Nova exposição no Rio traz encontros poéticos entre a arte e a maternagem

Bárbara Milano, Mônica Ventura, Nazaré Soares, Arcasi, Thaís Basilio e Mariana Maia inauguram a exposição “Maternagem: percepções sobre o nascer” no Sesc Duque de Caxias

por Giovana Nacca
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MÃE, 2019, Bárbara Milano

“Amo meu filho, mas detesto a maternidade” é uma frase que vem se naturalizando ao longo dos últimos anos e gerando bastante identificação entre diversas comunidades maternas. O contexto que envolve essa nova fase da vida gera uma ambivalência de sentimentos repletos de prazeres e angústias. “Ser mãe” está atrelado a uma série de comportamentos e papéis esperados socialmente, sendo estes intimamente ligados ao que é “ser mulher”. No próximo sábado, dia 04 de março, a exposição Maternagem: percepções sobre o nascer, realizada pela plataforma Artistas Latinas em parceria com o SESC Rio, abre suas portas na unidade Duque de Caxias trazendo reflexões profundas e tocantes a partir das experiências de artistas.

A mostra é um desdobramento da individual de título homônimo da artista Bárbara Milano, realizada na Oficina Cultural Alfredo Volpi, em São Paulo, há cerca de dois anos. Na ocasião, a artista também convidou Mônica Ventura e sua própria mãe, Nazaré Soares, para agregarem à mostra e exibirem seus trabalhos. Já na nova roupagem deste ano, agora em forma de coletiva e com subtítulo, a mostra inclui mais três nomes: Arcasi, Thaís Basilio e Mariana Maia.

A curadora Carolina Rodrigues, que possui uma ampla pesquisa a respeito das intersecções sobre arte, maternidade e negritude, além de integrar o conselho curatorial da plataforma Mulheres Latinas, explica que a maioria dessas artistas têm em comum uma vivência traumática como marcas de suas trajetórias. E não à toa, afinal, a maternidade e a vivência das mulheres como um todo são estruturadas sob um sistema das mais diversas opressões, atravessando muitas vezes a solidão, perdas, violências físicas e psicológicas. Mas nada disso é ponto de partida ou ponto final, muito menos objeto de protagonismo. Pelo contrário, estas seis mulheres apresentam uma trama de trabalhos que exaltam suas forças, o nascimento de novos caminhos e a maternagem como um elo que coloca a geração que está vindo no mesmo grau de importância que aquela que a recebe.

Ao se deparar com uma mesa, o visitante pode ler a inscrição na louça posta sobre ela que diz “mantenha-se viva por todas as mulheres que não puderam chegar até aqui”. A instalação de Arcasi é um exemplo claro de obra que denuncia a violência de gênero, mas que também possui uma camada de encorajamento.

Colo, 2022, Thaís Basílio

Thaís Basílio também pauta a maquinização do corpo da mulher em suas figurações pictóricas que possuem as cabeças substituídas por uma engrenagem, enquanto celebra a conexão e afeto entre a mãe o bebê que ela segura, sugerindo que uma engrenagem não opera sem a outra.

Já a obra Rosa de Mariana Maia, uma rodilha com a foto da mãe da artista estampada no centro, faz referência a canção de Pixinguinha não apenas em seu título, mas também nas transcrições da letra da música dentro do objeto. Esta, que faz parte da série coroação, enaltece a figura materna como uma divindade e ao mesmo tempo honra o seu labor mais humano. Nela, Mariana referencia o trabalho de sua mãe que lavou roupas para sustentar os filhos, como também entende a rodilha carregada na cabeça como uma alusão à Ori e à transmissão dos saberes através das gerações.

Rosa, 2022, Mariana Maia

A mostra também contará com um programa educativo paralelo no ambiente virtual e presencial, com o objetivo de mergulhar na temática tanto pelo viés criativo, quanto pela abordagem de questões urgentes de vulnerabilidades sociais e estratégias possíveis para subverter esse sistema. Fique por dentro através das redes sociais do Artistas Latinas.

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