Explorando temáticas como a memória e a passagem de tempo, Tatiana Trouvé, artista italiana radicada em Paris, trabalha com uma ampla variedade de suportes e materiais, produzindo um corpo de trabalho sólido ao mesmo tempo que experimental. Transitando principalmente entre desenhos e esculturas, as obras de Trouvé despertam sensações e lembranças que são, provavelmente, comuns a todos os observadores e, por isso, é relativamente difícil observar uma de suas obras sem pensar em nada.
Talvez porque a artista se inspire em lugares “habitados”, mesmo se vazios, para dar vida às suas obras, o que faz com que as ideias de ausência e presença sejam necessariamente evocadas. Por exemplo, uma sala mobiliada e repleta de objetos é um lugar habitado mesmo se naquele específico momento não houver ninguém dentro dela e ela estiver, portanto, vazia. Mas ao mesmo tempo ela está repleta pela ausência daquilo que a habita (ou habitou) em um primeiro momento. Assim são as obras de Trouvé: um compilado de cenas, lugares e objetos que são constantemente invadidos por memórias, sonhos e pensamentos.
Neste verão europeu a artista está apresentando duas mostras em Paris, uma no Centre Pompidou e outra no terceiro e mais novo endereço da galeria Gagosian na capital francesa, inaugurado no fim do ano passado. Intitulada O Grande Atlas da Desorientação, a exposição do Pompidou se desenvolveu a partir de um convite feito à artista para ocupar a enorme galeria 3 do museu, de 800 m².
Trouvé, então, empregou uma ampla variedade de materiais para recriar o chão da galeria, que foi coberto por um extenso desenho que traz diferentes tipos de “traços” que podem ser interpretados de formas variadas. Pegadas animais, mapas de sonhos aborígines, neurônios ou até um mapa olfativo dos lobos – não importa, o objetivo é, como o nome já diz, desorientar. Dentro desta galeria estão, suspensos pelo ar, uma grande variedade de desenhos de duas importantes séries da artista: Les Dessouvenus (Os desmemoriados) e Intranquility (Intranquilidade), esta última é inspirada na obra Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.
Na mostra da Gagosian, a artista apresenta as esculturas das séries Notes on Sculptures (Notas sobre Esculturas) e The Guardians (Os guardiões). Ambas trabalham as noções da presença de figuras que estão, paradoxalmente, ausentes. As esculturas totêmicas da primeira são um compilado de materiais aleatórios unidos a objetos igualmente aleatórios.
Já as famosas esculturas da série The Guardians são cadeiras tomadas por objetos de uso pessoal como sapatos, livros, travesseiros e rádios. São obras intrigantes, à primeira vista vem à cabeça: “quem deixou tudo isso aqui?”, e logo depois percebemos a vastidão da ausência contida ali naquela cadeira que espera por um “dono” inexistente e cheio de gostos pessoais – já que até os livros nelas “deixados” foram escolhidos pela artista.
As cadeiras são obras criadas para “guardarem outras obras” e devem, segundo Trouvé, estar em companhia de outras obras, em lugares ocupados pela presença das pessoas, o que confere, ironicamente, algum sentido às suas inerentes ausências. Estas obras estão posicionadas dentro da galeria em frente a um papel de parede que representa em uma larga escala o desenho L’Escamoteur ( O Ilusionista), que está exposto na mostra do Pompidou e que faz parte da série Les Dessouvenus.
Serviço:
O Grande Atlas da Desorientação
Local: Centre Pompidou
Endereço: Place Georges-Pompidou, 75004 Paris, França
Data: Até 22 de agosto de 2022
Tatiana Trouvé
Local: Gagosian Paris
Endereço: 9 rue de Castiglione, Paris
Data: Até 3 de setembro de 2022