De 23 a 27 de setembro, o Instituto Tomie Ohtake realiza o seminário Ensaios para o Museu das Origens: políticas da memória. Resultado de extensa pesquisa dos curadores Ana Roman, Izabela Pucu e Paulo Miyada, o evento reúne uma gama inédita de representantes de instituições, coletivos e pessoas mobilizadas em manter e difundir a memória das bases culturais brasileiras, muitas vezes atravessadas por práticas de apagamento da história. Dedicado a discutir as políticas de memória e as maneiras pelas quais elas são preservadas e compartilhadas, o seminário conta, ainda, com Daiara Tukano, Mario Chagas e a Plataforma Mario Pedrosa atual como organizadores convidados de sessões específicas.
As atividades propostas são presenciais, pagas e abertas ao público em geral mediante inscrição prévia. Bolsas integrais de participação serão oferecidas para grupos prioritários. Os interessados podem se inscrever para as mesas e conferências de um único dia ou adquirir um pacote com desconto e acompanhar os cinco dias de programação — formato imersivo incentivado pelo Instituto. As inscrições para as oficinas são individuais e sujeitas à lotação. O seminário conta com o patrocínio da Petrobras, através do Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura, Programa Nacional de Apoio à Cultura e Governo Federal – Brasil, União e Reconstrução.
Este seminário abrange múltiplos temas, desde processos de restituição e reparação contracolonial de acervos até a patrimonialização de bens culturais imateriais, passando por testemunhos da criação e renovação de lugares de memória de diversas escalas, contextos e campos de conhecimento.Haverá também espaço para discutir a Proposta para a Fundação do Museu das Origens, documento redigido por Mario Pedrosa e que foi disparador desta pesquisa e da exposição “Ensaios para o Museu das Origens”, realizada pelo Instituto em parceria com o Itaú Cultural, entre setembro de 2023 e janeiro de 2024. Durante as mobilizações pela reconstrução do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, após o seu incêndio em 1978, o crítico propôs reunir 5 museus: Museu de Arte Moderna, Museu do Índio e Museu de Imagens do Inconsciente, Museu do Negro e Museu das Artes Populares. Naquela época, em meio às tentativas de redemocratização do Brasil após 20 anos de ditadura, essa proposta não foi sequer discutida, ainda que colocasse em questão a fragilidade das políticas públicas para os museus, a participação do campo cultural nos processos políticos e as narrativas instituídas acerca das origens do Brasil.
Distante de nós há pouco mais de quatro décadas, essa proposição nos ajuda a rever o que estava em jogo naquele contexto e, especialmente, o que segue premente em nosso panorama político e cultural. Ela impulsiona debates contemporâneos sobre atos de apagamento e violência que compõem a nossa memória com vistas à elaboração conjunta de propostas que nos permitam imaginar e instituir outros futuros para os museus e as políticas da memória.
PROGRAMAÇÃO GERAL
23 a 27 de setembro de 2024
Mesas, oficinas e conferências – Instituto Tomie Ohtake
Noite de encerramento – Casa do Povo
Inscrições mesas e conferências aqui
Biografias dos participantes aqui
Programação dia a dia
23 de setembro, segunda-feira
Manhã – 9h às 12h30
Recepção e cadastramento dos ouvintes. Falas institucionais e apresentação pelos organizadores
Tarde – 14h às 17h
Mesa-redonda Gestos instituintes no Brasil: outros modos de fazer memória
Participantes: Andréa Hygino; Carmen Silva; Nelson Sanjad e Sidnéa Santos
Debatedora: Lilian Kelian
Sinopse: Encontro entre esforços coletivos de articulação para a constituição de lugares de interesse público que abrangem a construção de memórias e repertórios compartilhados – incluindo perspectivas acerca da Galeria Reocupa da Ocupação 9 de Julho (SP), da história afro-brasileira de Ouro Preto (MG), do Museu Paraense Emilio Goeldi (PA) e do Cais do Valongo (RJ). Entre modos de organização colaborativa, disputas por legitimidade de grupos sociais e interpelações à sociedade, os casos discutidos são exemplos de gestos que contribuem para a instituição de políticas da memória no Brasil.
Noite – 18h30 às 21h
Conferência Memória em movimento: reparações, restituições e políticas da vida
Participantes: Glicéria Tupinambá e Manthia Diawara
Debatedor: Paulo Miyada
Sinopse: Encontro de duas perspectivas críticas acerca de processos de restituição de patrimônios africanos e indígenas em territórios europeus. Glicéria Tupinambá trará sua experiência junto ao Manto Tupinambá como parte integral da identidade e cultura de seu povo, enquanto Manthia Diawara discutirá a partir de suas posições públicas acerca das políticas de repatriação de objetos africanos espoliados por nações europeias. Seus depoimentos são testemunhos de que o que está em jogo é mais amplo do que o deslocamento material de objetos museológicos.
