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Leandro Erlich expõe “A tensão” no CCBB de São Paulo com curadoria de Marcello Dantas

Obras desenvolvidas ao longo de 30 anos do artista adquirem novos significados depois do surgimento das redes sociais e isolamento social

por Giovana Nacca
Leandro Erlich
Vista de Swimming pool, 1999 

Primeiro Belo Horizonte, depois Rio de Janeiro, e agora São Paulo. Por onde quer que passe, os trabalhos de Leandro Erlich, muito antes da itinerância pelos CCBB’s, sempre tomam conta das redes sociais com fotos divertidas e ditas “instagramáveis”. Mas o que era instagramável em 1999, por exemplo, quando o artista fez a obra Piscina e nem sonhávamos com a tal rede social que veio surgir apenas em 2010? 

A exposição A Tensão no Centro Cultural Banco do Brasil reúne obras dos últimos 30 anos do artista. Mas parece que, recentemente, todas elas adquiriram novas camadas de interpretações e significados. Num mundo – e ainda mais num país – onde muitas fakenews são tão difundidas por meio de imagens descontextualizadas ou distorcidas, as obras de Erlich reforçam que não se pode acreditar em tudo o que se vê. 

Ainda que antecedam a existência do Instagram, é quase impossível não pensar na relação de seus trabalhos com a plataforma, seja pela maneira como eles são potencializados nos enquadramentos da fotografia, seja pela relação firmada em cima de curiosidade e distorção do real que as redes sociais se apropriaram ao longo dos anos. Mas vale dizer, que essa exposição não tem obras interativas, visto que nada é manipulado pelas mãos do visitante, ainda que, sem dúvidas, seja participativa e só tenha significado a partir daí.

A mostra no Centro Cultural está tomada por diversas obras em formatos de janelas, que ora carregam o discurso da comum curiosidade sobre a vida alheia, e ora nos remetem sobre o estado de pandemia e isolamento social. Nessas primeiras, o que menos importa é o objeto em si ou aquilo que você vê através delas, mas sim a nossa postura diante dele – afinal não existe obra de Leandro Erlich sem espectador. A exemplo disso, a obra The view escancara uma cena comumente ocorrida no nosso cotidiano por trás das cortinas, dentro de casa, vemos as janelas dos apartamentos do prédio vizinho. Para se aproximar da obra e bisbilhotar as imagens por trás das cortinas , é necessário nos assumirmos curiosos.

The View, 1997/2017 | Foto: Hasegawa Kenta

Além disso, toda a produção de Erlich é mundialmente conhecida por retratar “lugares-comuns”, recortes da rotina deslocados que subvertem a condição de “normalidade”, seja de forma mais abrupta ou quase imperceptível. É o caso da obra Global Express (2011), um vídeo que simula a janela de um trem em andamento, mostrando não apenas o cenário de uma única cidade e sim de diversas cidades geograficamente descontectadas umas das outras. A sutil transição entre as imagens faz alusão ao nosso mundo globalizado e hiperveloz, onde é possível, num mesmo dia, pegarmos um trem em Paris pela manhã e outro em São Paulo a noite, sem nos damos conta do entorno. 

Portanto, daí o convite à atenção que a sonoridade do título da exposição carrega, junto com um dos prováveis sentimentos de tensão que os visitantes podem sentir diante dos trabalhos do artista.

Global Express, 2011

Data: 13 de abril a 20 de junho
Funcionamento: de quarta a segunda, das 09h às 19h
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Endereço: R. Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP
Ingresso: Grátis | Podem ser reservados pelo aplicativo ou site Eventim.

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