Livros AQA: Marking Time – Art in the Age of Mass Incarceration

Em tempos de pandemia e isolamento social, basicamente a única coisa que conseguimos pensar é sobre como a liberdade é valiosa. E sobre como a solidão pode nos enlouquecer. Mas também…

por Beta Germano
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Marking Time – Art in the Age of Mass Incarceration
Marking Time – Art in the Age of Mass Incarceration

Em tempos de pandemia e isolamento social, basicamente a única coisa que conseguimos pensar é sobre como a liberdade é valiosa. E sobre como a solidão pode nos enlouquecer. Mas também descobrimos que a arte é uma valiosa janela para outro mundo ou válvula de escape para manter a sanidade. 

Enquanto as mais de 2 milhões de pessoas estão atualmente encarceradas nos Estados Unidos. O encarceramento não apenas separa os presos de suas famílias e comunidades, mas também os expõe a níveis chocantes de privação e abuso e os sujeita às crueldades arbitrárias do sistema de justiça criminal. Apesar do isolamento e da degradação que vivenciam, os encarcerados são levados a afirmar sua humanidade diante de um sistema que os desumaniza. 

É por meio da cultura e da arte que vemos possibilidades de transformação e empatia. É por meio da arte que nos tornamos humanos. Não à toa, portanto, os cruéis ambientes das prisões norte-americanas estão cheias de obras arte! Elas ainda são invisíveis para a maioria dos americanos,  mas isso mudará mesmo antes de nós ganharmos nossa própria liberdade: O novo livro de Nicole R. Fleetwood, Marking Time – Art in the Age of Mass Incarceration, que acaba de ser lançado pela Harvard University Press, reúne trabalhos de artistas encarcerados e ex-encarcerados.

Com base em entrevistas com artistas atualmente e anteriormente presos, visitas a prisões e experiências familiares da autora com o sistema penal, Marking Time – Art in the Age of Mass Incarceration mostra como os detentos transformam objetos comuns em obras de arte elaboradas. Trabalhando com suprimentos escassos e nas condições mais adversas – incluindo confinamento solitário -, esses artistas encontram maneiras de resistir à brutalidade e depravação que as prisões geram. 

Russell Craig, Self-Portrait, 2016
Russell Craig, Self-Portrait

“A arte sempre foi um espaço para eu me sentir confortável – crescendo e tendo que lidar com traumas da infância. Quando entrei no sistema penitenciário, no primeiro ano fui colocado em confinamento solitário porque não estava disposto a denunciar outras pessoas.Rapidamente percebi duas coisas. Uma, eu precisava de algo para ocupar meu tempo para manter minha sanidade; e dois, queria realmente pensar em como usar a criação, em particular por meio do uso de materiais, para usar a prisão contra ela mesma, como uma forma de resistência”, revela Jesse Krimes para o Art News.

O impacto de suas artes, observa Fleetwood, pode ser sentido muito além dos muros da prisão. Suas obras arrojadas, muitas das quais estão sendo publicadas pela primeira vez neste volume, abriram novas possibilidades e discussões sobre a arte americana. Prova disso é a exposição com o mesmo nome e curadoria de Fleetwood que abrirá em breve no MoMA PS1, em Nova York.  “A mostra apresenta obras que testemunham a reinvenção dos artistas sobre os fundamentos da vida – tempo, espaço e matéria física – ampliando as possibilidades desses recursos básicos da experiência diária para criar novas visões estéticas alcançadas por meio da invenção material e formal”, revela a curadora e autora.

 O tempo é diferente, os materiais escassos e peculiares e a vontade é oferecer uma nova visão de liberdade para o século XXI, além de testemunhar as injustiças econômicas e raciais que sustentam o sistema criminal  americano. À medida que o movimento para transformar o sistema de justiça criminal do país cresce, a arte fornece aos presos uma voz política. É para isso afinal que ela serve, certo? 

Tameca Cole Locked In The Dark
Locked In The Dark, de Tameca Cole
Jesse Krimes
Jesse Krimes


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