Quem foi quem foi Kwame Brathwaite?

Responsável por popularizar a premissa “black is beautiful”, Brathwaite ganha exposição em Chicago sobre sua relação com a música

por Beta Germano
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Kwame Brathwaite
Kwame Brathwaite

“Quando eu estava criando o conceito para este lançamento, mergulhei nestas imagens – elas me fizeram sentir que eram relevantes para o que estamos fazendo agora.”, declarou Rihanna à Vogue sobre as fotografias de Kwame Brathwaite que ela usou como referência para criar as campanhas de sua marca de cosméticos Fenty. De fato, é preciso lembrar, sempre, que muito do que foi conquistado para chegar onde estamos carrega nomes e sobrenomes dos que vieram antes para abrir caminhos…mesmo que seja apenas o início da jornada. 

Apesar de só recentemente ter alcançado reconhecimento, em retrospectivas e monografias de museus,  a fotografia de Brathwaite atua desde os anos 1960 como força e inspiração para muitos, tento um importante papel na História da Arte por inaugurar novas formas de representação, especialmente para mulheres negras.

Kwame Brathwaite
Kwame Brathwaite
Kwame Brathwaite
Garvey Day, Deedee in Car, cerca de 1965, por Kwame Brathwaite

Responsável por inserir, no mundo da moda e música, a premissa “Black is beautiful”, idealizada inicialmente jamaicano Marcus Garvey, durante o desenvolvimento do movimento pan-africanista, ele faleceu aos 85 anos no início destes mês deixando uma reflexão latente: arte, moda e a indústria do entrenimento atuam em um sistema complexo que constrói padrões de beleza e, consequentemente, de consumo que legitimam  hierarquias e distinções sociais e raciais. 

Brathwaite declarou o desejo de retratar “a essência da experiência negra, como um sentimento, um impulso e uma emoção” que são ouvidos e sentidos por meio da música. E essa relação é celebrada na exposição Kwame Brathwaite: Things Well Worth Waiting For, no Art Institute of Chicago até 24 de julho deste ano.

Kwame Brathwaite
Carolee Prince por Kwame Brathwaite

Respeita o meu cabelo 

Brathwaite não entrou para a pasta de referências de Rihanna à toa, também não foi aleatória a escolha do artista, em 2018, para fotografar as criações de Joanne Petit-Frère, a escultora de postiços de cabelo de Beyoncé, para a New Yorker.  Sua revolução está diretamente ligada ao mundo da música e à indústria da beleza. 

Em 1956, ele e o irmão, Elombe Brath, fundaram, com alguns amigos, a African Jazz and Art Society and Studios (AJASS). A organização era inspirada em outras muitas sociedades de jazz que floresceram antes dela, com uma diferença fundamental em seu nome: a palavra “africano”, que estava “fora de moda” na época.

Kwame Brathwaite
Miles Davis e Paul Chambers por Kwame Brathwaite

Durante a década seguinte , Brathwaite e Brath montaram um estúdio no Harlem, em Nova York, para fazer retratos de músicos e o fótografo chegou a registrar nomes como Duke Ellington, Thelonious Monk e Miles Davis. E, no início dos anos 70, ele era conhecido por ser o fotógrafo do Apollo Theatre, famoso local onde artistas como Whitney Houston e Chaka Khan se apresentavam e passaram por suas lentes. 

Nesse mesmo período, os irmãos também administravam o Grandassa Land, um espaço da 135th Street onde eram realizadas leituras de poesia e outros eventos, e organizaram desfiles e campanhas de moda que popularizaram a expressão “Black is beautiful”. 

Kwame Brathwaite
Desfiles de Kwame Brathwaite popularizaram a estética “Black is beautiful”

Em 1962, a AJASS organizou o primeiro de seus desfiles de moda “Naturally” cujo objetivo era, entre outros,  encorajar mulheres negras a compreender que eram naturalmente belas.  Muitas das modelos tinham pele mais escura do que os tons claros das mulheres negras que apareciam nas revistas de moda da época e usavam cabelos em “estilos naturais”. Os desfiles fizearm sucesso e acabaram acontecendo também em Chicago e Detroit. 

“Houve muita controvérsia porque estávamos protestando sobre como, na revista Ebony, você não conseguia encontrar uma garota ébano.”, explicou  Brathwaite cujas inovadoras imagens começaram a aparecer em várias publicações ajudando a reforçar a estética “Black is beautiful”.

Kwame Brathwaite
Marcus Garvey Day Parade, cerca de 1967, por Kwame Brathwaite

Imagem como luta

Kwame Brathwaite nasceu em 1º de janeiro de 1938 no Brooklyn, Nova York. Inicialmente, ele pretendia se tornar um designer gráfico. Mas o assassinato de Emmett Till em 1955 e as fotos de seu cadáver que foram publicadas pela revista Jet levaram Brathwaite a mudar de direção. Usaria, então, a câmera como arma para lutar pelos Direitos Civis, chegando a fotografar eventos políticos como o Marcus Garvey Day Parade.  

Mas ele acabou produzindo algo diferente do fotojornalismo tradicional provando que criatividade e estética andam lado a lado com as lutas identitárias : imagens em preto e branco são encobertas por uma sombra misteriosa ou tiradas de ângulos obscuros que ocultam informações visuais que parecem necessárias – como a multidão assistindo ou partes dos instrumentos de seus personagens.

Na medida em que o tempo passava, ele captava, cada vez mais, as cores brilhantes de suas modelos – algumas usando icônicos enfeites de cabeça ou brincos de contas de Carolee Prince. Durante os anos 70, Brathwaite também viajou para a África, visitando países como Egito, Tanzânia, Quênia e muito mais, e  seguiu os Jackson Five até Gana!

Seu trabalho é citado, até hoje, como a principal influência de grupo crescente de jovens fotógrafos de moda negra e pelo crítico Antwaun Sargent, hoje curador da galeria Gagosian, em um livro publicado em 2019 sobre o assunto. A Aperture organizou uma retrospectiva de Brathwaite, também em 2019, que já fez paradas em Los Angeles, San Francisco, Austin, Detroit e Nova York. 

Kwame Brathwaite
Kwame Brathwaite
Kwame Brathwaite
Autorretrato de Kwame Brathwaite

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