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Obras e artistas para celebrar o dia da árvore

Artistas falam sobre consciência ambiental por meio de esculturas que usam a própria árvore como matéria-prima

por Beta Germano
Elevazione, obra de Giuseppe Penone, em Inhoitim

Enquanto o Pantanal, Cerrado e Amazônia queimam colocando o Brasil no topo dos países que ameaçam o planeta com seus crimes ambientais, “celebramos” hoje o dia da árvore. Para marcar a data, lembramos de alguns artistas que usaram seus os troncos e folhas como matéria prima e tema de seus trabalhos. Todos eles, claro, nos alertam sobre a importância da proteção do meio ambiente, além de discutirem a relação entre homem e natureza. 

Spazio di Luce, de Giuseppe Penone

1.Giuseppe Penone

Os nossos laços com a natureza é o tema central do trabalho do italiano Giuseppe Penone. Quem já passou por Inhotim viu um trabalho dele…ou não, pois a escultura Elevazione fica meio camuflada na paisagem. A obra é composta por uma árvore de bronze moldada e fundida a partir da uma castanheira centenária. A grande árvore de metal está conectada a outras cinco outras árvores que, ao longo dos anos, começaram crescer e se aproximar da escultura, como se a sustentassem e criassem um espaço arquitetônico para abrigá-la. 

Integrante do lendário grupo de Arte Povera na Itália na década de 1960, o trabalho de Penone nas últimas quatro décadas contribuiu para desenvolvimentos importantes na escultura, incluindo instalações site specific, performance e land art. Para a obra Spazio di Luce, Penone utilizou o método antigo de fundição com cera perdida para criar uma árvore de bronze de doze metros com um interior radiante folheada a ouro: onde antes havia uma árvore, agora há um vazio. Na parte de dentro do molde reproduz a casca da árvore, enquanto as impressões digitais do lado de fora revelam a memória das muitas mãos envolvidas na confecção da escultura. Esta fusão de estampas de cascas e mãos dá continuidade à preocupação de toda a carreira de Penone em colocar o corpo humano em diálogo com o mundo orgânico que habita.

Frans Krajcberg
Flor do Mangue, Frans Krajcberg

2. Frans Krajcberg

Frans Krajcberg nasceu na Polônia e, fugindo da Segunda Guerra, veio parar no Brasil. A partir de então, passou a decar-se a mostrar ao mundo as belezas das árvores e também a projetar sua constante preocupação com a preservação do meio-ambiente. Krajcberg radicou-se no Brasil desde 1972 vivendo no sul da Bahia, onde manteve o seu ateliê no Sítio Natura, no município de Nova Viçosa. Chegou ali a convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas, que o ajudou a construir a habitação: uma casa, a sete metros do chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. Ao longo de sua carreira o artista defendeu a flora brasileira como pode: Denunciou queimadas no estado Paraná; a exploração de minérios no estado de Minas Gerais; e o desmatamento da Amazônia brasileira. Em Nova Viçosa, defendia as tartarugas marinhas que chegavam no litoral para desovar e chegou a colocar-se na frente de um trator para a evitar a abertura de uma  nova avenida na cidade. 

7000 Oaks – City Forestation Instead of City Administration, de Joseph Beuys
7000 Oaks – City Forestation Instead of City Administration, de Joseph Beuys

3. Joseph Beuys

Uma das mais importantes obras que reivindicava consciência ecológica na História da Arte é a instalação-performance de 7000 Oaks – City Forestation Instead of City Administration, criada por Joseph Beuys em 1982 na cidade de Kassel. Com a ajuda de voluntários, Beuys plantou 7.000 carvalhos ao longo de vários anos em Kassel, Alemanha, cada um com uma pedra de basalto. Em resposta à extensa urbanização da cidade, a obra foi uma intervenção artística e ecológica de longo prazo e em larga escala com o objetivo de alterar de forma duradoura o espaço de vida de Kassel. O projeto, embora a princípio controverso, tornou-se uma parte importante da paisagem urbana de Kassel. Algumas pessoas achavam que os marcadores de pedra preta eram feios, chegando a empilhar pedras rosa nos locais em 1982 como uma brincadeira. Além disso, um motociclista morreu como resultado de um dos marcadores de pedra. No entanto, à medida que mais árvores eram plantadas, as pessoas passaram a entender a relevância do projeto e a ter uma tolerância cada vez maior.

