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Coletiva no New Museum aborda a história do luto negro do país

Inicialmente idealizada por Okwui Enwezor, a mostra “Grief and Grievance: Art and Mourning in America” apresenta trabalhos de 37 artistas que mostram como a arte pode reagir à epidemia de violência contra os negros norte-americanos

por Beta Germano
Glenn Ligon
Glenn Ligon

“É difícil pensar nessa exposição sem sentir nosso próprio luto perante a morte de Okwui Enwezor”, declarou o artista Theaster Gates numa conversa on-line promovida pelo New Museum em torno da exposição que abre hoje, dia 17 de fevereiro, Grief and Grievance: Art and Mourning in America. A coletiva foi idealizada pelo curador nigeriano pouco antes de sua morte em 2019 e conduzida pelos curadores Massimiliano Gioni, Naomi Beckwith, além dos artistas Mark Nash e Glenn Ligon. 

Na fachada do museu, é possível ver em neon as palavras “blues blood bruise”( blues, sangue e hematoma) : estas palavras foram ditas por um jovem negro, Daniel Hamm, em 1964, quando ele e seu amigo Wallace Baker, foram presos em Nova York por um crime que não cometeram e sofreram brutalidade policial. A instalação, idealizada por Ligon, já anuncia o tema proposto por Enwezor – o luto norte-americano a partir da violência racial é exposto por meio de obras de arte criadas desde os anos 1960 até os dias de hoje.

Kerry James Marshall
Kerry James Marshall

Tudo começou em 2018 quando Enwezor organizava uma série de palestras na Universidade de Harvard em torno do luto negro e do nacionalismo branco na América. O próprio Massimiliano sugeriu transformar a pesquisa numa exposição. “Enwezor queria abrir a exposição na mesma época das eleições presidenciais americanas de 2020, como um clamor pela democracia sob o governo Trump“, ressaltou o curador italiano que acompanhou o processo de elaboração da mostra até os últimos dias do nigeriano. “Ele já tinha tudo definido, o conceito geral e a lista de obras. A situação era insustentável muito antes do assassinato de George Floyd e ele estava vendo isso”, completa. 

Os momentos da ação política ligados ao luto na história americana são representados pelas obras de artistas como Kara Walker, Lorna Simpson, Hank Willis Thomas, Mark Bradford, LaToya Ruby Frazier, Simone Leigh e Arthur Jafa. Um dos destaques é a tela Untitled (policeman), pintada em 2015 por Kerry James Marshall, que mostra um policial negro sentado em sua viatura – a obra foi feita numa época em que assassinatos de homens, mulheres e crianças negros desarmados estavam aumentando em todo o país.

Julie Mehretu
Julie Mehretu
Garrett Bradley
Garrett Bradley

Vale conferir, ainda, o curta-metragem Alone, da cineasta Garrett Bradley, que inclui conversas entre mulheres que têm parentes encarcerados. Outra obra importante é a vídeo-instalação Gone Are the Days of Shelter and Martyr, criada por Gates para a 56th Venice Biennale, curada por Enwezor. O filme foi feito dentro de uma igreja demolida no lado sul de Chicago para mostrar a falta de investimento em infraestrutura urbana onde é mais necessária.

Theaster Gates
Theaster Gates

Entre os trabalhos históricos, vale destacar a pintura Birmingham, feita em 1964 por Jack Whitten em resposta ao bombardeio da 16th Street Baptist Church no ano anterior, retratando um buraco negro à la malevich. Ao fundo, no entanto, é possível ver um recorte de jornal que se refere ao incidente. “É interessante notar que Andy Warhol estava usando as mesmas imagens para criticar a mídia de massa e a banalização da imagem. Whitten, no entanto, estava olhando para o evento como alguém de dentro, que sofre fortemente”, ponderou Beckwith. “Na obra de Whitten, ele viu como a abstração nos ajuda a lidar com a violência, envolvendo imagens violentas demais para serem vistas”, disse Gioni. “Não é para suprimir imagens traumáticas, mas para curá-las, torná-las mais poderosas para novos fins políticos.”

Enwezor costumava dizer que a dor negra havia sido uma emergência nacional por muitos anos. E que muitos artistas abordaram isso em seus trabalhos de forma consistente.  Beckwith alerta, no entanto,  que a mostra não gira em torno do espetáculo da dor, mas busca relacionar-se de uma forma mais sutil com a tristeza, perda e luto. “Imagens da violência contra corpos negros no ano passado foram compartilhadas nas redes sociais”, disse Gioni. “Okwui Enwezor perguntou:‘Como essas imagens podem circular e fazer parte da arte sem cair na exploração da dor negra?”, completa.

Dawoud Bey
Dawoud Bey

Arthur Jafa
Arthur Jafa

Mais um trabalho que vale sua atenção? A pintura Black Monolith for Okwui Enwezor foi finalizada por Julie Mehretu no dia em que ela soube da morte de Enwezor. Entre seus escritos para a mostra, o nigeriano anunciou: “Com a normalização do nacionalismo branco pela mídia, os últimos dois anos deixaram claro que há uma nova urgência em avaliar o papel que os artistas desempenharam para iluminar os contornos marcantes do corpo político americano”. Gates concorda: “Em alguns momentos é preciso, inclusive, largar o pincel e ir para as ruas”. De uma forma ou de outra, os artistas têm o poder de transformar pessoas. Por que não mudar sistemas inteiros?

Grief and Grievance: Art and Mourning in America

Data: 17 de fevereiro até 6 de junho

Local: New Museum

jack whitten
Jack Whitten
Daniel LaRue Johnson
Daniel LaRue Johnson

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