É certo que o setor da cultura foi um dos mais duramente atingidos pela pandemia de coronavírus.
O “Relatório de impacto da pandemia e repositório Covid-19 para os museus”, realizado pelo Ibermuseus (programa de cooperação para os museus da Ibero-América), consultou 434 instituições de 18 países, incluindo Brasil, Espanha, México, Portugal e outros.
Na pesquisa, 73% dos museus declarou reajuste de suas atividades em resposta às medidas restritivas. No MASP, por exemplo, a exposição “Histórias da dança”, prevista inicialmente para 2020, ocorreu só no virtual e o eixo temático anual das “Histórias indígenas” foi postergado para 2023.
Além disso, 60% das instituições mistas tiveram que demitir funcionários e 31% delas indicou que a principal necessidade é contar com recursos financeiros para manutenção e sustentabilidade de sua gestão.
Aqui, esses fatores, aliados à instabilidade da Lei Rouanet, colocam os museus em uma situação ainda mais delicada financeiramente.
Mas é possível que nós, como pessoas físicas, ajudemos a manter a programação de locais como o MASP, o MAM-Rio e Inhotim em troca de benefícios especiais — durante o ano todo, e não só em momentos de catástrofe.
É o caso, por exemplo, dos programas de sócios que dão direito a entrada gratuita, visitas guiadas e acesso prévio às novas exposições e das doações via dedução no Imposto de Renda.
Museu do coração
Mais do que a questão financeira, esses projetos criam um senso de comunidade com o entorno e podem incentivar o público a frequentar instituições culturais de forma mais regular, afirma Fabio Szwarcwald, diretor executivo do MAM-Rio.
“Muita gente quer ajudar e não sabe como. Com esse tipo de programa, o associado tem acesso a toda programação do museu e é possível criar um engajamento para as pessoas participarem mais do museu”, diz. Segundo ele, no MAM, os atrativos que mais chamam atenção são a oportunidade de ver as exposições previamente, descontos e acesso aos eventos e seminários promovidos pelo museu.
Parece simples, mas a criação desse tipo de programa por parte dos museus demanda estratégia e equipes para implementar e manter as contrapartidas funcionando. “A partir do momento que o associado entra, ele vai querer usufruir dos benefícios”.
Fizemos uma lista de projetos acessíveis que conferem diferentes vantagens aos associados e, sobretudo, facilitam a relação com a arte.
O programa Amigos do Inhotim tem como objetivo reunir pessoas conectadas à arte, à natureza e à arquitetura. Ao tornar-se membro, o associado passa a contribuir para a sustentabilidade do instituto, manutenção dos acervos e realização de projetos socioeducativos. Atualmente, o programa conta com cerca de 245 sócios. Em 2021, a plataforma passou por reformulações e hoje oferece entrada gratuita e sem filas, transporte interno de uma galeria a outra, além de descontos em serviços e eventos no Inhotim e em pousadas e hotéis parceiros. Os planos começam em R$ 175 (para pessoas com até 25 e ou com mais de 60 anos). Como medida de comparação, o valor inteiro do ingresso para três dias custa R$ 106.
O legal é que é possível deduzir o valor total de adesão no Imposto de Renda. A Lei Federal de Incentivo à Cultura permite que doações para ações culturais sejam abatidas do IR. Pessoas físicas que declaram pelo formulário completo podem deduzir doações de até 6% do IR devido. O valor que seria pago ao governo pode ser utilizado para apoiar projetos culturais, e você não pagará mais imposto com isso, nem terá sua restituição diminuída.
O projeto Agente passou por uma reformulação no último ano para que atingisse de forma mais efetiva o público. Hoje, são cerca de 200 participantes. São duas categorias nos valores de R$ 190/ano (individual, R$ 95 a meia para estudante, professor e 60+) e R$ 270/ano (dupla). Os benefícios incluem entrada ilimitada, convites para aberturas, visitas guiadas, encontros sobre arte e cultura, descontos no MAM e instituições parceiras. No final do ano, também é possível contribuir doando seu imposto de renda. Em 2021, o museu captou R$ 320 mil nessa modalidade.
“Para o museu, é muito importante que o público faça parte da construção de um amanhã mais sustentável, apoiado na inovação, ciência e cultura, e o programa de sócios permite isso. Dessa forma, o público pode ser parte integrante e fundamental do Museu do Amanhã”, afirma Eduarda Mafra, gerente de desenvolvimento público e programação da instituição. Por lá, o programa Amigos do Amanhã está passando por uma renovação e em breve será relançado como Sócios do Amanhã. Os associados têm direito a entrada ilimitada e expressa durante um ano, convites para aberturas de exposições, atividades exclusivas, além de descontos no museu e em instituições parceiras. A adesão é feita a partir de um plano individual de R$ 80/ano e podem ser adicionados até 7 dependentes no valor de R$ 60/ano cada. A entrada cheia no museu custa R$ 30.
No MASP, existem programas como os de Patronos e Jovens Patronos, as edições de arte anuais, a festa beneficente (MASP Festa) e o projeto Amigo MASP — este último conta, hoje, com 3.000 participantes. São 5 categorias que variam entre R$ 120 e R$ 405/ano (uma entrada inteira custa R$ 50). Entre os benefícios, estão entrada free e sem filas, convites para visitas exclusivas, direito a um acompanhante no mês de aniversário, descontos nas dependências do MASP e em parceiros. “O MASP é um museu privado, sem fins lucrativos, que inicia todos os anos com um grande desafio de captação. Nesse sentido, as doações de pessoas físicas são fundamentais para a manutenção das atividades. Além da contribuição financeira, que representa por volta de 20% da receita total do museu, os membros dos programas estão totalmente engajados com o sucesso da instituição”, afirma Juliana Siqueira de Sá, diretora vice-presidente da instituição.
O programa Amigos da Pinacoteca, criado em 2010, já angariou mais de R$ 1 milhão desde a sua inauguração. O projeto possui 6 categorias diferentes de adesão. O mais barato é o cartão individual, que custa R$ 100/ano (para estudantes, professores e 60+), e dá direito a entrada gratuita durante 1 ano, visitas guiadas, previews de exposições, além de descontos na Pina e em parceiros (para comparação, os ingressos custam R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia). O dinheiro arrecadado é usado de forma abrangente: programas educativos, novas exposições, publicações, restauro e conservação de obras. “Esse é o programa que mais cresce na instituição hoje”, diz Jaqueline Viana, responsável pela captação de recursos pessoa física (amigos e patronos). Atualmente, são mais de 350 associados. “O apoio de pessoas físicas se tornou fundamental para mantermos o museu funcionando e é gratificante ver o quanto as pessoas estão engajadas em apoiar espaços culturais”, completa.