Em tempos acelerados e de rasas conexões, a artista Rebecca Sharp (São Paulo, 1976) nos convida a faze mergulhos interiores. Escolhida pela galeria Sé como representante da sua primeira participação na Frieze NY deste ano, a artista apresenta 19 trabalhos inéditos que carregam nossa brasilidade para os Estados Unidos, desde temáticas cotidianas ou casuais como uma parada matinal na padaria para comer um pão na chapa, até questões ambientais que envolvem discussões sobre o futuro da Amazônia – tudo numa linguagem surrealista – estilo, aliás, bastante “em voga” por ser o tema escolhido pela Bienal de Veneza de 2022
Inspirada por artistas norte-americanos dos anos 50 e 60, como Jackson Pollock e Basquiat que utilizavam grandes telas, Sharp começou a pintar aos 18 anos de idade. Por meio da pintura abstrata, a artista buscava suportes cada vez maiores, ao ponto de um dia desejar pendurar uma tela numa quadra de tênis e pintar com uma vassoura.
Mas foi comprando uma tela pequena que algo inusitado aconteceu, ela se envolveu com o processo de tal forma que levou o trabalho do ateliê para casa e continuou a debruçar-se sobre ele noite adentro. A mudança de suporte fez todo sentido para sua nova linguagem, agora mais figurativa. Segundo a artista, a mudança ocorreu de acordo com a maior intimidade que ela foi adquirindo com o pincel. Foi assim que ela entendeu que uma média de 30×30 cm era o suficiente para condensar todas as emoções e passar a mensagem que ela desejava. Vale notar, ainda, que os mesmo pequenos suportes que instigaram a artista a um mergulho no seu processo criativo convidam os espectadores a se aproximar e dedicar à obra um tempo quase meditativo.
Sua inserção no mercado de arte virou uma chave quando, em 2018, Sofia Borges a convidou para a participação da 33ª edição da Bienal de São Paulo, Afinidades Afetivas. Hoje em dia, o estilo de Sharp também é um reflexo dos tempos surreais que vivemos – a era dos absurdos onde diversas realidades se colidem – e as obras da artista entram nesse contexto propondo um autoconhecimento.
Ou seja, ao mesmo tempo que suas iconografias trazem características surrealistas, suas temáticas são muito pautadas na realidade ou na busca em descobri-la. Maria Monteiro, diretora e fundadora da galeria Sé comenta sobre a escolha da representação na feira de Nova York: “A pintura surrealista feminina é um dos grandes temas deste ano, vide a Bienal de Veneza, baseada na obra de Leonora Carrington. A escolha de trazermos uma mulher também foi decisiva.”
Rebecca também comenta: “O artista é como um entregador de correspondências, ele está no meio do caminho entre o que é completamente invisível e o mundo das pessoas, o mundo que a gente vê, ouve e sente. E, no fundo, todo mundo faz isso, não só os artistas. A gente vive entre o mistério do que a gente é e o mundo que a gente acha que sabe o que quer.”