Pequi-vinagreiro moldado por Ai Weiwei e sua equipe
O Pequi-vinagreiro, que estava totalmente morto e oco pordentro, caiu mês passado

4. Ai weiwei 

Um dos mais polêmicos e respeitados artistas contemporâneos, o artista chinês Ai Weiwei escolheu um gigantesco pequi-vinagreiro, espécie em vias de extinção da Mata Atlântica, para fazer parte duma da mostra Raiz, que esteve na Oca em São Paulo e no CCBB do Rio de Janeiro. Weiwei e seus 25 assistentes que vieram da China fezeram um molde da árvore de com cerca de 1200 anos que ficava na reserva florestal de Trancoso, no Sul da Bahia.  A árvore, que caiu mês passado, estava coberta por parasitas e quase inteiramente seca – apenas o topo exibia alguns ramos vivos. Além de ser a mais antiga da região, era a mais alta, com 31 metros, o equivalente a um prédio de dez andares. Para reproduzir cada detalhe do pequi, foram importadas da China 6 toneladas de silicone. “Não podia ser qualquer silicone. Weiwei queria um tipo especial, ‘capaz de captar as marcas do vento e dos animais que passaram por aquela árvore’, nas palavras dele mesmo”, contou a designer paulistana Paula Dib para a revista Piauí. A ideia era mandar o molde de silicone de volta para a China onde a árvore de ferro seria produzida para a exposição. No entanto, a missão era complexa e a feitura da réplica em ferro não ficou pronta para a mostra. Mas os espectadores puderam ver o vídeo Uma Árvore, que intercala cenas da moldagem do pequi com outras de Weiwei nu, sendo moldado para uma escultura de si próprio.

Esculturas feitas a partir de raízes de pequi-vinagreiro na mostra Raiz

Na mostra, Weiwei mostrou ainda esculturas feitas de raízes do pequi-vinagreiro dando continuidade ao discurso do também artista Hugo França sobre o valor dessa espécie e a necessidade de políticas ambientais mais rigorosas na região. França, aliás, foi quem apresentou o já lendário pequi-vinagreiro a Weiwei e obteve a licença para que o artista pudesse atuar naquela área de proteção ambiental.

chiaro oscuro ( igloo), de Mario Merz

5. Mario Merz

Mais um grande artista da Arte Povera que vale destacar:  Mario Merz sempre questionou as concepções de espaço e representação. Começou com os objetos perfurados por neons, continuou com a criação dos seus famosos iglus e das mesas em espiral e se estendeu para os projetos arquitetônicos.

O iglu é um elemento frequente e resume a visão de Merz sobre o que significa “a existência neste mundo”. Os abrigos semi esféricos representam o espaço essencial para um corpo protegido e a necessidade de abandonar formas “desnecessárias e ineficientes” para criar ambientes completos nos quais propõe não apenas novas estruturas, mas também atitudes. Ou seja, é o espaço absoluto nele mesmo, o espaço vital. Eficiência máxima e esforço mínimo. Mertz também usava materiais essenciais ou puros para estas construções como pedras e pedaços reaproveitados de vidros. Em 1983, o artista usou galhos de árvores para criar um deles –  chiaro oscuro ( igloo) está na coleção permanente do  MART art museum, em Trento, na Itália. O artista não menciona o desmatamento ou a consciência ecológica diretamente, mas o movimento da Arte Povera como um todo apresentava esse discurso pois suas temáticas estavam sempre muito próximas à natureza.

Trattenere 6, 8, 12 anni di crescita (Continuerà a crescere tranne che in quel punto), de Giuseppe Penone

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