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Louise Bourgeois ganha três mostras internacionais em 2022

por Gabriela Valdanha

Louise Bourgeois (1911-2010) chega com tudo em 2022. A artista franco-americana irá protagonizar três grandes exposições internacionais neste ano: na Hayward Gallery, Londres, no Kunstmuseum Basel, Basileia, e no MET, Nova York. 

Louise Bourgeois, 1982, printed 1991, by Robert Mapplethorpe. ARTIST ROOMS Acquired jointly with the National Galleries of Scotland through The d'Offay Donation with assistance from the National Heritage Memorial Fund and the Art Fund 2008 © Robert Mapplethorpe Foundation
Louise Bourgeois, 1982, impressa em 1991, por Robert Mapplethorpe. Coleção Tate. Adquirido em conjunto com National Galleries of Scotland por meio da The d’Offay Donation com assistência de National Heritage Memorial Fund e Art Fund 2008 © Robert Mapplethorpe Foundation.

Bourgeois, cuja profícua produção artística está intrinsecamente ligada à sua trajetória pessoal, demorou para alcançar o reconhecimento que possui atualmente — mesmo tendo produzido durante a maior parte de sua vida e em diferentes formatos: desenho, escultura, gravura, bordado e instalações. 

SELF PORTRAIT Künstler, Beteiligte: Louise Bourgeois Entstehungszeit: 1942 Mat. / Technik: Ink on graph paper Masse: 27.9 x 21.6 cm Photo Credit: Foto: Zindman Fremont
Self Portrait, 1942, Louise Bourgeois. Foto: Zindman Fremont.

Aranhas

Hoje, é difícil, entre aqueles que gostam e acompanham as artes visuais, quem não conheça os gigantescos aracnídeos produzidos por Bourgeois. A versão que pertence ao Itaú Cultural (que possui 3 metros de altura e mais de 200 kg) ficou exposta por 21 anos na marquise do MAM até se despedir, em 2018, para viajar pelo Brasil. 

Assustadoras à primeira vista, as aranhas de Bourgeois (que surgiram primeiro como desenho e depois se transformaram em escultura) têm significados mais profundos e controversos. Estes pequeninos e aparentemente frágeis animais são tecelões incansáveis; são protetores, mas também causam medo. 

Imaginário de Louise Bourgeois

No imaginário “Bourgeoisniano” representam sua mãe, responsável pela loja de restauração de tapeçarias da família e aquela que suportou por anos as infidelidades do marido, pai de Bourgeois, mas também fazem referência a ela própria — as aranhas produzem a partir do seu próprio corpo, como ela. 

Louise Bourgeois The Good Mother (detail), 2003. Fabric, thread, stainless steel, wood and glass. 109.2 x 45.7 x 38.1 cm. © The Easton Foundation/VAGA at ARS, NY and DACS, London 2021. Photo: Christopher Burke
The Good Mother (detail), 2003, Louise Bourgeois. © The Easton Foundation/VAGA at ARS, NY and DACS, Londres 2021. Foto: Christopher Burke.

A artista enveredou para o mundo artístico depois da morte da progenitora, que ocorreu enquanto ela estudava matemática na Sorbonne. Em 1938, mudou-se com o marido Robert Goldwater, historiador de arte, para Nova York, onde viveu o resto de sua vida. 

Esse tipo de metáfora é comum em sua obra; no início dela, fazia desenhos de prédios e arranha-céus representando seus estados emocionais. “Podemos dizer que seu trabalho, no início, era lidando com a figura de seu pai e, no final, com a figura da mãe”, disse o amigo e assistente Jerry Gorovoy em entrevista para um vídeo produzido pela Tate há alguns anos. 

Louise Bourgeois Couple IV, 1997 Fabric, leather, stainless steel and plastic 50.8 x 165.1 x 77.5 cm. © The Easton Foundation/VAGA at ARS, NY and DACS, London 2021. Photo: Christopher Burke
Couple IV, 1997, Louise Bourgeois. © The Easton Foundation/VAGA at ARS, NY and DACS, Londres 2021. Foto: Christopher Burke.

Prisioneira de memórias

“Sou prisioneira das minhas memórias e meu objetivo é me livrar delas”, disse certa vez. Ela descobriu, na arte, uma maneira de sublimar seus traumas e de transformar “ódio em amor”, como afirmou. 

