Com o suporte da Sé, Tadáskía participou, no início do ano, da residência Homesession, em Barcelona, onde começou a experimentar com spray em tecido, resultando em obras localizadas no entremeio do desenho e da pintura. O deslocamento também permitiu à ela uma mudança de percepção em relação ao próprio trabalho. “Em um lugar é dia, enquanto em outro é noite. As coisas mudam dependendo do lugar, a imaginação muda”, pondera. “Conforme onde estamos, pode existir transformação na forma, na cor, na linha.” Nos novos trabalhos, há um aspecto relacionado ao acabamento e à noção de finalização, uma relação incisiva com o tempo. “As coisas não acontecem de uma hora para outra, mesmo que para as pessoas pareça acontecer”, explica. “Elas podem apenas imaginar o que ocorre no meio, no ínterim, e não têm como saber o final daquilo que se coloca como uma passagem.”
Sua produção pode ser agrupada no que a curadora Clarissa Diniz chamou de “famílias”, conjuntos de obras com características semelhantes, mas que diferem no ritmo da “animação”, a movimentação de um grupo para outro, em que se relacionam o diferente e o parecido. À artista interessa apresentar a ânima das coisas, em procedimento situado entre a figuração e a abstração. Outro conceito chave para entendermos sua obra é o de “aparição”, palavra escolhida por ela para tratar de sua produção fotográfica. A aparição acontece quando a artista ou os grupos com ela reunidos estão diante da câmera analógica. É o ato de revelar, em que a imagem pode ou não sair como planejada. Há aqui um elemento de indeterminação.
noite dia apresenta a ampla prática poética da artista, reunindo uma série de obras recentes – algumas inéditas – em diversos formatos, incluindo desenho, pintura, fotografia, escultura e vídeo, além de uma pintura a óleo feita, sem esboço, diretamente sobre as paredes da galeria.
A cor tem papel preponderante no trabalho da artista que parte de diversas referências. No filme Ayé (2020) – palavra da cosmogonia iorubá entendida como mundo – o desenho salta do papel para o corpo e para o chão da casa. Vestindo estrelas (2019) traz mãe e filha em um registro fotográfico inspirado no Quarto de despejo, da escritora Carolina Maria de Jesus. As esculturas arranjo (2019-2022) reestruturam peças feitas com palha de taboa, comumente usada em rituais afro-brasileiros. Em Linha dourada (2012-2022), as cascas de ovo costuradas com linha indagam sobre a impermanência, afinal são corpos orgânicos que, com o tempo, irão se transformar ou desaparecer. Outro destaque é a aparição Olha o passarinho (2020), em que a família da artista posa para um retrato com os olhos revirados para cima.
Visitação: até 11 de junho
Funcionamento: de terça a sexta, das 12h às 19h e aos sábados, das 10h às 17h
Local: Sé Galeria
Endereço: R. Alameda Lorena, 1257 – Casa 2 – Jardins, São Paulo – SP
Ingresso: Grátis