O que esperar do circuito de arte em 2025?

Fique por dentro das principais exposições programadas para este ano no Brasil, que prometem guiar temas como ecologia, ancestralidade e identidade social

por Giovana Nacca
7 minuto(s)
Zanele Muholi, “Ntozakhe II. Parktown”, 2016

Com 2024 no retrovisor, nossos olhos já estão mirando as grandes exposições e os temas que vão se sobressair no ano de 2025 no cenário nacional. Com três Bienais brasileiras e com a abertura de novos espaços, como o edifício Pietro Maria Bardi, que deve dobrar a capacidade expositiva do MASP, este ano, mais uma vez, promete ser intenso, além de marcado por reflexões sobre ecologia, cultura popular, representação e ancestralidade. Confira os destaques programados e, a partir deles, as temáticas que estarão no centro das discussões do circuito:

Zanele Muholi no IMS Paulista

O ano do Instituto Moreira Salles de São Paulo contará com exposições do povo indígena Paiter Suruí, de Luiz Braga, de Gordon Parks e de Agnès Varda. Mas as maiores expectativas estão especialmente direcionadas para a grande retrospectiva que abre a programação do museu no dia 22 de fevereiro: Zanele Muholi. Sendo um dos nomes mais aclamados da fotografia contemporânea mundial, Muholi trará suas pesquisas sobre identidades negras e LGBT+ para o nosso país, apresentando séries icônicas como “Faces and Phases” e “Somnyama Ngonyama”, além de trabalhos inéditos produzidos no Brasil. 

Histórias da ecologia no MASP

A programação do MASP já inicia com a abertura de cinco exposições simultâneas no dia 28 de março, inaugurando o edifício Pietro Maria Bardi com grande força. Com quatorze exposições, além de seis filmes na sala de vídeo e do acervo permanente que se mantém em transformação, o ano de 2025 no museu, segundo o mesmo, será inteiramente dedicado ao tema “Histórias da ecologia”. A proposição explorará diferentes possibilidades de recortes entre as temáticas “arte” e “natureza”, desde algumas mais inesperadas, como as individuais dos impressionistas Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir e a coletiva de concretos e neoconcretos, chamada “Geometrias”, até outras mais clássicas, contando com grandes nomes deste ativismo, como Frans Krajcberg. Artistas como Abel Rodríguez, Minerva Cuevas, Hulda Guzmán, Clarissa Tossin – que terá a primeira exposição institucional no Brasil –, além das tradicionais arpilleras, engrossarão o caldo da discussão. 

Isaac Julien, “Lina Bo Bardi – A Marvellous Entanglement”, 2023. Cortesia do artista

Em um ano em que os brasileiros vibram na torcida pelo oscar do filme nacional “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, um dos pontos altos do programa também deve ser a abertura da videoinstalação “Lina Bo Bardi – A Marvellous Entanglement” de Isaac Julien, que é interpretado pelas atrizes brasileiras. Gravado em São Paulo (no MASP, no Sesc Pompeia, no Teatro Oficina) e em Salvador (no Museu de Arte Moderna, no Restaurante Coaty e no Teatro Gregório de Mattos), a obra interpreta os escritos de Lina Bo Bardi, que projetou o museu paulista. 

Como é clássico do ciclo de “histórias” no MASP, outro destaque será a apresentação da coletiva homônima à temática anual, que abordará questões urgentes sobre o meio ambiente através de perspectivas históricas e contemporâneas. 

Ainda vale citar a reinauguração do vão livre, agora com propostas do próprio museu, que apresentará duas gangorras coletivas de Iván Argote, artista colombiano que em 2024 participou da 60ª Bienal de Veneza e instalou uma escultura no High Line de Nova York. 

Meio ambiente como pauta

Para além do MASP, as discussões sobre sustentabilidade devem aquecer o circuito de arte nacional, impulsionados pela COP 30 – 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que em 2025 acontecerá em Belém, Pará, além da Semana dos Museus (UNESCO), em junho, que será dedicada ao tema “Natureza e Cultura”, coincidindo com a Semana Nacional do Meio Ambiente. 

A exemplo disso, podemos citar a segunda edição da Bienal das Amazônias, em Belém, programada para o segundo semestre de 2025, sob curadoria de Manuela Moscoso, a exposição “Formas das águas”, que abrirá em janeiro no MAM-Rio, e “Vetores-Vertentes: Fotógrafas do Pará”, uma coletiva de fotógrafas da Amazônia Brasileira no CCBB de São Paulo.

Pinacoteca com o Pop Brasileiro

O complexo Pina, que contempla as unidades Luz, Estação e Contemporânea, preparou uma programação robusta que explora as concepções de “pop” e “popular”, conectando-as aos debates contemporâneos sobre cultura de massa. Enquanto o termo “pop” é associado ao movimento norte-americano e a nomes como Andy Warhol – símbolo de recordes em leilões –, o “popular” remete às produções de artistas autodidatas, especialmente do Sul Global e de culturas não ocidentais, frequentemente subestimadas em valor.

