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Ocupação “Estamos Aqui” no SESC Pinheiros traz obras do circuito independente

Pensada a partir de uma reflexão sobre a relação da arte com a cidade e a ocupação dos espaços públicos, estreou no dia 12 de janeiro no SESC Pinheiros, a…

por Beta Germano

Pensada a partir de uma reflexão sobre a relação da arte com a cidade e a ocupação dos espaços públicos, estreou no dia 12 de janeiro no SESC Pinheiros, a Ocupação “Estamos Aqui”, que reúne 40 trabalhos de artistas e coletivos com passagem por espaços e plataformas do circuito independente de arte.

Placa de pedra acinzentada, na qual está gravada a palavra resistência, colorida em amarelo. Ao lado da pedra há um cinzel de cabo amarelo.
32 formas de gravar resistência, Rebeca Ramos. 1999.

A relação entre tais espaços de criação e a cidade é um tema recorrente e nasce da necessidade de curadores e artistas entenderem seu papel como agentes políticos e da arte como prática social. É o que afirma Thaís Rivitti, gestora do Ateliê397 e curadora da exposição. “Os espaços [independentes] abordam [o tema] com frequência, recebem os artistas que investigam isso, se percebem como parte de uma comunidade de bairro, têm que trazer pessoas da comunidade, ser um espaço que faça sentido naquele território”, explica.

O Ateliê397, que comemora 20 anos de existência em 2022, centraliza esse debate sobre a convivência coletiva na atualidade. Para Rivitti, no entanto, não se trata de uma mostra comemorativa, mas de uma exposição tensa, que aborda conflitos e impasses – alguns deles antigos e ainda pendentes de resolução. 

Painel de madeira clara não envernizada, com gravação mais marcada que remete ao contorno do litoral paulista e outras gravações mais sutis em formato de setas que adentram o território, remetendo às rotas utilizadas pelos bandeirantes para a ocupação do território paulista. Também se encontram gravadas as palavras bandeiras, caminhos, desapropriação, entradas e reintegração. Acima e à direita está fixada no painel uma foto em preto e branco de uma estrada suspensa em meio à mata, com um ônibus passando por ela. Na foto há a legenda 98 - São Paulo - Brasil - Trecho da Via Anchieta entre S. Paulo a Santos.
Estradas, Jaime Lauriano.

É o caso das expulsões recorrentes de grupos pouco interessantes para a exploração econômica local – um processo que tem início com a população indígena no século XVI, e cuja mais recente expressão ocorre por meio da gentrificação do bairro, com a remoção progressiva do comércio de rua e dos chamados “camelôs” desde o início dos anos 2000.

Essa constante modificação da região de Pinheiros, que tem passado por sucessivas reformas urbanas, também é evocada pelos trabalhos presentes na mostra produzidos a partir de materiais preexistentes no local.

Edu Marin, artista responsável por pensar a expografia da exposição, traz obras construída a partir da remoção de camadas de materiais tomadas normalmente como parte do espaço – placas de MDF que revestem os painéis expositivos e, ao serem retiradas, deixam ver sua estrutura; camadas de insufilm que recobrem vidros, removidas e superpostas de forma a criar diferentes formas a partir do contraste de tonalidades; e o próprio piso do espaço, composto por estratos de carpete, piso de madeira, placas de resina vinílica e a própria estrutura elevada a partir do chão. Desmontando a suposta neutralidade do cubo branco, a obra coloca no foco da visita a própria separação entre o que é arte e o que é cidade.

Quatro colunas formadas cada uma por 5 esponjas vegetais empilhadas, dispostas de forma a criar um bloco retangular, de dentro do qual sai um vapor d'água.
Oásis, Natalie Braido.

A obra de C L Salvaro também aproveita a materialidade do espaço por meio da documentação do processo de retirada de placas móveis de 60 cm x 60 cm que recobrem o teto e a construção de uma coluna móvel a partir do seu empilhamento. A remoção e a abertura do teto, com a exposição progressiva de aspectos do ambiente como cabos de internet e estrutura do ar condicionado, resulta em um vídeo em stop motion projetado no teto e borrando o limite entre o que é fixo e o que é fugaz – afinal, a coluna, aparentemente tão sólida, surge e desaparece no vídeo diante dos olhos do visitante.

Esse reaproveitamento também pretende evocar um confronto com a ideia de obsolescência programada e a prática de reutilização e reciclagem de materiais, também frequente no circuito independente.

Ocupação Estamos Aqui

Data: 12 de janeiro a 24 de abril de 2022

Local: SESC Pinheiros

Endereço: Rua Pais Leme, 195

Funcionamento: terça a sábado, das 10h30 às 20h30; domingos e feriados, das 10h30 às 18h30

Ingresso: grátis

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