24 de setembro, terça-feira
Manhã – 10h às 12h30
Oficina A Imaginação instituinte de Mario Pedrosa e os museus: estudos de caso / parte 1
Participantes: Glaucia Villas Bôas; Luiza Mader e Sabrina Parracho
Sinopse: Com apoio de bibliografia e de material documental do crítico Mario Pedrosa, serão discutidas as proposições do Museu de Imagens do Inconsciente (1952), dos museus modernos brasileiros, do Museu de Brasília (1958), da VI Bienal de São Paulo (1961) e do Core da Universidade de São Paulo (1962).
Oficina Reconhecimento e patrimonialização de práticas e bens culturais imateriais
Participantes Milton Guran e Yussef Campos
Debatedora: Julia Cavazzini
Sinopse: Estudos de casos e reflexões sobre os dispositivos de patrimonialização no Brasil com panorama histórico e foco em conquistas e desafios que marcaram as últimas décadas e se descortinam para o futuro da articulação entre memória e política, incluindo a relevância da patrimonialização de bens culturais imateriais para os direitos indígenas e o processo de tombamento do sítio arqueológico do Cais do Valongo.
Tarde – 14h às 17h
Mesa redonda Memórias urgentes: arquivos, pesquisas e políticas públicas sobre a ditadura militar no Brasil
Participantes: Ana Pato; André Luís Sant’Anna; Dainis Karepovs e Gabrielle Abreu
Debatedores: Francisco Alambert e Juliana Alves
Sinopse: A pesquisa e o debate público sobre arquivos relativos às violências perpetradas pela ditadura militar no Brasil, assim como às resistências contra ela, constituem parte importante do fortalecimento da democracia. Trata-se, também, de práticas capazes de reconhecer protagonismos e resistências ainda pouco consideradas pela história nacional. A mesa reúne múltiplas perspectivas de pesquisa e gestão de acervos para exemplificar essas dinâmicas e debater políticas necessárias para instituí-las frente a processos de desarticulação e apagamento.
Noite – 18h30 às 21h
Conferência Museo del Barro e Museu das Origens: crítica instituinte e políticas da memória na América Latina
Participantes: Ana Roman; Izabela Pucu; Lia Colombino e Paulo Miyada
Debatedores: Gleyce Kelly Heitor e José Eduardo Ferreira Santos
Sinopse: Lia Colombino traz aspectos da história e do presente do pioneiro e abrangente Museo del Barro, criado em 1979, em Assunção (Paraguai), a partir da coleção iniciada por Olga Binder e Carlos Colombino; os organizadores do seminário trazem ponderações atuais sobre a proposição do Museu das Origens por Mario Pedrosa, em 1978, durante os debates para a recuperação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que havia sido acometido por um incêndio. Entre esses precedentes, forma-se uma conversa sobre possibilidades de imaginar práticas e políticas da memória imbuídas de projetos coletivos democráticos em sociedades marcadas por diferenças, exclusões e silenciamentos.
25 de setembro, quarta-feira
Manhã – 10h às 12h30
Oficina A Imaginação instituinte de Mario Pedrosa e os museus: estudos de caso / parte 2
Participantes: Izabela Pucu; Luciara Ribeiro e Patricia Corrêa
Sinopse: Com apoio de bibliografia e de material documental do crítico Mario Pedrosa, serão discutidas as proposições do Museu da Solidariedade (1972), Museu das Origens (1978) e Alegria de Viver, Alegria de Criar (1977).
Oficina Construção de acervos digitais
Participantes: Dalton Martins e Rafael Vitor Barbosa Sousa
Mediação: Ana Roman
Sinopse: A oficina introduz metodologias e práticas essenciais para a criação e manutenção de acervos digitais, abordando ferramentas de digitalização, organização, catalogação e preservação, com foco na aplicação prática e troca de experiências entre os participantes. Estarão reunidas experiências amadurecidas no desenvolvimento da plataforma digital Tainacan e em práticas de arquivo do Centro Cultural São Paulo.
Tarde – 14h às 17h
Mesa Memória do sagrado afro-ameríndio: coleções em disputa
Participação: Dandara Almeida; Fernando Gomes de Andrade; Hédio Silva; Marcelo Bernardo da Cunha e Mãe Nilce de Iãnsa
Debatedor e organizador: Mario Chagas
Sinopse: A mesa reúne, de forma inédita, lideranças religiosas, juristas e diretores de museus e institutos nos quais estão depositadas coleções de objetos sagrados de matriz afro-ameríndia, saqueados pelo Estado brasileiro em terreiros de Umbanda e Candomblé ao longo do século XX. Além de discutir a natureza conflituosa da formação desses acervos, o objetivo da mesa é estabelecer uma rede de cooperação entre essas instituições e os movimentos sociais.
