Com 2024 no retrovisor, nossos olhos já estão mirando as grandes exposições e os temas que vão se sobressair no ano de 2025 no cenário nacional. Com três Bienais brasileiras e com a abertura de novos espaços, como o edifício Pietro Maria Bardi, que deve dobrar a capacidade expositiva do MASP, este ano, mais uma vez, promete ser intenso, além de marcado por reflexões sobre ecologia, cultura popular, representação e ancestralidade. Confira os destaques programados e, a partir deles, as temáticas que estarão no centro das discussões do circuito:
Zanele Muholi no IMS Paulista
O ano do Instituto Moreira Salles de São Paulo contará com exposições do povo indígena Paiter Suruí, de Luiz Braga, de Gordon Parks e de Agnès Varda. Mas as maiores expectativas estão especialmente direcionadas para a grande retrospectiva que abre a programação do museu no dia 22 de fevereiro: Zanele Muholi. Sendo um dos nomes mais aclamados da fotografia contemporânea mundial, Muholi trará suas pesquisas sobre identidades negras e LGBT+ para o nosso país, apresentando séries icônicas como “Faces and Phases” e “Somnyama Ngonyama”, além de trabalhos inéditos produzidos no Brasil.
Histórias da ecologia no MASP
A programação do MASP já inicia com a abertura de cinco exposições simultâneas no dia 28 de março, inaugurando o edifício Pietro Maria Bardi com grande força. Com quatorze exposições, além de seis filmes na sala de vídeo e do acervo permanente que se mantém em transformação, o ano de 2025 no museu, segundo o mesmo, será inteiramente dedicado ao tema “Histórias da ecologia”. A proposição explorará diferentes possibilidades de recortes entre as temáticas “arte” e “natureza”, desde algumas mais inesperadas, como as individuais dos impressionistas Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir e a coletiva de concretos e neoconcretos, chamada “Geometrias”, até outras mais clássicas, contando com grandes nomes deste ativismo, como Frans Krajcberg. Artistas como Abel Rodríguez, Minerva Cuevas, Hulda Guzmán, Clarissa Tossin – que terá a primeira exposição institucional no Brasil –, além das tradicionais arpilleras, engrossarão o caldo da discussão.
Em um ano em que os brasileiros vibram na torcida pelo oscar do filme nacional “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, um dos pontos altos do programa também deve ser a abertura da videoinstalação “Lina Bo Bardi – A Marvellous Entanglement” de Isaac Julien, que é interpretado pelas atrizes brasileiras. Gravado em São Paulo (no MASP, no Sesc Pompeia, no Teatro Oficina) e em Salvador (no Museu de Arte Moderna, no Restaurante Coaty e no Teatro Gregório de Mattos), a obra interpreta os escritos de Lina Bo Bardi, que projetou o museu paulista.
Como é clássico do ciclo de “histórias” no MASP, outro destaque será a apresentação da coletiva homônima à temática anual, que abordará questões urgentes sobre o meio ambiente através de perspectivas históricas e contemporâneas.
Ainda vale citar a reinauguração do vão livre, agora com propostas do próprio museu, que apresentará duas gangorras coletivas de Iván Argote, artista colombiano que em 2024 participou da 60ª Bienal de Veneza e instalou uma escultura no High Line de Nova York.
Meio ambiente como pauta
Para além do MASP, as discussões sobre sustentabilidade devem aquecer o circuito de arte nacional, impulsionados pela COP 30 – 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que em 2025 acontecerá em Belém, Pará, além da Semana dos Museus (UNESCO), em junho, que será dedicada ao tema “Natureza e Cultura”, coincidindo com a Semana Nacional do Meio Ambiente.
A exemplo disso, podemos citar a segunda edição da Bienal das Amazônias, em Belém, programada para o segundo semestre de 2025, sob curadoria de Manuela Moscoso, a exposição “Formas das águas”, que abrirá em janeiro no MAM-Rio, e “Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará”, uma coletiva de fotógrafas da Amazônia Brasileira no CCBB de São Paulo.
Pinacoteca com o Pop Brasileiro
O complexo Pina, que contempla as unidades Luz, Estação e Contemporânea, preparou uma programação robusta que explora as concepções de “pop” e “popular”, conectando-as aos debates contemporâneos sobre cultura de massa. Enquanto o termo “pop” é associado ao movimento norte-americano e a nomes como Andy Warhol – símbolo de recordes em leilões –, o “popular” remete às produções de artistas autodidatas, especialmente do Sul Global e de culturas não ocidentais, frequentemente subestimadas em valor.
