Pedaços de um respirador; extintores de incêndio enferrujados; pedras portuguesas e madeiras descartadas em obras pela cidade; peças de ferro velho…Rodrigo Sassi é mestre em criar plasticidade a partir do que costuma ser desprezado pela sociedade revelando o fluxo caótico das grandes metrópoles, sempre vivas e em constante mutação.
Caminhos incertos, horizonte imprevisível, que abre no sábado dia 29 de maio, é sua primeira individual na Central Galeria desde o início da representação em 2018. A mostra, composta por sete esculturas, revela trabalhos que buscam ressignificar fragmentos, rejeitos e ruínas que coleta em suas caminhadas pela cidade.
O caos transforma-se em impressionante rigor formal a partir de diferentes processos criativos: enquanto algumas obras nascem de métodos mais racionais e sistemáticos, como Renda Portuguesa, feita a partir da distorção de vergalhões durante um ano inteiro; outras estão em constante transformação e são elaboradas por meio de um complexo jogo de estruturas, eixos, equilíbrios e matérias.
A água aparece como um componente oculto, fazendo-se presente em diversas etapas do processo – seja nas fôrmas de concreto, na oxidação do ferro ou na técnica de curvar as placas de madeira. Em contraponto com a rusticidade dos materiais, a água é, portanto, a responsável pelos contornos fluidos e orgânicos que garantem uma dimensão poética à brutalidade da cidade.Além de sua exposição na Central, Sassi também inaugurou neste mês uma obra pública na Ciclovia do Rio Pinheiros, em São Paulo, intitulada Escultura parcialmente funcional. Trata-se de uma escultura que também pode servir como banco para a população, com a qual Sassi questiona, mais uma vez, as funções e disfunções do que é produzido, construído e descartado na urbe.