SP-Arte comemora 20 edições com aumento de vendas

Mercado primário parece mais aquecido com obras que questionam a representação do corpo e valorizam o popular

por Beta Germano
13 minuto(s)

Rirkrit Tiravanija

Responsável por mudar o rumo do mercado de arte nacional, a SP-Arte fechou sua vigésima edição no último domingo, dia 07, com muitas novidades revigorantes e alguns pontos de interrogação. 

O anúncio oficial sobre as vendas ainda não saiu, mas as galerias nacionais comemoraram um aumento de mais de 30% nas vendas. Mas não parece. Pelo menos na parte da feira dedicada ao mercado secundário, vimos muitas figurinhas repetidas indicando que obras de edições anteriores não foram comercializadas ou voltaram para as mãos das galerias. Alguns espaços, apesar de terem obras novas, parecem um déjà vu contínuo já indicando que a feira precisa dar mais atenção ao setor, cobrando projetos mais bem pensados e trabalhos selecionados com mais rigor. Outro ponto que pede mais cuidado é o da autenticidade das obras.

Mira Schendel
Mira Schendel, na galeria Milan
Mira Schendel, na galeria Gomide & Co
Mira Schendel

Uma obra rara de Tarsila do Amaral, de 1925, comercializada por Thomaz Pacheco, da galeria OMA, virou assunto: os herdeiros não reconheceram a obra e o trabalho esta sendo analisado antes de ser vendido por R$ 16 milhões.  Notamos uma presença marcante de obras de Mira Schendel, que terá uma individual no Instituto Tomie Ohtake, e de Lygia Clark, que ganhou exposição na Pinacoteca.  Entre os trabalhos mais caros da feira, estava a escultura “O Guerreiro”, de Maria Martins, à venda na Galatea, por R$ 8 milhões. 

Entre a turma do secundário, vale destacar a Gomide & Co que trouxe uma obra preciosa e pertinente de Rirkrit Tiravanija, queridinho do mercado internacional, que faz  alusão à morte de Marielle Franco. “Eu mandei os recortes de jornal para ele naquela época. E, por isso, ele fez esse trabalho. Hoje ela está mais atual do que nunca”, comenta Thiago Gomide. Ele também mostrou  esculturas da Julia Isidrez, paraguaia que deverá ganhar destaque na exposição Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere, curada por Adriano Pedrosa, além de belíssimas esculturas e xxx japonesas.  A galeria Marcos Zero também se destacou com um espaço curado por Jacopo Crivelli Visconti em torno do tema “terra” , criando diálogos entre obras de Tarsila do Amaral, Francisco Brennand, Montez Magno, Paulo Pasta, Marlene Costa de Almeida, Candido Portinari, Volpi, Rayana Rayo e interessantes paisagens de Samico, entre outros. 

Lynda Benglis
Louise Bourgeois

Tendências pelos corredores

A feira também trouxe boas surpresas e novidades, especialmente no mercado primário. Entre as mídias que se destacam, temos a pintura ainda em alta. Mas esta edição também foi marcada por muitas esculturas incríveis – desde uma Louise Bourgeois, no espaço da Simões de Assis, por Us$ 350.000, até uma obra gigantesca de Lynda Benglis, por Us$ 1,850,00 (com todas as taxas),  passando por trabalhos de Luana Vitra, nome que tem chamado atenção do mercado, especialmente depois de sua participação na Bienal de São Paulo e Inhotim. Quem andou pelos corredores da feira notou que mídias mais contemporâneas ou conceituais andam em baixa. Como anunciamos aqui no ARTEQUEACONTECE anteriormente, o mercado de arte no Brasil passa por um momento mais conservador e, por isso, os colecionadores estão investindo mais em pinturas e esculturas.  

“Os itens de até 40 mil dólares venderam bem, mas as obras com valor mais elevado foram devagar. Senti um foco maior na produção de artistas do nordeste e América Latina. No geral, a feira pareceu mais um lugar de descobrimentos de produções novas”, ressalta Nathalie Felsberg, art advisor, do Acervo Incomum. 

Gretta Sarfaty

Entre os temas propostos pelos artistas, é possível notar duas vertentes muito claras. De um lado encontramos obras voltadas para a ideia da “cultura vernacular”, incluindo artistas que se relacionam, de formas distintas, com o que chamamos de “cultura popular”; do outro, nos deparamos com obras que questionam a representação de um corpo que pode estar sempre em transformação, expansão ou embate. 

Corpos cujos limites estão borrados e em constante metamorfose. “Tenho pensando muito sobre despir da própria pintura”, ressalta a carioca Marcia Falcão que apresentou uma tela da série “Capoeira”, no espaço da Fortes D’Aloia Gabriel – série com a qual ela questiona, ainda, os limites da figuração. Esse processo também pode ser visto nas telas de  Jess Vieira, na Mitre, cujo corpo pintado a óleo apresenta uma hipnotizante fluidez visceral.      

Márcia Falcão
Jess Vieira, na galeria Mitre

Corpos em transformação também são citados nos trabalhos de Diambe da Silva, na Simões de Assis; e Fefa Lins, na Amparo 60. Vale destacar também os autorretratos de Gretta Sarfaty, na galeria Central, distorcendo a própria imagem –  o corpo, como identidade, é desconstruído e reconfigurado – e o beijo quase impossível de Raphaela Melsohn, na Marli Matsumoto. As veteranas Bourgeois e Benglis acabaram criando um belo diálogo com a boa leva de jovens artistas citadas acima. 

Entre os trabalhos que tensionam os limites entre erudito e popular, o mineiro Advânio Lessa, na Galeria Marco Zero e Gomide & Co; J.Cunha, que ganhou individual no Paulo Darzé; Amadeo Luciano Lorenzato, na Gomide&Co e Mendes Wood; Sonia Gomes, também na Mendes Wood DM; e Zimar, na Lima Galeria. 

Last but not least, vale ficar de olho no Antonio Pichilla, na Portas Vilaseca, cuja formação artística se relaciona tanto com as tradições ocidentais do que chamamos de abstração, quanto com as tradições têxteis de sua família de origem maia. Seu trabalho pode ser encontrado em diversas coleções de destaque, como o Museu Reina Sofia, na Espanha; Museu Tate, Londres; Museu de Arte Contemporânea de Detroit, Kadist Art Foundation, São Francisco, EUA. Parace que não é só o Brasil que está apostando nas fronteiras finas e flexíveis entre arte e artesanato, e contemporâneo e tradicional. O futuro, de fato, é ancestral. 

Lorenzato na Gomide& Co
Rayana Rayo

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