”Uma reavaliação contemporânea da produção de Brennand exige uma retomada do léxico de formas que constituem sua linguagem artística: híbridos entre o mundo humano, vegetal e animal, ovos parindo serpentes, fontes de vida que emergem da fusão de pedaços do corpo e órgãos sexuais e uma inflexão animista preponderante correm por toda sua obra, particularmente pelas suas esculturas em cerâmica”, escreveu Julieta González no texto de abertura da exposição Francisco Brennand: Um primitivo entre os modernos que abre amanhã, dia 19 de fevereiro, na Carpintaria no Rio de Janeiro.
Entre tantas exposições que repensam modernismo brasileiro no ano do centenário da Semana de 22, parece interessante e apropriado visitar a individual do artista – organizada em parceria com a Gomide & co – conhecido pelas cerâmicas de formas híbridas unia criaturas da natureza tropical e seres tirados de mitos antigos e indígenas. O ponto de partida da exposição é o fato de Brennand estar entre os muitos artistas classificados de forma equivocada como representantes brasileiros do “primitivismo”.
Na 5ª Bienal de São Paulo, em 1959, as obras de Brennand foram posicionadas junto aos “primitivos” numa posição oposta ao que era considerado a “vanguarda” moderna da época marcada pela abstração geométrica. Conhecido com o “pintor de cajus”, o artista pernambucano seria, naquele momento, um dos maiores símbolos da divisão estabelecida no Brasil que almejava o “desenvolvimento” de 50 anos em 5”, como propunha Juscelino Kubitschek: de um lado, estavam aqueles que buscam um caminho de progresso e modernização; do outro, os que cultivam uma relação com a natureza, os lugares e as tradições locais.
Brennand, assim como Cícero Dias a Ariano Suassuna, optou por trabalhar contra a corrente da abstração geométrica, dedicando-se à exploração de formas primitivas e arcaicas – desenvolvendo uma linguagem livre dos sotaques de São Paulo e Rio de Janeiro, marcados pela à “inautenticidade de esquemas importados”, como ressaltou Lina Bo. Em 1949, Brennand viajou para Paris e entrou em contato com todos os movimentos onde “todas as regras haviam sido violadas”. Mas resistiu à influência externa e ao moderno, de acordo com a curadora, não como uma ingenuidade, mas como “um desejo de reencantar o mundo”.
Certamente abalado pelas transformações da modernidade, Brennand investiria, conscientemente, em um “retorno à natureza, às tradições arcaicas, e a uma visão alquímica que jaz na transmutação dos elementos”, abrindo espaço para outras formas de vida.
Francisco Brennand: Um primitivo entre os modernos
Data: De 19 de fevereiro até 09 de abril de 2022
Local: Carpintaria
Horário: ter à sex 10h – 19h | sáb 10h – 18h
Endereço: Rua Jardim Botânico, 971 — Rio de Janeiro