O que vem depois da Farsa? É com esta pergunta instigante, que o crítico e historiador da arte Hal Foster nomeia seu último livro. Escrito no ano passado e lançado neste ano no Brasil pela editora UBU, pode-se dizer que esta é uma leitura para quem está disposto adentrar os sintomas da arte contemporânea pelas lentes das relações politicas e culturais; sobretudo daquelas vistas desde uma perspectiva estadunidense de poder. Dividido em três partes, o livro fala respectivamente sobre: terror e transgressão; plutocracia e exibição; mídia e ficção.
Com a primeira parte voltada para ascensão da extrema direita no mundo, especialmente no EUA, o autor problematiza a política de pós-verdade em diálogo com a constatação marxista de que a burguesia está disposta a abandonar seus valores democráticos para preservar seu domínio econômico. Tendo como ponto de partida os vestígios traumáticos desencadeados pelo ataques ao World Trade Center, o autor discorre como que a exaltação do estado de vigilância e a instauração da política paranoica contribuíram para a criação da farsa e da conspiração.
Na segunda parte, mais debruçado na história da arte, o autor parte da ideia de arte enquanto mercadoria apropriada ao investimento especulativo, para então analisa-la sobre a atual ideologia do neoliberalismo. Partindo da obra de Jeff Koons, Claire Fontaine, Duchamp e outros, Hal Foster questiona como que o artista nos dias de hoje muitas vezes é um produto, uma marca. Além disso, o autor apresenta como que a própria curadoria está imersa na farsa neoliberal. “Obrist é demasiado afirmativo a respeito da era neoliberal – de fato, ele é criatura dela”, menciona o autor.
Já na terceira parte, o autor se detém em demostrar como que a mídia e os meios tecnológicos contribuem na construção do mundo em que nos encontramos. Com um olhar atento à obra de Harun Farocki, ele cria paralelos entre a representação da guerra e da destruição com o que estamos vivendo e caminhando para. “Um perigo mortal provoca uma inovação técnica, um desejo de controle por meio da representação, mas, nessa mistura de desejo e técnica, a razão científica resvala para o uso do instrumento”, menciona Hal Foster sobre as ideias-imagens de Farocki.
Este não é um livro fácil de ser digerido! Entretanto, é um ótima leitura para quem quer se alimentar de um pensamento crítico em ebulição.