O recém-inaugurado Centro Cultural Inclusartiz homenageia a história e a produção artística de Gamboa, bairro da Região Portuária do Rio de Janeiro, com a exposição Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso. Com a curadoria do Coordenador do Programa de Residências Artísticas da instituição, o carioca Lucas Albuquerque, a mostra apresenta um recorte histórico com cerca de 80 obras de 25 artistas e coletivos conectados afetivamente à região.
O título da mostra é inspirado em um manuscrito de Tia Lúcia (1933-2018), uma pintora, escultora e moradora do Morro do Pinto que escreveu: “Nossos caminhos não se cruzaram por acaso. Os maiores especialistas em sorrisos estão aqui”. Além de referência para o nome da exposição, a artista está presente na coletiva por meio de 17 trabalhos, sendo que cinco deles nunca foram exibidos para o público geral.
O curador da mostra explica que a escolha de Tia Lúcia como madrinha da exposição deriva da “integridade de sua crença no encontro como objetivo final do fazer artístico. Isto porque ela distribuiu grande parte de sua produção entre familiares, amigos e vizinhos do morro em que morava. Ainda que sua absorção aos museus tenha ocorrido tardiamente, Tia Lúcia construiu uma rede que atravessa e irrompe qualquer estrutura de validação para construir a sua própria”.
É importante ressaltar que o bairro da Gamboa abriga o Cais do Valongo, palco de uma história inescapável. Cunhado de “Pequena África” por Heitor dos Prazeres e também conhecido como Circuito Histórico Arqueológico de Celebração da Herança Africana, Gamboa foi o lugar que mais recebeu pessoas escravizadas do continente no mundo. E ainda, nas proximidades do Centro Cultural Inclusartiz, localiza-se o ponto em que eram enterrados os corpos dos que chegavam ao cais e morriam antes de serem vendidos. Por tudo isso, o mês de maio também foi escolhido propositadamente para a inauguração da mostra, visto que marca os 144 anos da abolição da escravatura (13 de maio).
Da Revolta da Vacina a João do Rio, do carnaval às grandes reformas urbanas de Pereira Passos, de Beth Carvalho a Heitor dos Prazeres, a região que circunda o centro cultural carrega diversas histórias de encontros.“Sediar o Inclusartiz em um local tão carregado de história como a Gamboa é, para nós, energia motriz para continuar e ampliar todo o projeto de desenvolvimento e apoio que buscamos realizar ao longo dos últimos anos. É também um prazer trazer aos moradores mais uma opção cultural na região, que além de exposições também se propõe a promover oficinas, cursos, entre outras ações educativas e socioculturais voltadas ao público local”, celebra Frances Reynolds, presidente e fundadora do Instituto Incluzartiz, organização sem fins lucrativos à frente do centro cultural.
Os nomes dos artistas selecionados estabelecem um diálogo entre atuais e ex-residentes do bairro, nomes que concentram suas produções no local e adjacências, incluindo ainda alguns trabalhos de personagens notáveis da história da arte brasileira. Sendo assim, compreende desde Yhuri Cruz, Laís Amaral, Daniel Murgel e Gustavo Speridião até Heitor dos Prazeres.
Além dos trabalhos exibidos na exposição, o Instituto Inclusartiz, também assumiu com esta mostra o compromisso de abranger as mais distintas manifestações de arte por meio de um mapeamento cartográfico que sinaliza o trabalho de mais de 70 artistas pela região que entre o grafite, o pixo, o mural e outras expressões, tomaram a rua como o seu suporte.
Serviço
Gamboa: nossos caminhos não se cruzaram por acaso
Local: Centro Cultural Inclusartiz
Endereço: Rua Sacadura Cabral, 333 – Gamboa, Rio de Janeiro
Data: De 24 de maio a 12 de junho
Funcionamento: De quinta-feira a domingo, das 11h às 18h.
Ingresso: Grátis