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O que é racismo ambiental?

Carollina Lauriano seleciona obras que estarão na SP Arte e que denunciam as relações entre crimes ambientais e violências étnico-raciais.

por Beta Germano
Laryssa Machada
Laryssa Machada

Já sabemos que o mundo está prestes a entrar em colapso, e não é de hoje: a crise climática está descontrolada e saiu hoje o último relatório do  Observatório do Clima – série que monitorou a destruição ambiental ao longo da gestão Bolsonaro – e a coisa está feia para o  nosso lado. 

  • maior aumento de desmatamento na Amazônia em um mandato presidencial desde o início da série histórica (60% em relação ao período anterior);
  • maior alta nas emissões de gases estufa em 19 anos;
  • aumento de 212% nas invasões e de 125% no garimpo em Terras Indígenas;

Em paralelo, compreendemos também as questões que envolvem representatividade, direitos e injustiças raciais têm ganhado protagonismo no mercado de arte nos últimos anos, em especial depois do revival do #blacklivesmatter durante o isolamento social do COVID-19, apesar de serem problema enfrentados pela sociedade brasileira há mais de 500 anos. 

Mas como esses dois assuntos aparentemente distintos se relacionam? Os conceitos de “racismo ambiental” ou “colonialismo climático” evidenciam como a degradação ambiental impacta mais intensamente as populações étnico-racializadas. Se de um lado, tivemos colonizadores com mentalidade extrativista destruindo nossa fauna e flora; do outro, vemos nações depositando lixo ou resíduos tóxicos em sociedades historicamente mais vulneráveis. É o caso, por exemplo, de países como Quênia e Benin.  Na última Documenta em Kassel, por exemplo, o coletivo multidisciplinar The Nest Collective revelou que das 80 mil toneladas de roupas de segunda mão que chegam no Quênia como “doação” de outros países, 40% não pode ser usado ou utilizado, é puro lixo depositado no país. Já o artista Romuald Hazoumè cria máscaras feitas a partir da junção de pedaços de galões de óleo e outros materiais reciclados para denunciar o transporte ilegal de petróleo da Nigéria e as suas consequências ligadas à crise climática. 

Rubem Valentim

Conectada com o tema, a curadora Carollina Lauriano organizou a exposição  Recuperar paraísos: não precisar do fim para chegar que vai abrir dentro da SP Arte, na próxima quarta-feira, dia 28 de março, no novo setor curatorial da feira chamado “Showcase”. “É uma espécie de ampliação da minha pesquisa que questiona, há algum tempo, como sociedades historicamente extrativistas lidam com corpos vulneráveis”, explica a curadora. A base de sua pesquisa está nas publicações do martinicano Malcom Ferdinand que explora uma visão caribenha do extrativismo colonial e nega a  cisão entre os movimentos sociais antirracistas e as discussões ambientais e ecológicas – um falso antagonismo herdado pelo colonialismo.  

Úyra
Úyra

“Mas essa pauta não é nova, ela está sendo discutida no campo das artes desde os anos 1970. É que agora o planeta está totalmente esgotado e a questão tornou-se ainda mais urgente”, explica a curadora que fez questão de incluir obras da “velha guarda” das artes para mostrar a potência dos que abriram portas para as realizações atuais. É o caso de Rubem Valentim, que está na galeria Almeida & Dale; ; Emanoel Araújo, na Simões de Assis; e Rosana Paulino, com obra presente na Mendes Wood DM. “Escolhi a obra Geometria à brasileira da Rosana Paulino, onde ela mostra que o Brasil estava mais preocupado em falar sobre forma do que sobre questões urgentes ligada ao processo colonial no país como o racismo e a crise ambiental”, revela.

Rebeca Carapiá
Rebeca Carapiá

A ideia de racismo ambiental está diretamente ligada a um pensamento colonizador-extrativista que não se preocupa em preservar a natureza das comunidades exploradas; esgota a terra; e, se constrói em torno do consumo desenfreado que gera lixo jogado de volta nos países colonizados. Nesse sentido, e lembrando que estamos falando de “corpos vulneráveis”, as questões indígenas não poderiam ficar de fora. Pensando nisso, Lauriano selecionou uma fotografia pouco vista de Claudia Andujar, onde ela traz uma investigação sobre feminilidade, na Galeria Vermelho; um trabalho de Frederico Filippi, que sugere reflexões sobre territorialidade amazônica e sobre os avanços do garimpo ilegal, na galeria Athena; um desenho do artista indígena Aislan Pankararu, na Galatea; e, uma foto de Úyra, na C.Galeria.

Entre os artistas mais jovens, ela selecionou trabalhos recentes de Jaime Lauriano, na galeria Nara Roesler; Panmela Castro, na galeria Luisa Strina; Rebeca Carapiá, na galeria Leme; e,  Maré de Matos, na galeria Lume. Laryssa Machada, na Asfalto, fecha a lista sugerindo uma ideia de futuro totalmente desconstruída. Talvez essa seja nossa única chance de sobrevivência! 

EM TEMPO: O Showcase é uma exposição que se espalha por 13 estandes do evento.  Dentro destes espaços, o visitante vai se deparar com uma parede extra ou uma sala, apresentando obras dos artistas selecionados por Lauriano e reunidos sob uma mesma temática.  

Aislan Pankararu
Aislan Pankararu

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