Conhecido por suas vibrantes pinturas figurativas focadas nas experiências dos negros americanos, na vida diária no Harlem e nos eventos da história dos Estados Unidos, Jacob Lawrence é um dos pintores mais famosos do século 20. Sua série mais aclamada, Struggle: From the History of the American People, pintada entre 1954 e 1956, é composta por 30 pequenos trabalhos extremamente sensíveis e radicais para a época: ele destaca eventos históricos como George Washington cruzando o Delaware, durante a Revolução Americana; o Massacre de Boston de 1770; a Batalha de Bennington de 1777 e muito mais – sempre centrando as experiências e perspectivas de soldados negros, grupos indígenas, mulheres e outros.
Lawrence via o mundo em padrões de cores brilhantes e formas simplificadas, essenciais, sem perspectiva. “O detalhe é suprimido, exceto onde funciona tanto como parte do projeto quanto como parte básica do fato”, descreveu Aline B. Louchheim quando seu trabalho foi apresentado no MoMA em 1944. “As pinturas diretas, desprovidas de amargura ou exagero, são reflexos da sinceridade e honestidade do homem”, completa. Apesar de ser reconhecido pelas cenas de cunho social e crítico, quando foi convidado para dar aula de pintura no icônico Black Mountain College, por Josef Albers, em 1946, declarou: “Quando ensino, sou definitivamente descendente da Bauhaus. Eu não enfatizo o conteúdo, mas a compreensão dos elementos plásticos, abstratos. É importante estar ciente do que você pode fazer com eles.”
Nascido em 1917 em Atlantic City, Nova Jersey, Lawrence mudou-se para o Harlem aos 12 anos com sua mãe após a separação de seus pais. Logo começou a pintar, tendo aula no Utopia Children ‘s Center, no Harlem, que na época era dirigido por Charles Alston – o artista escreveria mais tarde que Lawrence “é particularmente sensível à vida ao seu redor; a alegria, o sofrimento, a fraqueza, a força das pessoas que ele vê todos os dias”.
Ingressou no programa do New Deal – entre 1933 e 1945, algumas produções artísticas foram financiadas oficialmente pelo governo de Franklin D. Roosevelt – para o qual trabalhou no interior do estado de Nova York. Quando voltou para o Harlem, se envolveu com o Harlem Community Art Center, onde conheceu a escultora Augusta Savage, que dirigia a organização. Suas primeiras pinturas já tinham figuras históricas como protagonistas. Em 1937, por exemplo, fez uma série de 41 painéis focada no revolucionário haitiano Toussaint L’Ouverture. Desta época há, ainda, pinturas de Frederick Douglass and Harriet Tubman.
No ano seguinte ele começa a trabalhar no WPA Federal Art Project e mostra suas primeiras pinturas de cenas de rua no Harlem YMCA. De 1940 a 1941, o artista trabalhou na série Migration, uma obra-chave na história da arte moderna norte-americana que compreende 60 painéis de pequena escala e narra a migração de negros americanos do sul para as cidades do norte durante a primeira metade do século 20.
A série expõe o contexto social, político, econômico e ambiental que contribuíram para essas migrações, detalhando a jornada para o norte e as condições de trabalho e de vida em cidades como Chicago e Pittsburgh.As obras retratam a violência e a discriminação dirigidas aos negros norte-americanos nas regiões sul e norte dos EUA e concluem com a imagem de uma plataforma ferroviária lotada com a descrição “E os migrantes continuaram chegando”.
Em 1944, Lawrence apresentou uma exposição individual de pinturas no MoMA. Entre 1954 e 1956, ele pintou Struggle: From the History of the American People e, a partir dos anos 1960, participou de inúmeras mostras nos museus mais importantes do país. Entre as pinturas da famosa série, há uma que retrata a rebelião de Shays. Esta obra estava desaparecida desde 1960, mas foi recuperada ano passado: o Metropolitan Museum of Art de Nova York exibia Struggle: From the History of the American People quase completa quando um visitante percebeu que o grupo dialogava com um trabalho de seu vizinho. Ele incentivou os proprietários a contactar o museu e a pintura foi adicionada, em outubro de 2020, à exposição depois de anos perdida.