Individual de Gretta Sarfaty tensiona olhares fetichistas

A curadora Clarissa Diniz lança um novo olhar sobre a produção da artista em “Not Your Usual Gretta Sarfaty”, sediada na Central Galeria

por Giovana Nacca
3 minuto(s)
Vista da exposição “Not Your Usual Gretta Sarfaty”. Crédito: Ana Pigosso / Cortesia Central Galeria

Numa provocação voyeurística quem está no controle? Embora existam inúmeras representações artísticas que de nus masculinos que evidenciam o corpo como forma de exaltação da força e até da beleza, é importante nos questionarmos sobre quando, dentro da lógica heteronormativa, estes foram objetificados para o prazer visual de uma audiência feminina. O contrário, porém, não é nem preciso esforço para resgatar na memória.

No cerne de seu trabalho, Gretta Sarfaty usou a câmera fotográfica como dispositivo para investigar a si mesma, a partir de seu corpo e imagem. Contudo, tal exploração é um direito saqueado às mulheres, já que tais registros fotográficos frequentemente caem sob o olhar fetichista masculino assim que são exibidos. A partir desta percepção, emerge a proposta da curadora Clarissa Diniz, que lança um novo olhar sobre a produção da artista na individual “Not Your Usual Gretta Sarfaty”, sediada na Central Galeria em São Paulo. A exposição destaca uma espécie de vingança de Gretta, quando esta volta as lentes das câmeras para expor figuras masculinas também como objeto de desejo e discutir criticamente as construções sociais de masculinidade. 

Gretta, que construiu grande parte de sua vida e carreira no exterior devido ao distanciamento familiar após o divórcio, encontra agora uma fase de renascimento profissional no Brasil. Recentemente, ela integrou algumas exposições no país que deram destaque para seus autorretratos em fotografia. Agora, “Not Your Usual Gretta Sarfaty” expande seu escopo ao incorporar desenhos e pinturas, linguagens pouco conhecidas da artista até então.

Como explica Diniz no texto crítico que acompanha a mostra, “Sarfaty pertence à comunidade judaica, no seio da qual, como mulher, deveria cumprir o inquestionável rito de tornar-se esposa e mãe, dedicando a vida à manutenção da família”. Porém, a artista sempre respondeu incisivamente, por meio da arte, à estas condições que lhe foram impostas. Na obra “Evocative Recollections”, a artista, nua e deitada na cama, enclausura um gato preto e transfere à ele a sua experiência enquanto mulher. No lugar de uma maciça cela, um delicado mosquiteiro rendado nos faz questionar sobre quem está no controle e quem está condenado a este aprisionamento.

Vista da pintura “Evocative Recollections”. Crédito: Ana Pigosso / Cortesia Central Galeria

Na obra “Through a glass darkly”, Sarfaty exibe seu então marido, nu, trabalhando – e faz da atividade profissional de seu cônjuge objeto de fetiche e obra de arte. A performance que originalmente podia ser vista pelo público através do vidro de uma porta e hoje é exibida na exposição em forma de vídeo, aponta para a instalação “Étant donnés” de Marcel Duchamp. Esta, por sua vez, convidava o público a espiar, através de um par de orifícios numa antiga porta de madeira, o cenário pitoresco construído pelo artista. Em primeiro plano na cena encontrada, havia um corpo nu feminino fantasioso e reclinado, que sem mostrar seu rosto, tinha as pernas escancaradas para o visitante. 

Frame de Through a glass darkly, 2010, Gretta Sarfaty

Antecipando os atuais aplicativos de namoro, no final da década de 1980, Sarfaty realizou a obra “My single life in New York” , que consistiu em encontros marcados por meio de anúncios de jornal. Mas, ao contrário da lógica dos aplicativos, a artista descreveu em seu anúncio as características dos homens que fossem de seu interesse afetivo e sexual. Depois de analisar as cartas de “candidaturas”, ela selecionou alguns e os levou para um date que foi filmado e exibido na exposição.

Frame de My single life in new york, 1987, Gretta Sarfaty

Serviço:

Gretta Sarfaty: NOT YOUR USUAL GRETTA SARFATY
Local: Central GaleriaEndereço: Rua Bento Freitas, 306 – Vila Buarque – São PauloVisitação até 23 de setembro 2023
Funcionamento: De segunda a sexta, das 11h às 19h. Sábado, das 11h às 17h.
Entrada gratuita

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