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O pintor brasileiro por trás do cenário de Amélie Poulain

por Julia Cachapuz
Paleta de cores do longa-metragem “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” | Imagem: @colorpalette.cinema

Com a vida colorida por cores vibrantes, Juarez Machado nasceu em uma família de artistas natural de Joinville (SC), nos anos de 1941. Filho de um caixeiro-viajante e uma pintora de leques de seda, Machado começou a desenhar entre os 6 e 7 anos de idade, quando admirava e retratava o alto número de operários que iam ao trabalho nas indústrias utilizando bicicletas. Aos 18 anos, fugindo do destino nas fábricas, o artista decidiu estudar Artes em Curitiba, dando início a uma jornada repleta de incursões artísticas nacionais e internacionais. 

Juarez Machado então passou por sua 1ª mostra individual na Galeria Cocaco, de Curitiba, iniciando uma carreira de grande sucesso, que o levou a morar no Rio de Janeiro por 20 anos,  onde trabalhou como chargista, ilustrador e até mesmo mímico no programa Fantástico, da TV Globo. No final dos anos 70, o artista viajou a Nova York, Londres e Paris, onde finalmente se fixou, construiu uma galeria própria, e hoje vive a quase 40 anos.

Com espaço assentado no bairro de Montmartre, no comecinho dos anos 2000, a galeria de Juarez Machado, recebeu a visita inédita do cineasta Jean-Pierre Jeunet, que, num futuro não tão distante, seria indicado a 5 Oscars.

O pintor Juarez Machado em seu ateliê | Imagem: Divulgação

Neste primeiro encontro, o diretor, encantado por sua paleta de cores quase carente de tons primários, comprou um quadro de sua autoria que exibia uma mulher agarrando um homem na escada. O match entre os dois foi tanto, que Jeunet ainda pediu a Machado livros, imagens e chegou a levar sua equipe para conhecer as futuras referências estéticas que iriam compor o cenário do mundialmente conhecido longa, Amélie Poulain. 

As obras que majoritariamente inspiraram o filme surgiram da exposição “O Libertino”, de Juarez Machado, que veiculava quando ele e Jeunet se conheceram. Na época, o artista completara 60 anos e exibia um total de 60 pinturas e 40 desenhos, todos apresentando temáticas eróticas, como pontuou para uma entrevista ao UOL. Dessa mostra, duas obras foram escolhidas para integrar a cenografia do quarto de Amélie Poulain, postadas ao lado da cama da heroína de Paris, sendo uma delas “A Festa Continua”.

Juarez Machado conta que um elemento de apreço em comum entre ele e Jean-Pierre Jeunet é justamente o gosto pela “coisa meio surrealista, que mistura humor e surpresa”. Suas obras estabelecem um fino diálogo com o longa “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, porque este se trata de uma narrativa que abraça o público com uma história positiva e carregada por explosões de cores, assim como as telas que o curitibano pinta desde a juventude. 

Juarez Machado, “Casal e Realejo”, sem data

As cores são o principal ponto de encontro entre Machado e o longa metragem: o pintor faz muito uso do vermelho, combinado com outras cores, que intercalam entre azul, um amarelo bem brilhante ou branco, características que foram incorporadas pelo diretor de fotografia do filme, Bruno Delbonnel, e renderam a equipe indicações ao Oscar, Bafta e César de melhor fotografia. 

Nas cenas externas ao café, por exemplo, a pós-produção do filme realizou um trabalho de saturação na coloração dos takes de modo que a fotografia assumisse a caricata tonalidade esverdeada da produção.

Cena extraída do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” | Imagem: sem créditos

Em um dos frames, Amélie Poulain corta uma série de cartas. Na ocasião, o cenário predominantemente vermelho, amarelo e verde é interrompido por um abajur colorido por um azul vibrante, colocado ao lado da personagem. A escolha foi tomada justamente para atribuir ao filme um quê de surpresa, surrealismo, salientado tanto por Juarez Machado, quanto por Jean-Pierre Jeunet.

Juarez Machado, “Lembranças do Piano de Tom Jobim”, 1994

No filme, a incessante batalha de contrastes conduz o cotidiano comum, entretanto recheado de pequenos milagres e mágicas presentes nos encontros entre seres humanos, que servem de pano de fundo para a história de Jeunet. Assim, o encantamento eufórico e festivo presente na vida e obra de Juarez Machado, encontra morada ao lado de Amélie Poulain, que dão à nós, meros espectadores, uma nova e mais colorida visão de mundo.

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