Você sente os efeitos sutis dos algoritmos ao usar plataformas digitais: o Spotify reproduz automaticamente outra música com base no que você estava escutando; o Instagram mostra primeiro os stories das contas com as quais você interage com mais frequência; e o TikTok apenas fornece um feed de vídeos “Para você”, sem necessidade de escolha sobre quem seguir. Os algoritmos são projetados para que você não reconheça necessariamente seus efeitos e nem sempre possa dizer se eles estão ou não modificando seu comportamento. Para sua exposição na Pace Gallery, em Londres, com uma versão virtual, o artista interdisciplinar e ativista de tecnologia Trevor Paglen tenta dissecar suas visões e, consequentemente, compreende suas ações.
“Bloom” é uma série de fotografias de alta resolução de árvores floridas cujas cores foram atribuídas por algoritmos criados por uma máquina desenvolvida pelo estúdio do artista que dissecam as texturas e arranjos espaciais das imagens e, em seguida, aplicar as cores para marcar as diferenças. Ou seja: Olhar para as imagens significa tentar decodificar o que o computador estava avaliando ao adicionar cor.
As flores são um tema artístico perene, desde o barroco holandês até as telas de Andy Warhol, passando por uma série de pinturas de Damien Hirst. Mas o artista propõe uma análise de como uma máquina percebe as imagens e as composições não seguem uma lógica humana: os algoritmos não interpretam nenhum simbolismo; e, não há efemeridade ou tragédia latente para o florescer da primavera.
As cores emergem de um processo matemático que pode ser aplicado a qualquer outra imagem. A qualidade elegíaca da série, portanto, vem do contraste entre o conteúdo das imagens, familiar aos espectadores humanos, e a frieza do olhar da máquina. Bloom mostra que a beleza não pode ser automatizada – pelo menos, não pela tecnologia que temos atualmente. Mais do que uma série de alinhamentos visuais ou de cores, a beleza está em nossas memórias do mundo e a máquina ainda não pode nos tirar isso! A conexão de uma flor com a experiência da primavera, por exemplo, é inevitável. E os algoritmos, segundo o artista, carecem de qualquer compreensão deste contexto. Pelo menos, por hora!
Paglen apresenta, até março de 2021, uma exposição paralela no Carnegie Museum of Art, em Pittsburgh, que evoca a estranheza que sentimos ao usar o Spotify, Facebook ou Tinder. Essas plataformas pretendem calcular nossos julgamentos e gostos e, em seguida, replicá-los, atendendo aos nossos próprios desejos tão rapidamente que não temos tempo para considerar o quão nossas identidades estão sendo refletidas pelas decisões dos algoritmos.
No museu, ele apresenta a série “CLOUD”, para a qual usa algoritmos para analisar fotos transcendentais do céu e as paisagens montanhosas do oeste americano. Aqui ele prova que a “beleza” vista pela máquina sempre obedece a proporção áurea ou a sequência de Fibonacci. Nós, já passamos dessa! PhD em geografia, o artista ficou famoso por revelar coisas que estão escondidas, criando tanto manchetes na mídia tanto quanto em exposições. Nos últimos anos, ele passou a se interessar pela inteligência artificial, explorando como a visão da máquina está moldando nossa percepção do mundo. Como o crítico Kyle Chayka resumiu numa matéria no Art in America. “A história da arte encontra o filtro tecnológico por meio do qual vivenciamos grande parte da cultura visual, por meio de câmeras do iPhone, postagens no Instagram e feeds do TikTok. Assim que aprendermos a reconhecer a influência dos algoritmos, espera Paglen, poderemos descobrir como combatê-la e recuperar parte da humanidade de nossa visão”.