26 de setembro, quinta-feira
Manhã – 10h às 12h30
Oficina Museus modernos no Brasil: herança histórica e desafios atuais
Participantes: Cauê Alves; Daniel Rangel; Fernanda Pitta e Pablo Lafuente
Debatedora: Amanda Sammour
Sinopse: Encontro entre profissionais envolvidos na condução do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, do Museu de Arte Contemporânea da Bahia, Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, visando uma troca franca e compartilhada sobre os desafios atuais dessas instituições e sobre o seu papel na constituição de políticas de memória dentro e fora do campo artístico.
Oficina Invenções no campo do acesso e da acessibilidade em museus
Participantes: Claudio Rubino; Divina Prado e Francisco Valdean
Sinopse: Discussões sobre estratégias práticas para ampliar o acesso e a acessibilidade em museus, focando em soluções inclusivas que atendam às necessidades de diversos públicos.
Tarde – 14h às 17h
Mesa-redonda Políticas da memória indígena
Participantes: Antônia Kanindé; Eliel Benites e Fernanda Kaingáng
Debatedora e organizadora: Daiara Tukano
Sinopse: Discussão sobre as perspectivas das políticas da memória indígena hoje, refletindo sobre ações em múltiplas escalas de atuação e sobre a urgente reelaboração crítica de lógicas e discursos forjados ao longo da história do país. Traz perspectivas do Museu Nacional dos Povos Indígenas, do Departamento de Línguas e Memória do Ministério dos Povos Indígenas e da Rede Indígena de Memória e Museologia Social do Brasil – Núcleo Ceará.
Noite – 18h30 às 21h
Conferência As memórias da Terra: o planeta como museu
Participantes: Elizabeth Povinelli; Eduardo Góes Neves
Debatedora: Ana Roman
Sinopse: Reunindo dois dos pesquisadores que mais têm colocado em xeque a distinção imposta pela modernidade entre as noções de natureza e cultura, a conferência parte da compreensão do próprio planeta Terra como guardião de memórias que desafiam nossos ideais de tempo e existência, propondo uma reflexão sobre o reconhecimento e a preservação dessas memórias no contexto contemporâneo a partir das variadas interseções entre os campos da antropologia e da arqueologia.
27 de setembro, sexta-feira
Manhã – 10h às 12h30
Oficina Dissidências de gênero: memória e resistência
Participantes: Amara Moira; Bruno Oliveira e Diambe
Debatedora: Julia Cavazzini e Kaya Fernanda Vallim
Sinopse: A oficina abordará dissidências de gênero como forças de memória e resistência, abordando histórias e vivências que desafiam normas estabelecidas. Com foco na linguagem como instrumento central, o encontro discutirá como as narrativas LGBTQIA+ são preservadas e divulgadas, utilizando a palavra como um espaço de luta e afirmação identitária. A sessão destaca o papel da linguagem na resistência contra opressões estruturais e na promoção da diversidade de vozes e perspectivas.
Oficina O Museu instantâneo
Participantes: Augusto Leal e José Eduardo Ferreira Santos
Debatedora: Sabrina Fontenele
Sinopse: A oficina propõe a criação de um museu coletivo. Os participantes compartilham as experiências de criação do Acervo da Laje (BA) e dos espaços da Residência Arte Comprida (BA), abordando a importância da participação coletiva na preservação da memória local e na valorização cultural, através de métodos práticos e colaborativos.
Tarde – 14h às 17h
Mesa Lugares de memória: arte, saúde, arqueologia e o sentido coletivo da cultura
Participantes: Elielton Ribeiro; Josi; Marian Rodrigues e Moacir dos Anjos
Debatedora: Sabrina Fontenele
Sinopse: Como instituições criadas para zelar de um campo da memória concebem suas atuações dentro de um sentido coletivo de cultura, em relação com territórios marcados por disputas, traumas e pautas sociais urgentes? Uma discussão entre lugares em processo de revisão de sua história e missão, incluindo perspectivas acerca do Museu de Arte Osório Cesar (SP), do Parque Nacional Serra da Capivara e do Instituto Olho d’Água (PI), do Museu do Homem do Nordeste (PE) e do Vale do Jequitinhonha (MG).
Noite – 19h às 22h (na Casa do Povo)
Confraternização e encerramento com pré-estreia do filme Estamos Aqui (2023/2024), de Yael Bartana com participação do Coral Tradição e do Bloco Afro Ilú Obá de Min, e show de Spirito Santo & MusikEletroFolk.
Serviço:
Seminário Ensaios para o Museu das Origens: políticas da memória
De 23 a 27 de setembro de 2024
Pacote (com desconto) para os cinco dias de programação: R$ 140,00 | Meia-entrada R$ 70,00
Inscrições para mesas e conferências por dia: R$ 35,00 | Meia-entrada R$ 17,50
Inscrições mesas e conferências aqui
Inscrições para oficinas: R$ 15,00 | Meia-entrada R$ 7,50