catlett, Selma Burke e Hale Woodruff entre eles – e desenvolvendo sua própria estética para revelar sua perspectiva sobre a cultura negra: criava colagens misturadas à formas do mundo natural e às geometrias planas da iconografia africana e bizantina. Com quase sessenta pinturas e trabalhos em papel, a exposição revela como Driskell articulava e expunha as preocupações culturais e políticas mais amplas dos negros americanos durante a segunda metade do século 20: do movimento dos direitos civis à estética do pan-africanismo; do Movimento das Artes Negras à influência contínua da Bíblia e da Igreja Negra.
Destaque para Behold Thy Son, de 1956, onde o artista retrata a crucificação de Emmett Till, que ocorreu um ano antes no Mississippi, onde Driskell estava morando com sua família. A figura esquelética central da tela é semelhante a Cristo, mas com um rosto mutilado revela que o artista chamava a atenção para o brutal assassinato de Till. As mãos de uma figura sombria no fundo emergem para abraçar maternalmente a cintura do sujeito central, evocando uma pietà.
Onde? Portland Museum of Art, em Portland / Phillips Collection, em Washington
Quando? De 19 de junho de 2021 até 12 de setembro de 2021