Entre os destaques do programa, a Pinacoteca Luz abrirá em março a exposição “Tecendo a manhã: experiência noturna na arte do Brasil”, que se debruçará sobre as festividades noturnas e suas figuras folclóricas que acompanham o imaginário coletivo, por meio de obras de artistas ao longo do século XX.
Na Pina Contemporânea, em maio, a exposição coletiva “Pop Brasil” revisita os 60 anos das emblemáticas mostras “Opinião 65”, no MAM do Rio de Janeiro, e “Propostas 65”, na FAAP de São Paulo, que colocaram em evidência a realidade do Brasil ditatorial e apresentou pela primeira vez trabalhos icônicos, como os Parangolés de Hélio Oiticica. Em diálogo, a Pina Estação estará apresentando paralelamente a retrospectiva de Flávio Império, figura central da organização dessas duas exposições históricas e ativo participante dos debates em torno da arquitetura no Brasil.
Com exposições de nomes como Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Ad Minoliti, Paulo Pedro Leal e Lucy Citti Ferreira, o museu amplia as discussões sobre o que são as estéticas pop.
Com a instalação no Octógono de Mônica Ventura, a sala de vídeo de Olinda Tupinambá e a mostra coletiva “Macunaíma é Duwyd”, curada por Gustavo Caboco para a Pina Estação, o diálogo com ancestralidade e representações afro-ameríndias também é evidenciado na temática anual. Outro recorte manifesto é o entrosamento com a investigação pictórica, gráfica e material, contando com exposições de Magna Ledora, Neide Sá, Juliana dos Santos e Dominique Gonzalez-Foerster.
No segundo semestre, “Trabalho de Carnaval” na Pina Contemporânea abordará a anual festividade brasileira como um fenômeno de criação coletiva, que envolve tradição e transmissão de conhecimentos, e é essencial para a geração de renda e empregabilidade no Brasil.
E não podemos deixar de citar que em 2025 o Parque da Luz celebra seu bicentenário com uma renovação curatorial em seu Jardim de Esculturas – exposição criada nos anos 2000 por Emanuel Araújo, com curadoria de Agnaldo Farias. Integrando o espaço entre os edifícios Pina Luz e Pina Contemporânea, o parque ganha uma nova mostra que apresentará trabalhos de artistas como Anna Maria Maiolino, Jorge dos Anjos e Denilson Baniwa, entre outros.
Individuais de destaque nas unidades do SESC
Logo em janeiro, o Sesc Santo André, em parceria com a Casa do Olhar, Instituto de Arte Contemporânea (IAC) e a galeria Almeida & Dale, abrirá uma exposição inédita em homenagem ao centenário de Luiz Sacilotto.
Antes de exibir a obra “Estás Vendo Coisas” (2016) na sala de vídeo da Pina, Barbara Wagner e Benjamin de Burca devem inaugurar “Espelho do poder”, sua primeira exposição monográfica em São Paulo, no Sesc Avenida Paulista, em fevereiro.
No Sesc Pompeia, o primeiro semestre terá como destaque a exposição da goiana Sallisa Rosa como parte do projeto Ofício, e de Antoni Muntadas, espanhol radicado nos Estados Unidos.
No segundo semestre do ano, após uma temporada de sucesso no MAR, no Rio de Janeiro, e no MUNCAB, em Salvador, a individual “Oná Ìrìn: Caminho de Ferro” de Nádia Taquary, que produz esculturas a partir da investigação da joalheria afro-brasileira, deve chegar ao Sesc Belenzinho.
36ª Bienal de São Paulo
A 36ª Bienal de São Paulo traz o tema “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, com curadoria de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung. A mostra se desdobra em três eixos: desaceleração e escuta, reflexão sobre o outro e os encontros em contextos de decolonialidade. Com o título inspirado no poema “Da calma e do silêncio” de Conceição Evaristo, a Bienal busca fomentar reconexões com a natureza e com os outros, subvertendo estruturas de poder.
14ª Bienal do Mercosul
Em Porto Alegre, a 14ª Bienal do Mercosul finalmente acontecerá a partir de 27 de março, após adiamentos devido às enchentes de 2024. Com o tema “Estalo”, a exposição explora transformações sutis e radicais no tempo e no espaço. Reunindo 76 artistas de diferentes regiões, a Bienal enfatiza o intercâmbio entre arte e vida, refletindo sobre mutações e incertezas contemporâneas.