UNTITLED (I HAVE BEEN TO HELL AND BACK) Künstler, Beteiligte: Louise Bourgeois Entstehungszeit: 1996 Mat. / Technik: Embroidered handkerchief Masse: 49.5 x 45.7 Photo Credit: Photo: Christopher Burke
UNTITLED (I HAVE BEEN TO HELL AND BACK), 1996, Louise Bourgeois. Foto: Christopher Burke.

Os clássicos, segundo Ítalo Calvino, são considerados clássicos porque nunca terminam aquilo que têm pra dizer. Ele falava sobre livros, mas a mesma teoria pode ser aplicada aos artistas. Bourgeois evocava temas universais. A vida, o amor, o desejo, a rejeição, o ciúmes, o sofrimento e a morte — e o seu próprio fazer artístico, o de fazer, falhar e refazer— são assuntos que nunca se esgotam. Como é possível perceber nas abordagens das exposições abaixo, ainda há muito a ser explorado. 

Louise Bourgeois Spider, 1997 Steel, tapestry, wood, glass, fabric, rubber, silver, gold and bone 449.6 x 665.5 x 518.2 cm. © The Easton Foundation/VAGA at ARS, NY and DACS, London 2021. Photo: Maximilian Geuter
Spider, 1997, Louise Bourgeois. © The Easton Foundation/VAGA at ARS, NY and DACS, Londres 2021. Foto: Maximilian Geuter.

Hayward Gallery, Londres (Reino Unido)

Louise Bourgeois: The Woven Child 

9 de fevereiro a 15 de maio 

Anunciada como a primeira grande exposição da artista que foca, exclusivamente, seus trabalhos com tecidos. Nos seus últimos 20 anos de produção, tramas provenientes de roupas de cama, lenços e bordados foram incorporados por Bourgeois em instalações, esculturas e colagens. Continuou, com os tecidos, explorando temas como identidade, sexualidade, trauma, memória, culpa e reparação, centrais em sua carreira. “Sempre tive fascínio pelo poder mágico da agulha. A agulha é usada para reparar o dano. É uma reivindicação pelo perdão”, disse a artista. Sua decisão de criar a partir de roupas e outros tecidos foi uma forma de transformar e, ao mesmo tempo, preservar seu passado, segundo o material de divulgação da mostra. Ela via ações como cortar, rasgar e costurar de maneira metafórica, relacionado-as a noções de separação e aproximação, por exemplo. Louise Bourgeois: The Woven Child tem o objetivo de resumir esse capítulo final da produção da artista, tão inventivo e coerente quanto todo o restante de sua obra. A curadoria é de Ralph Rugoff, Katie Guggenheim e Marie-Charlotte Carrier. 

Louise Bourgeois em sua casa em Nova York, 2004. Foto: Pouran Esrafily
Louise Bourgeois em sua casa em Nova York, 2004. Foto: Pouran Esrafily

Kunstmuseum Basel, Basileia (Suiça) 

Louise Bourgeois x Jenny Holzer

The Violence of Handwriting Across a Page 

19 de fevereiro a 15 de maio 

Bourgeois vista pelos olhos da artista Jenny Holzer. Essa é a proposta da exposição, e a perspectiva escolhida por Holzer foi a da palavra escrita. Não é difícil entender o porquê: Holzer é conhecida por explorar e subverter a linguagem por meio de sinais de rua, camisetas, projeções e LEDs. A pesquisa de Holzer para escolher as obras que estarão expostas partiu do vasto arquivo escrito de Bourgeois, que contempla diários, cartas e escritos psicanalíticos — escrita que, muitas vezes, transbordava para suas obras. Durante a primeira semana da exposição, trechos de escritos de Bourgeois serão projetados em fachadas de edifícios públicos da Basileia. A curadoria é de Jenny Holzer e Anita Haldemann.

The MET, Nova York (Estados Unidos)

Louise Bourgeois Paintings 

12 de abril a 7 de agosto 

Primeira exposição abrangente com pinturas de Bourgeois produzidas entre sua chegada a NY, em 1938, e 1940, quando se voltou para a escultura, segundo o MET. Apesar de conhecida por suas esculturas, o museu argumenta que foi na sua produção inicial que sua voz artística emergiu, estabelecendo um grupo de motivos visuais que ela continuaria a explorar e desenvolver durante sua trajetória. Ancorada em novas pesquisas, a mostra joga luz sobre esse capítulo pouco conhecido da artista. 

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