Somos constituídos por multidões! Mais precisamente, nossos corpos são agregações
compostas por cerca de 100 trilhões (100.000.000.000.000) de células em cujo núcleo há
DNA de Homo sapiens, e esse fato nos define como humanos. No entanto, em nossos corpos
habitam até o dobro (200.000.000.000.000) de células de organismos não humanos
(principalmente bactérias). Em torno de 1kg a 1,5kg de nosso peso na balança corresponde a
esses componentes inumanos de nosso ser, sem os quais não seríamos funcionalmente
completos, e não poderíamos sobreviver.
Nossa individualidade tem assim uma dupla dimensão: pertencemos a um ambiente, e somos
um ambiente. Cada um de nós é também um ecossistema em si próprio, igualmente dinâmico, e inteiramente singular – os conjuntos de micro-organismos convivendo em cada um de nós, os nossos microbiomas, têm distribuições únicas de espécies, sendo bem mais distintos entre si que nossas impressões digitais.
Partindo da compreensão dessas manifestações da vida biológica, a exposição itinerante do
Busão Arte & Ciência – um ônibus de 15 metros que abriga obras de artes e experimentos interativos – busca, com uma pitada de humor, nos mostrar como elas se relacionam
com a dimensão maior da nossa existência.
Idealizado e curado por Marcello Dantas em parceria com Luiz Alberto Oliveira, ex-curador do Museu do Amanhã, o projeto é uma realização da Carioca DNA e da Das Lima Produções. Dantas destaca que, em razão da pandemia do Covid-19, as pessoas acabaram aprendendo
mais sobre uma série de processos não perceptíveis a olho nu, mas que mudam o curso da
história. E segundo a equipe educativa: “essa exposição é uma maneira que encontramos de
apresentar esses múltiplos seres que constituem, conosco, o que cada um de nós é.”
Um dos destaques da exposição são as fotografias do artista Vik Muniz que, em parceria com
o engenheiro biomédico Tal Danino, fez retratos bacteriológicos de personalidades
brasileiras. Nelas, pode-se observar a mais completa biometria de um ser humano: a
microflora do umbigo (mais identitária do que qualquer outra forma de tornar único um
indivíduo).
Outra imperdível obra é “A vida vem da luz invisível — Os povos que moram no nosso corpo”
desenvolvida especialmente para o Busão pelo artista Jaider Esbell (1979-2021), que faz
alusão à constante metamorfose que é a vida.
Já Suzana Queiroga, propõe um mergulho no habitat das bactérias, com uma instalação que
permitirá ao visitante interagir com uma simulação do ambiente desses seres microscópicos.
Com recortes em placas de policarbonato alveolar adesivado em cores transparentes, ela construiu uma obra que terá cerca de 300x210x240m. Suzana mesclou o conceito das placas
de Petri — usadas para o cultivo e análise de micro-organismos em laboratório — com a
proposta de sua série “O mundo segue indiferente a nós”. Através da superposição de layers
de papeis coloridos, a artista visual carioca trabalha a ideia de redes diversas, desde os
neurônios até as tramas das cidades, os fluxos dos líquidos, a diversidade dos desenhos moleculares, a microbiologia e o tecido cósmico.
Entre os pontos de parada estão a Praça Mauá, o Parque Madureira e a Praça Santos
Dumont, e a itinerância está prevista para encerrar dia 24 de fevereiro de 2022