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Pintura de Tarsila do Amaral continua causando controvérsia sobre sua autenticidade

Autoria da obra que gerou burburinho na SP-Arte desse ano continua em discussão pela família de Tarsila

por Carolina Reis

Paisagem 1925, Tarsila do Amaral. Fotografia: Felipe Berndt.
Paisagem 1925, Tarsila do Amaral. Fotografia: Felipe Berndt.


‌Na última edição da feira SP-Arte, que aconteceu em abril no Pavilhão da Bienal de São Paulo, uma pintura de Tarsila do Amaral, datando 1925, na sua fase Pau-Brasil, virou assunto por não constar no catálogo oficial de obras da artista e por ser oferecida à venda por um preço abaixo do esperado.

Um representante da OMA, galeria que participa do mercado primário, ou seja, comercializa, em sua maioria, artistas vivos, teria conseguido recuperar uma tela de Tarsila que estava no Líbano. O dono da obra era de uma família que conhecia a artista em vida, e teria recebido essa pintura como um presente, passado de geração em geração. No entanto, a própria família Amaral, que cuida do espólio da artista, não sabia da existência da peça.

A pintura “Paisagem 1925” não participou oficialmente da feira, mas estava no Pavilhão e foi mostrada pontualmente para colecionadores que manifestaram interesse, mas não chegou a ser vendida na ocasião. Naquele mês, Tarsilinha e José Gomide, importante marchand amigo da família, deram entrevista para a Folha de S. Paulo recusando a veracidade da obra.

No dia 19 de agosto, após passar por perícia técnica, a OMA Galeria e a Tarsila S.A. vieram a público noticiar a autenticidade da pintura, avaliada hoje em 60 milhões de reais, quase quatro vezes mais do que o valor ofertado durante a feira. A década de 1920 é considerada a mais valiosa dentre os anos de atividade da pintora brasileira e sua autenticidade confirmada é notícia para pesquisadores de sua obra pelo mundo.

Paisagem 1925, Tarsila do Amaral. Fotografia: Felipe Berndt.
Paisagem 1925, Tarsila do Amaral. Fotografia: Felipe Berndt.

A nota à imprensa contava ainda com citação de Paola Montenegro, que assumiu o cargo que antes era ocupado na Tarsila S.A. por Tarsilinha, sobrinha homônima da artista e a principal interlocutora até então da família Amaral. Montenegro assegura que: “Agora, temos as ferramentas da ciência, a expertise de peritos técnicos do nível de Douglas Quintale e a integridade de um Comitê de Certificação. Estes três elementos combinados conseguem viabilizar um resultado inquestionável, em curto espaço de tempo e evita a interferência de terceiros”.

Dias depois dos jornais repercutirem o novo parecer técnico, foi divulgada a “Carta aberta de herdeiros de Tarsila do Amaral”, assinada por 28 descendentes da pintora paulista liderados por Tarsilinha. Nela, fica explícita a discordância da própria família do Amaral em corroborar a autenticação da paisagem, dizendo: “Essa declaração revela total despreparo dessa pessoa e falta de capacidade técnica para apresentar, em rede nacional, uma conclusão dessa, sem qualquer discussão prévia com os demais herdeiros de Tarsila do Amaral, colocando em risco todo acervo da artista.” Sobre a acusação, Tarsila S.A. ainda responde dizendo que a autenticidade não compromete o legado da pintora: “Pelo contrário, ampliou e enriqueceu sua coleção com a inclusão de mais um quadro, com reflexos importantes para o patrimônio cultural brasileiro, definidor das características da artista.”

Essa disputa pelo espólio da modernista não é novidade, estando a família dividida e brigando publicamente há anos, com diversos processos na justiça e concedendo entrevistas para a mídia desmentindo o outro lado.

Esse é mais um capítulo da guerra que tem sido travada em nome de uma das maiores artistas brasileiras do século passado, colocando em xeque a seriedade com a qual seu espólio tem sido gerido e a continuidade da difusão da sua obra, importante marco na cultura brasileira.

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