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O que as pinturas atacadas pelos ativistas climáticos revelam sobre o tema?

Entenda as temáticas pautadas pelas pinturas que têm sido alvo de ataques por jovens ativistas climáticos

por Giovana Nacca
5 minuto(s)

Desde a metade deste ano diversos grupos de ativistas climáticos têm condenado agentes que promovem o aumento da crise ambiental ao fazerem dos maiores tesouros dos museus de arte do mundo alvo de ataques e protestos.

Os casos seguem um padrão: os ativistas vão em duplas, às vezes jogam comida ou tinta na pintura mais atrativa do museu – que segundo eles, não tem intenção de danificar a obra, visto que estão protegidas com vidro – e quase sempre colam suas mãos nela. Esta última atitude, até agora, não tem um propósito claro, mas podemos ler como uma forma de se colocarem como extensão da obra, exigindo a mesma atenção que o público dá a ela.

A onda de ações tem levado muitos espectadores a se perguntarem como os ataques realmente se conectam com a causa defendida. De fato, a maior parte das obras escolhidas não tem relação direta com o tema e as ações são justificadas pelos grupos apenas como pretexto para atrair atenção mundial de forma mais incisiva.

Mas, nós do AQA, estamos sempre observando as mensagens e significados das obras de arte e, com a lista das obras atacadas na mão, separamos algumas exceções: atos que levaram em conta a temática ou contexto das obras, ou ainda algumas pinturas que por si só já são uma manifestação política.

My Heart’s in the Highlands” de Horatio McCulloch

Just Stop Oil atacam My Heart’s in the Highlands (1860) de Horatio McCulloch

29 de junho – Tudo começou quando uma dupla do Just Stop Oil colaram suas mãos na moldura de Horatio McCulloch na Kelvingrove Art Gallery and Museum, em Glasgow.

Ao gritarem seus motivos para escolher essa pintura em particular, eles disseram: “Essa paisagem foi pintada em 1860 no auge das derrubadas das terras altas, quando comunidades inteiras de crofting [agricultura de pequena escala] foram despejadas por uma nova classe de proprietários de terra perseguindo impiedosamente seus próprios interesses privados. Foi somente quando os lavradores se organizaram e resistiram que eles conquistaram direitos.”. Portanto a intenção era que servisse de exemplo, como um levante que de fato unisse a população em pró do meio-ambiente.

The Hay Wain” de John Constable

Just Stop Oil protestam com The Hay Wain de John Constable

04 de julho – No início do verão europeu, o Just Stop Oil embarcou em uma campanha veloz em todo o Reino Unido, fazendo quatro ataques em menos de uma semana. Em cada caso, os manifestantes se colaram à obra em questão, mas a pintura The Hay Wain teve um tratamento especial: foi coberta por uma versão atualizada em estado de apocalipse climático. A nova representação deu espaço a um incêndio, aviões e árvores mortas, indicando o cenário para o qual estamos caminhando. 

“Primavera” de Sandro Botticelli 

Ultima Generazione protesta com “Primavera” de Sandro Botticelli

22 de julho – A pintura, criada por volta de 1480, é uma das obras mais conhecidas da história da arte ocidental e retrata uma exuberante cena de jardim habitada por figuras mitológicas gregas. A dupla, do grupo Ultima Generazione, que colou suas mãos na obra em questão, disse no Instagram que eles a escolheram por conta de seu assunto. Segundo eles, ela representa “com uma riqueza de detalhes que beiram o enciclopédico – mais de 500 espécies botânicas que florescem precisamente nos meses da primavera… Esta é uma realidade que corremos o risco de perder”.

É interessante pensar também que a pintura é um dos grandes ícones do Renascimento, período conhecido pelo antropocentrismo, ou seja, o momento que a História da Arte coloca o homem como centro do universo e a mais perfeita obra de criação da natureza. Porém, foi justamente o antropocentrismo que nos levou a nos enxergarmos em situação de superioridade frente à natureza, causando uma degradação ecológica generalizada.

“Massacre en Corée” de Pablo Picasso

Extinction Rebellion protestam com “Massacre na Coreia” de Pablo Picasso

8 de outubro – Dois manifestantes do Extinction Rebellion abriram uma faixa que dizia “CAOS CLIMÁTICO = GUERRA + FAMÍLIA” e colaram as mãos na pintura da National Gallery de Victoria, em Melbourne. A peça retrata o Massacre de Sinchon em 1950, na Coreia, e condena o fato de soldados americanos terem chacinado os civis. A ideia desta vez foi chamar atenção para o fato de nos indignarmos com os retratos de mortes do passado, mas não estarmos atentos à extinção da humanidade que há de vir por conta da crise.

“Campbell’s Soup Cans.” de Andy Warhol

Ativistas do A22 rabiscam “Campbell’s Soup Cans.” de Andy Warhol

9 de novembro – Duas ativistas climáticas, de uma rede global de resistência civil conhecida como A22, rabiscaram uma série de serigrafias de Andy Warhol na National Gallery of Australia em Canberra, Austrália.

Você deve saber que Andy Warhol, o “rei do consumo”, se apropriava de imagens conhecidas da mídia de massa, entre elas fotografias de celebridades e tabloides, quadrinhos e, nesta obra, a sopa enlatada amplamente consumida, feita pela Campbell’s Soup Company. Enquanto uma das manifestantes aplicava cola em sua mão, gritou: “As famílias estão tendo que escolher entre remédios e comida para seus filhos, enquanto as empresas de combustíveis fósseis obtêm lucros recordes. E, no entanto, nosso governo dá US$ 22.000 por minuto em subsídios para a indústria de combustíveis fósseis”. A crítica referencia o fato da Austrália ser o maior exportador mundial de carvão e de 71% de sua eletricidade em 2021 ter vindo de combustíveis fósseis.

“Death and Life” de Gustav Klimt

Letzte Generation atacam Death and Life de Klimt

15 de novembro – A data deste episódio é um feriado anual na Áustria, destinado a comemorar a morte do príncipe austríaco Leopoldo São Leopoldo em Viena. Como tradição, o Museu Leopold é gratuito para os visitantes neste dia. Lorenz Trattner e Florian Wagner, da Letzte Generation, caminhavam entre eles – o último carregando uma garrafa com óleo escondido como uma barriga sob um grosso suéter branco.

O evento do museu foi patrocinado pela OMV, uma empresa de petróleo e gás. Os ativistas escolheram este contexto para o seu protesto precisamente porque a OMV continua a perfurar em busca de novo petróleo, mesmo localmente. 

Depois de jogar óleo na obra, eles gritaram “Morte e vida!”, fazendo referência ao título. Apesar de ser alvo do ataque, a pintura parece ter dialogado muito bem com a defesa dos ativistas. A grande cena apresenta um alegórico Ceifador que olha para a “vida” com um sorriso malicioso. A “vida”, por sua vez, é composta por um aglomerado de pessoas de diferentes gerações, desde bebê a uma idosa.

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