Existem vários casais sáficos de artistas que tiveram impacto significativo na cultura, tanto colaborando em seus trabalhos, quanto influenciando uma a outra artisticamente através de colaborações profundas que acabam por ampliar o alcance de discussões e vivências da comunidade LGBTQIA+.
O relacionamento de Romaine Brooks e Natalie Barney fugia às normas da Paris que conheceram em vida, nos anos 1920. Brooks, uma pintora famosa por seus retratos em tons de cinza, e Barney, uma escritora americana que criou desde romances até poemas, hoje vistos como feministas, eram figuras centrais na comunidade lésbica e nutriram uma profunda troca intelectual e artística.
O ativismo acaba por atravessar as narrativas desenvolvidas por artistas, uma vez que sua vida influencia seu trabalho e seu trabalho é uma amostra de suas próprias experiências. Esse é também o caso das namoradas Tee Corinne e Honey Lee Cottrell, fotógrafas e autoras norte-americanas que trabalharam documentando a sexualidade feminina e a comunidade lésbica através de suas obras. Corinne escreveu: “Eu tentei, sempre, mover-me a partir de uma posição de honestidade, ser fiel às minhas paixões e seguir minha visão aonde quer que ela pudesse me levar”.
Elas são consideradas pioneiras na criação de uma visualidade do erotismo lésbico na fotografia, e em 1978 participaram do “A Lesbian Show”, considerada a primeira exposição autodenominada lésbica nos Estados Unidos, algo que só foi possível a partir do senso de comunidade em prol da resistência e sobrevivência.
Para a artista Tee Corinne, “a busca por uma estética lésbica é uma aventura; um mistério com muitas soluções possíveis”. O fator comum a toda essa pluralidade de vivências que se engloba quando falamos de amores entre mulheres é a força da comunidade para além das construções impostas culturalmente, juntas desenhando novas possibilidades de viver e criar.
Zanele Muholi, artiste não-binárie, é sul-africane nascide durante o período mais grave do apartheid. Em 2009, conheceu a escritora Lerato Dumse por meio do coletivo que fundou na época. A partir de 2016, trabalharam juntes criando diversos projetos documentais e exposições, como a “Faces and Phases”, uma documentação da resistência e resiliência de mulheres lésbicas negras e de pessoas trans na África do Sul.
O questionamento das normas de gênero é um tema essencial nesse recorte e a visibilidade lésbica deve apoiar as mulheres trans e travestis, bem como as pessoas não-binárias que se consideram lésbiques. Nesse sentido, é importante olhar para casais como Genesis P-Orrige e Lady Jaye, que encontraram em seu amor uma forma de romper com imposições de gênero e sexualidade.
Esse movimento sobrevive por causa de artistas como Claude Cahun e Marcel Moore, surrealistas que viveram em uma época em que as nomenclaturas que hoje nos ajudam a endereçar dissidências de gênero não eram tão desenvolvidas, mas que tiveram a coragem de viver se mantendo verdadeiras às suas identidades.
Joan E. Biren, fotógrafa que participou do movimento feminista e lésbico dos anos 1970, afirmou que: “Sem uma identidade visual, nós não temos uma comunidade, não temos uma rede de apoio, não temos um movimento. Fazer-nos visíveis é um ato político. Fazer-nos visíveis é um processo contínuo”.