Você sabe onde fica a República do Nagorno-Karabak ou República de Artsaque? No limite entre a Ásia e Oriente Médio, a república independente é reconhecido pela ONU como território do Azerbaijão, mas é povoado e governado por armênios étnicos. Este conflito de identidade e domínio do território acontece devido ao fato da região montanhosa ter sido efetivamente parte da Armênia no passado. A situação mudou pois os dois países fizeram parte da União Soviética e, desde o fim da república socialista unificada, Nagorno-Karabak foi incorporado ao Azerbaijão. Desde então, os ares na região são densos.
O acordo humanitário na região foi quebrado no dia 27 de setembro de 2020 e mais de mil pessoas foram mortas desde o início da nova onda de confrontos entre as repúblicas – vale lembrar que esses são os números oficiais, o número real pode ser bem maior. Para chamar atenção para o problema, 15 artistas se reuniram no centro de Los Angeles vestindo túnicas brancas com imagens de rifles.
A performance chamada The Rifles Our Ancestors Didn’t Have foi organizada pelo coletivo She Loves Collective, que foi fundado em 2017 com o objetivo de ser, nas suas próprias palavras, “uma aliança de mulheres artistas que partilham uma forte crença no poder de criar mudança social por meio da arte”.
Há uma longa história de mulheres armênias como defensoras de suas comunidades, especialmente durante o genocídio armênio (tema muito dissutido na Bienal de Istambul), quando as autoridades otomanas recrutaram homens armênios para quase morte certa, e mulheres e crianças foram deixadas para se defenderem sozinhas. Durante o mesmo período, todas as armas foram confiscadas dos armênios pelas autoridades otomanas. A imagem do rifle, segundo o grupo, é um símbolo de autodefesa e autodeterminação. As artistas levaram também pequenos tapetes feitos na Armênia e Artsaque, que simbolizam não apenas sua herança, mas os “padrões” de traumas geracionais, segundo o grupo, transmitidos ao longo dos anos.
O grupo optou por criar o trabalho em Los Angeles, pois a cidade é o lar de uma das maiores comunidades armênias do mundo. Os armênios vêem a nova guerra como uma continuação do genocídio armênio e estão preocupados com a falta de cobertura da mídia. A omissão pode ser perigosa e significativa, como aconteceu durante o genocídio de Ruanda – assunto muito ressaltado pelo artista chilenao Alfredo Jaar.