Moda é ou não é arte? A exposição “Yves Saint Laurent Aux Musées” vem pra provar, de uma vez por todas, que sim! Ela toma conta de nada menos do que seis museus parisienses (Centro Pompidou, Museu de Arte Contemporânea de Paris, Louvre, Museu d’Orsay, Museu Picasso Paris e Museu Yves Saint Laurent) e coloca em evidência a profunda relação que o ícone da moda Yves Saint Laurent desenvolveu com a arte e, em especial, com as coleções de museus públicos franceses. Segundo os organizadores, é a primeira vez que um estilista é homenageado em tantas instituições clássicas de uma só vez. A exposição terá particularidades em cada um dos museus, veja mais abaixo.
Concebida pela Fundação Pierre Bergé – Yves Saint Laurent, a mostra exibe, nas galerias permanentes dos museus, modelos emblemáticos do estilista (mais e menos conhecidos do público) ao lado de obras de nomes como Mondrian, Matisse, Léger e Picasso, deixando transparecer o evidente diálogo entre eles.
“Hoje, estamos vivendo em um universo multi e transdisciplinar feito de conexões, então os antigos rótulos não fazem mais sentido”, disse Mouna Mekouar, curadora da exposição, em entrevista ao The New York Times. A curadoria é também de Madison Cox, diretor da Fundação Pierre Bergé – Yves Saint Laurent, e Stephan Janson. “Não acho que alguém possa entender qualquer estilista, independentemente de quem seja, sem considerar a criação contemporânea ao seu redor. Da mesma forma, não acho que podemos entender um artista contemporâneo sem olhar o que está acontecendo na moda”, completa. Borrar as fronteiras entre arte e moda foi o que Saint Laurent fez desde o início, afirma Mekouar.
A inauguração da mostra, simultânea em todos os endereços, celebra os 60 anos do primeiro desfile e, por isso, ocorreu no dia 29 de janeiro de 2022 — neste mesmo dia, em 1962, Saint Laurent apresentava sua coleção inaugural.
Nos 45 anos seguintes em que atuou como estilista, YSL revolucionou principalmente o jeito de vestir das mulheres, criando, por exemplo, calças para o dia e para a noite, jaquetas safári, botas longas de salto alto e sua peça-chave: o smoking feminino. Ele popularizou ainda os trajes prêt-à-porter (feitos em larga escala) com o intuito de democratizar a moda e foi um dos primeiros a incluir modelos negras nas passarelas.
Como escreve Carolina Casarin em “O guarda-roupa modernista”, citando Gilda de Mello e Souza em “O espírito das roupas”, “‘a moda é ‘a mais humana das artes’, pois “‘o vestido que escolhemos atentamente na modista ou no magasin bon marché não tem moldura alguma que o contenha e nós completamos com o corpo, o colorido, os gestos, a obra que o artista nos confiou inacabada’.”
Museu Yves Saint Laurent
No Museu Yves Saint Laurent, o foco serão os materiais de arquivo do estilista, como moldes, sketchs, manequins e estampas, que ajudam a entender como as peças de alta-costura produzida por ele se materializavam, além de ilustrarem o dia a dia de trabalho e o processo criativo do estilista.
Em cartaz até 18 de setembro.
Pompidou
No Pompidou, a concepção da mostra baseou-se em YSL como um personagem que testemunhou as mudanças artísticas no século 20. Nas palavras do próprio estilista (em tradução livre): “Eu gosto de outros pintores, mas escolhi os que eram próximos do meu trabalho. Mondrian, é claro, o primeiro do qual ousei me aproximar em 1965, cujo rigor não poderia deixar de me encantar, mas também Matisse, Braque, Picasso, Bonnard e Léger. Como eu poderia ter resistido ao Pop Art que foi a expressão da minha juventude?”.
O vestido que YSL fez inspirado em Mondrian em 1965 foi fundamental para apresentar o pintor a um público maior — só historiadores da arte o conheciam na época e a sua primeira retrospectiva no próprio Pompidou ocorreu apenas 4 anos depois. É a primeira vez que a peça e o quadro aparecerão lado a lado.
Em cartaz até 16 de maio.
Museu de Arte Moderna de Paris
No Museu de Arte Moderna de Paris, entre salas monumentais e intimistas, explora-se a relação que YSL estabeleceu com pintores como Raoul Dufy e Pierre Bonnard. A curadoria do museu faz questão de esclarecer que ele não transpunha uma pintura para um vestido simplesmente, mas assimilava para, depois, reinventar.
Em cartaz até 15 de maio.
Louvre
No Louvre, as peças de Saint Laurent estão expostas na Galeria Apolo, uma das mais prestigiadas dentro do museu, desenhada por Charles Le Brun para o Rei Luís 14, o Rei Sol, e lar das jóias da coroa francesa. Quatro jaquetas ricamente ornamentadas celebram as glórias da França e seu savoir-faire.
Em cartaz até 15 de maio.
Museu d’Orsay
Por lá, o que guia a mostra é o papel e o lugar que Marcel Proust (autor de “Em Busca do Tempo Perdido”) ocupou no imaginário do estilista. A paixão pelo autor é referenciada por meio de uma das marcas do estilista, o Le Smoking (smoking feminino), e por dois vestidos que ele produziu para convidadas do Baile Proust, de 1971.
Em cartaz até 15 de maio.
Museu Picasso Paris
Na casa de Picasso em Paris, não é difícil imaginar os rumos que a exposição tomou. Fã do pintor espanhol, o estilista dedicou duas coleções ao artista, sendo que a de 1988 recria o vocabulário cubista. No salão Júpiter é possível perceber as relações que Saint Laurent estabelece com a obra de Picasso, apropriando-se, reciclando, reinventando ou provocando.
Em cartaz até 15 de maio.