Estabelecida pelo Parlamento Europeu como “Dia Internacional contra o Fascismo e o Antissemitismo”, 9 de novembro marca a luta pela democracia, pela tolerância e pelo respeito. Decretada após o fim da II Guerra Mundial, com o passar dos anos a data teve sua comemoração ampliada pelos combates antifascistas de outros períodos. Atualmente, diante da crescente ascensão das políticas antidemocráticas no Brasil e no mundo, celebrá-la faz-se urgente e necessário.
Uma vez que recordar o passado parece ser o melhor antídoto de conscientização para que violências vividas não voltem a acontecer, é possível afirmar que a arte é capaz de manter viva a História. Ao passo que a Alemanha apresenta uma variedade de museus, monumentos, filmes, músicas, livros e trabalhos de arte que atuam para que o Holocausto jamais seja esquecido e repetido, hoje no Brasil vale mencionar a exposição MemoriAntonia: por uma memória ativa a serviço dos direitos humanos e o filme Marighella como exemplos atuais da arte contra o retorno da Ditadura Militar.
Inaugurada no dia 3 de novembro no Centro Cultural Maria Antônia, MemoriAntonia: por uma memória ativa a serviço dos direitos humanos é curada pelo professor Márcio Seligmann-Silva e pelo pesquisador Diego Matos. Nas palavras de Diego Matos, “Em tempos de grotescos e rudimentares revisionismos históricos e flertes com o universo sectário e vil do fascismo, é fundamental olhar para a memória como ferramenta de resistência e iluminação das trevas do contemporâneo”.
Inspirada na exposição A alma dos edifícios: MemoriAntonia, que aconteceu no mesmo local em 2003, e na chamada Batalha da Maria Antônia, ocorrida em 1968, a mostra apresenta trabalhos de artistas que viveram a ditadura, como Carlos Zilio, Cildo Meirelles, Claudio Tozzi e Marcelo Brodsky, ao encontro de artistas mais jovens que a revisitam, como Jaime Lauriano, Laís Myrrha e Rafael Pagatini.
Enquanto isso, Marighella conta a história de Carlos Marighella: político, escritor e guerrilheiro. Estrelado por Seu Jorge e dirigido por Wagner Moura, o longa-metragem foi exibido pela primeira vez em fevereiro de 2019 no Festival de Berlim, mas só conseguiu ser lançado no Brasil em novembro deste ano devido a barreiras burocráticas da Agência Nacional de Cinema, Ancine. Nas palavras do diretor, “Nós marcamos uma data [de lançamento], e aí a Ancine inviabilizou a estreia do filme, mesmo. Eu não tenho nenhum problema em dizer que o que aconteceu foi censura”. Mesmo com todos os entraves enfrentados, após quatro dias nos cinemas Marighella já é o filme brasileiro mais assistido em 2021.
Não há dúvidas que MemoriAntonia: por uma memória ativa a serviço dos direitos humanos e Marighella são exemplos de como a arte opera ativamente para não esquecermos e não repetirmos os erros do passado. Ou melhor, de um passado que, cada vez mais, tenta nos dizer que ainda não passou. Aproximar diálogos temporais entre os anos vividos de 1964-1985 e os dias atuais, é uma das possibilidades que a arte encontra para combater a ascensão de ideias fascistas.
MemoriAntonia: por uma memória ativa a serviço dos direitos humanos
Local: Centro Cultural Maria Antônia
Endereço: Rua Maria Antônia, 258/294