Thom Browne, Edgar Allan Poe e artistas visuais que se inspiraram no poeta para criar

O estilista norte-americano marcou o New York Fashion Week com um desfile inspirado no escritor. Conheça artistas que também elaboraram trabalhos contagiados por Poe.

por Julia Cachapuz
4 minuto(s)

O ano começa com tons fantásticos e até mesmo… sombrios. Afirmando toques mais obscurecidos, o filme Pobres Criaturas – aclamado por sua estética surrealista – estreou 2024 garantindo seu lugar nos corações dos amantes das artes e da moda, no mesmo período em que o indie sleeze e a trend da Messy Girl conquistaram seu território na disputa de tendências, com visuais despojados que priorizam cores mais densas.  

O norte-americano, Thom Browne, encerra no NYFW com desfile totalmente inspirado por Edgar Allan Poe | Imagem: Vogue France/Taylor Hill

Em marcha cálida, o estilista Thom Browne também fez sua estreia sob o contexto médio-gótico que paira nesses primeiros meses de 2024, entregando à plateia do Nova York Fashion Week um desfile totalmente inspirado no notório poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe – grande referencial literário do Romantismo no século XIX. 

Browne trouxe 50 looks sob um cenário invernal e homenagens à obra, que canta as dores de um amante que lamenta a perda de sua amada e, de repente, recebe a visita de um corvo que repete incansavelmente: “Nunca mais! Nunca mais!” (em inglês, Nevermore).

EDGAR ALLAN POE: PERSONALIDADE DA LITERATURA ROMÂNTICA GÓTICA 

O escritor da segunda geração romântica estadunidense, Edgar Allan Poe | Imagem: Wikimedia Commons

Figura icônica na literatura estadunidense, Edgar Allan Poe foi um escritor e poeta do século XIX, que marcou o movimento literário romântico com contos sombrios e poesia de temáticas tenebrosas.

Nascido em 1809, Poe teve uma vida marcada por tragédias que, por vezes, serviram de inspiração para seus escritos. Algumas de suas obras mais famosas são “O Corvo”, “O Gato Preto” e “O Poço e o Pêndulo”, que pautam o horror e o sobrenatural. 

Sendo Poe uma figura tão emblemática para a cena cultural, não é só Thom Browne que busca refúgio em suas contribuições para a literatura. Pintores notórios do século XIX, como Manet e Gauguin também se inspiraram pelas palavras sombrias do poeta, que reverberam nas artes visuais até hoje. Embalados pela onda tenebrosa do ícone da segunda geração romântica, aliado ao desfile cheio de riquezas estéticas de Thom Browne, separamos alguns dos artistas visuais que já trabalharam com referências a Edgar Allan Poe. 

MANET 

Ilustração do poema “O corvo”, realizada por Manet | Imagem: The Internet Archive

O impressionista foi um dos principais artistas a ilustrar uma das primeiras traduções de “O Corvo”, na França. Manet executou gravuras, feitas em traços escuros e sombrios, que mostram o narrador do poema como o jovem Mallarmé (escritor responsável pela tradução da obra no país).

Apesar da grandeza dos envolvidos no trabalho, informações fornecidas pela Biblioteca Pública de Nova York revelam que “a publicação não foi um sucesso comercial”.

GAUGUIN 

A obra “Nevermore”, de Paul Gaugin | Imagem: Wikimedia Commons

Em sua segunda estadia no Tahiti, o artista retratou uma Pahura nua, isto é, sua esposa adolescente, deitada em uma cama localizada dentro de uma cabana, onde ao fundo, é possível notar a figura de um corvo e duas figuras humanas indefinidas. O título da obra “Nevermore” aparece no canto superior esquerdo, e a presença de um corvo na janela da tenda, denunciam a clara inspiração de Edgar Allan Poe. 

JANET CARDIFF E GEORGE BURES MILLER

O casal de artistas canadenses também faz referência ao poeta em sua instalação “The Murder of Crows”. A performance é composta por uma “floresta” de 98 alto-falantes que reproduzem sons distintos – desde uma narração de histórias macabras contadas pela própria Janet, até sons de óperas e correntes se arrastando.

DAMIEN HIRST  

Instalação de Damien Hirst inspirada pelo conto “The Startling Effects of Mesmerism on a Dying Man” | Imagem: Stephen White & Co

Convidado a participar da exposição “You dig the tunel, I’ll hide the soil” pelo artista e escritor Harland Miller, Damien Hirst criou uma instalação composta por uma tela psicodélica e uma cama pintada, com um corvo pousado na cabeceira, baseado no conto “The Startling Effects of Mesmerism on a Dying Man”, de Edgar Allan Poe. A mostra aconteceu no London’s White Cube, Hoxton Square, e propunha aos artistas convidados que construíssem peças exclusivas a partir de contos do poeta, que foram distribuídos para cada um.

 

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