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David Zwirner organiza exposições, em Nova York e Londres, para lembrar a história do HIV

Galeria apresenta trabalhos de Ching Ho Cheng, Derek Jarman, Frank Moore, Mark Morrisroe, Jesse Murry, Marlon Riggs, Hugh Steers e coletivo Silence=Death

por Beta Germano
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Mark Morrisroe
Mark Morrisroe

Em junho de 1981, os Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos relataram pela primeira vez o que viria a ser conhecido como AIDS. Para marcar o quadragésimo aniversário deste relatório, a David Zwirner organizou More Life, uma série de exposições individuais para destacar artistas que abordaram o assunto e cujas vidas foram interrompidas por complicações relacionadas ao HIV / AIDS durante aproximadamente os primeiros vinte anos daquela epidemia. Vale lembrar que nesse primeiro momento o vírus foi tachado como “câncer gay”,  intensificando a discriminação que muitos já enfrentavam diariamente. A primeira parte da mostra abriu esse mês, em Nova York, e a segunda parte vai abrir em setembro, nas sedes da galeria de Nova York e de Londres. 

Trata-se de uma busca por explorar respostas afetivas, estéticas, pessoais e políticas à crise que ainda persiste – novas infecções por HIV continuam a impactar cerca de 1,7 milhão de pessoas anualmente em todo o mundo. Entre os artistas contemplados nas duas partes da mostra, estão Ching Ho Cheng, Derek Jarman, Frank Moore, Mark Morrisroe, Jesse Murry, Marlon Riggs, Hugh Steers e o coletivo Silence=Death. Conheça, abaixo, o trabalho de três deles. 

Blue, de Derek Jarman
Blue, de Derek Jarman

Derek Jarman

O artista britânico, Derek Jarman recebeu o diagnóstico de HIV positivo em 1986. Em 1992, ele apresentou 70 pinturas em sua individual na Manchester City Art Galleries, atestando seu envolvimento crítico com a interseção de arte, ativismo e AIDS. O título da mostra, Queer, desafiava abertamente a lei da Seção 28, da era Margaret Thatcher, que proibia a “promoção” da homossexualidade.  No ano seguinte, em 1993, Jarman estreou o filme Blue, na Bienal de Veneza. O artista morreu oito meses depois, em 19 de fevereiro de 1994, aos 52 anos. 

Ambos os trabalhos,  presentes na mostra, evidenciam a resposta iconoclasta de Jarman ao seu diagnóstico de HIV, seu confronto com sua própria mortalidade e o clima sociopolítico mais amplo da crise de HIV / AIDS. Blue foi feito depois que uma infecção relacionada à AIDS deixou Jarman temporariamente cego. Posteriormente, em decorrência de lesões descobertas em seus olhos, o artista sofreu com flashes de luz azul que interrompiam sua visão. No filme de 75 minutos, uma tela com o “International Klein Blue”, de Yves Klein,  aparece acompanhada de uma trilha, e vozes que trazem textos escritos pelo artista do hospital. 

O filme rejeita as imagens porque, segundo a artista, “atrapalham a imaginação e imploram uma narrativa, além de sufocar o charme arbitrário, a admirável austeridade do vazio”. Blue não apenas relata as experiências corporais de Jarman com o vírus, mas também exige que os espectadores meditem visceralmente sobre a cor, o vazio e a experiência somática de viver com AIDS.

Tongues Untied,  de 1989, de Marlon Riggs
Tongues Untied, de 1989, de Marlon Riggs

Marlon Riggs

Como estudante em Harvard, na década de 1970, Marlon Riggs se interessou em explorar no cinema o racismo e a homofobia, desenvolvendo um estilo próprio muito rapidamente. Membro de um coletivo chamado Other Countries, que reunia scritores negros gays, ele dedicou sua vida e carreira a interrogar a política de representação e os sistemas interligados de opressão na cultura e na política americana. 

É conhecido pelo filme Tongues Untied , um trabalho feito sobre e feito para homens negros gays. Montado como uma espécie de colagem, Tongues Untied  não apenas desconstrói representações de homens negros e gays, mas também constrói novas, dando voz e visibilidade à uma rica pluralidade de vidas e experiências.Nas palavras de Riggs, ele foi “motivado por um imperativo singular: quebrar o silêncio brutalizante desta nação em questões de diferença sexual e racial.”

Riggs reinventa, ou até abandona, o gênero documentário usando a fragmentação visual e auditiva, se valendo de mudanças tonais – o que ajudou a manter a estrutura poética rítmica do filme. Convidou dançarinos e poetas para colaborar com o filme que conta com uma sequência de voguing com figuras importantes da cena local, como Willi Ninja, que mais tarde apareceria em Paris Is Burning

Apesar da recepção entusiástica da obra em festivais internacionais de cinema, Tongues Untied envolveu-se em intensos debates públicos sobre censura e financiamento federal nas artes que dominaram o discurso público no final dos anos 1980 e no início dos anos 1990 – o trabalho teve apoio do National Endowment for the Arts e foi transmitido em um canal de financiamento público. Marlon Riggs morreu  em 1994, na Califórnia, aos 37 anos, antes de completar Black Is … Black Ain’t. O longa seria concluído postumamente e lançado no ano seguinte.

Hugh Steers
Hugh Steers

Hugh Steers 

Investindo num ardente estilo figurativo considerado démodé durante sua vida, o pintor Hugh Steers foi um marco da pintura americana na era da AIDS. Inspirado por nomes como Edward Hopper e Thomas Eakins, e mestres franceses como Édouard Vuillard e Pierre Bonnard, ele criou composições clássicas com proximidade emocional, representando a comunidade queer que seria atingida pela virada devastadora da epidemia.

O artista foi diagnosticado com HIV em 1987, aos 25 anos de idade, e continuou a criar um trabalho que ilustrou os espaços físicos e psíquicos da doença, além da compaixão compartilhada entre seu círculo que serviu como um bálsamo para a negligência generalizada.Seus retratos expressionistas e realistas relatam sentimentos de anseio, isolamento e tristeza, homenageando anônimos da cena drag do centro de Nova York e os entes queridos perdidos.

More Life

Data: Junho de 2021 ( parte 1) ; setembro de 2021 ( parte 2)

Local: David Zwirner 

Marlon Riggs
Marlon Riggs
Hugh Steers
Hugh Steers

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