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Quem foi Heitor dos Prazeres?

Conheça um pouco mais sobre a trajetória do artista que uniu música, pintura e tradições em uma expressão única de identidade cultural

por Giovana Nacca
Heitor dos Prazeres, Sem título, 1962. Cortesia Almeida e Dale/Foto: Sergio Guerini

O legado de Heitor dos Prazeres tem sido celebrado em diversas exposições recentes, incluindo uma grande retrospectiva curada por Pablo León de la  Barra, Raquel Barreto e Haroldo Costa, atualmente em cartaz no CCBB Rio de Janeiro até 18 de setembro. Para a edição de 2023 da SP-Arte Rotas Brasileiras, que acontece entre 30 agosto e 03 setembro, a galeria Almeida & Dale também dá foco à uma seleção de obras do artista, realizadas, principalmente, entre as décadas de 1950 e 1960.

Você provavelmente reconhece suas características pinturas pelas temáticas afro-brasileiras de cenas do cotidiano carioca, o uso de cores expressivas, as composições dinâmicas e personagens com rosto e pernas de perfil. Mas você conhece a sua história? Mas afinal, quem foi Heitor dos Prazeres?

Heitor dos Prazeres, Sem título, 1953. Cortesia Almeida e Dale. Foto: Sergio Guerini

Era 23 de setembro de 1898, apenas dez anos após a abolição da escravatura no Brasil, quando nascia na família do marceneiro e clarinetista Eduardo Alexandre dos Prazeres e da costureira Celestina Gonçalves Martins, o multi-artista Heitor dos Prazeres. Heitor cresceu na Praça Onze, no centro do Rio de Janeiro, com um cavaquinho na mão e rodeado por figuras centrais do samba, como Ismael Silva, Pixinguinha, Nilton Bastos e Marçal. Esse ambiente de influência foi moldado pelo esforço de seu tio Hilário Jovino Ferreira, um pioneiro da expressão musical em questão.

Antes de ingressar na pintura, Prazeres já era consagrado na carreira musical como músico e dançarino. “Se há um homem que não precisava ser pintor era esse, cuja vida e amores já contava de maneira tão boa em outra arte, mas sua imensa riqueza interna veio ganhar, na pintura, uma expressão do samba”, escreveu Rubem Braga para a Revista Manchete em 1953.

Heitor dos Prazeres, O artista, 1959

O carnaval estava em todas as facetas de sua vida: Prazeres exerceu um importante papel na formação das primeiras escolas de samba do país, interpretou e compôs dentro no gênero musical, além de ter retratado o carnaval numa ampla parte de suas telas.

Em paralelo, exerceu as mais variadas profissões: ainda novinho, foi engraxate, jornaleiro e aprendiz de marcenaria; entre o final da década de 1930 passou a trabalhar nas rádios do Rio de Janeiro e foi funcionário do Ministério da Educação e Saúde.

Aos poucos e de forma autodidata Prazeres foi dando seus primeiros passos em direção às artes plásticas perto da casa dos quarenta anos. Uma de suas primeiras vezes foi ao ilustrar sua composição “Pierrot apaixonado”, de 1936. Outra foi a partir de um poema que Carlos Drummond de Andrade o dedicou na intenção de que o compositor pudesse musicá-lo, mas veio este veio a traduzir os versos em tintas na tela de homônimo: O Homem e seu Carnaval.

Entretanto, foi apenas em 1938, que estimulado pelo jornalista e desenhista Carlos Cavalcanti, Heitor tornou suas obras públicas e a partir de 1942, quando elas marcaram presença em espaços prestigiosos como no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro e no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, que elas passaram a ter visibilidade na imprensa especializada. Fomentando este embalo, em 1943, a então princesa Elizabeth II viu a pintura “Festa de São João” em uma exposição beneficente em Londres e, encantada, a adquiriu contribuindo com a fama do pintor no exterior. 

Outro grande marco da carreira do artista se deu em 1951, na primeira Bienal de São Paulo, quando ele recebeu a medalha de prata na categoria “Pintura Nacional” pela obra “Moenda” – episódio citado na exposição “Reversos e Transversos: artistas fora do eixo (e amigos) nas bienais”, que será inaugurada em 24 de agosto, na Galeria Estação.

Heitor dos Prazeres, Moenda, 1951.

Ao mesmo tempo, segundo o jornalista Bruno Pinheiro, no livro “Bienal de São Paulo desde 1951”, neste período surgiu um intenso debate entre críticos sobre se era lícito que suas obras estivessem presentes em exposições de arte: “seu trabalho passou a ser classificado então como ‘primitivo’ e ‘ingênuo’, termos que, nessas discussões, ganhavam sentidos extremamente elásticos”. Como um artista, servidor do Ministério da Educação e Saúde, figura fundamental na difusão de uma das maiores expressões musicais brasileiras, que retratou as realidades de seu tempo em suas pinturas, poderia ser definido como “ingênuo”? São essas injustiças que hoje a gente consegue enxergar a raiz moldante da nossa sociedade. “A tela [Moenda] ressoa a memória das experiências de Prazeres enquanto um artista que negociou por toda a primeira metade do século 20 sua presença em espaços profissionais que, como aquela exposição [Bienal], eram ocupados predominantemente por pessoas brancas”, reflete Pinheiro.

Todas estas realizações, ainda que tenham registrado o nome de Heitor dos Prazeres na história, não foram suficientes para colocá-lo no centro da arte brasileira – assim como vemos se repetir na trajetória de diversos outros artistas considerados populares ou naifs.

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