Teresinha Soares, “Caixa de fazer amor”, 1927. Acervo Pinacoteca.

Entre os destaques do programa, a Pinacoteca Luz abrirá em março a exposição “Tecendo a manhã: experiência noturna na arte do Brasil”, que se debruçará sobre as festividades noturnas e suas figuras folclóricas que acompanham o imaginário coletivo, por meio de obras de artistas ao longo do século XX. 

Na Pina Contemporânea, em maio, a exposição coletiva “Pop Brasil” revisita os 60 anos das emblemáticas mostras “Opinião 65”, no MAM do Rio de Janeiro, e “Propostas 65”, na FAAP de São Paulo, que colocaram em evidência a realidade do Brasil ditatorial e apresentou pela primeira vez trabalhos icônicos, como os Parangolés de Hélio Oiticica. Em diálogo, a Pina Estação estará apresentando paralelamente a retrospectiva de Flávio Império, figura central da organização dessas duas exposições históricas e ativo participante dos debates em torno da arquitetura no Brasil.

Barbara Wagner e Benjamin de Burca, “Estás Vendo Coisas”, 2016

Com exposições de nomes como Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Ad Minoliti, Paulo Pedro Leal e Lucy Citti Ferreira, o museu amplia as discussões sobre o que são as estéticas pop. 

Com a instalação no Octógono de Mônica Ventura, a sala de vídeo de Olinda Tupinambá e a mostra coletiva “Macunaíma é Duwyd”, curada por Gustavo Caboco para a Pina Estação, o diálogo com ancestralidade e representações afro-ameríndias também é evidenciado na temática anual. Outro recorte manifesto é o entrosamento com a investigação pictórica, gráfica e material, contando com exposições de Magna Ledora, Neide Sá, Juliana dos Santos e Dominique Gonzalez-Foerster.

No segundo semestre, “Trabalho de Carnaval” na Pina Contemporânea abordará a anual festividade brasileira como um fenômeno de criação coletiva, que envolve tradição e transmissão de conhecimentos, e é essencial para a geração de renda e empregabilidade no Brasil. 

E não podemos deixar de citar que em 2025 o Parque da Luz celebra seu bicentenário com uma renovação curatorial em seu Jardim de Esculturas – exposição criada nos anos 2000 por Emanuel Araújo, com curadoria de Agnaldo Farias. Integrando o espaço entre os edifícios Pina Luz e Pina Contemporânea, o parque ganha uma nova mostra que apresentará trabalhos de artistas como Anna Maria Maiolino, Jorge dos Anjos e Denilson Baniwa, entre outros.

Individuais de destaque nas unidades do SESC

Logo em janeiro, o Sesc Santo André, em parceria com a Casa do Olhar, Instituto de Arte Contemporânea (IAC) e a galeria Almeida & Dale, abrirá uma exposição inédita em homenagem ao centenário de Luiz Sacilotto.

Antes de exibir a obra “Estás Vendo Coisas” (2016) na sala de vídeo da Pina, Barbara Wagner e Benjamin de Burca devem inaugurar “Espelho do poder”, sua primeira exposição monográfica em São Paulo, no Sesc Avenida Paulista, em fevereiro.

No Sesc Pompeia, o primeiro semestre terá como destaque a exposição da goiana Sallisa Rosa como parte do projeto Ofício, e de Antoni Muntadas, espanhol radicado nos Estados Unidos. 

No segundo semestre do ano, após uma temporada de sucesso no MAR, no Rio de Janeiro, e no MUNCAB, em Salvador, a individual “Oná Ìrìn: Caminho de Ferro” de Nádia Taquary, que produz esculturas a partir da investigação da joalheria afro-brasileira, deve chegar ao Sesc Belenzinho.

“Oná Ìrìn: Caminho de Ferro”, de Nádia Taquary, no MAR. Reprodução

36ª Bienal de São Paulo 

A 36ª Bienal de São Paulo traz o tema “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, com curadoria de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung. A mostra se desdobra em três eixos: desaceleração e escuta, reflexão sobre o outro e os encontros em contextos de decolonialidade. Com o título inspirado no poema “Da calma e do silêncio” de Conceição Evaristo, a Bienal busca fomentar reconexões com a natureza e com os outros, subvertendo estruturas de poder.

14ª Bienal do Mercosul

Em Porto Alegre, a 14ª Bienal do Mercosul finalmente acontecerá a partir de 27 de março, após adiamentos devido às enchentes de 2024. Com o tema “Estalo”, a exposição explora transformações sutis e radicais no tempo e no espaço. Reunindo 76 artistas de diferentes regiões, a Bienal enfatiza o intercâmbio entre arte e vida, refletindo sobre mutações e incertezas contemporâneas.

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