A pintura “Witwe” ou “Viúva”, de Lasar Segall, que fez parte da exposição “Arte Degenerada” em Munique, Alemanha, iniciativa de Joseph Goebbels durante o governo nazista de Adolf Hitler, ressurge no Brasil após oito décadas de desaparecimento. Considerada perdida, a obra foi encontrada na Europa pelo marchand Paulo Kuczynski e estará no centro da mostra ‘Witwe, uma pintura reencontrada’, do Museu Lasar Segall, com inauguração marcada para 19 de maio. Juntamente com a pintura, serão exibidas gravuras produzidas pelo artista na mesma época, parte do acervo de mais de 3 mil itens que a instituição conserva e divulga. A exposição abre durante a 22ª Semana Nacional de Museus, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC) em torno do Dia Internacional dos Museus, celebrado em 18 de maio, e segue em cartaz até 18 de agosto.
Dada como perdida há cerca de 80 anos, Kuczynski encontrou a pintura na França há cerca de dois anos. “São momentos inesquecíveis na vida de um marchand — o prazer da descoberta. No entanto, neste caso, a emoção é de outra natureza e há pouca chance de que se repita na minha vida”, afirma. “No caso de ‘Viúva’, no entanto, existiu um salvador, e isso me intriga, faz minha imaginação voar. A pintura certamente magnetizou o olhar de alguém (um oficial nazista?), que por ela se encantou a ponto de, contra as ordens oficiais, escondê-la e poupá-la da fogueira — um delito grave naquele momento de extremos.”
Depois de algumas tratativas, Kuczynski conseguiu trazer a tela para o Brasil e apresentou-a ao Museu Lasar Segall, centro de referência para o estudo da obra do artista, onde foi analisada e autenticada pelo então diretor, Marcelo Monzani, e sua equipe técnica. Os ex-diretores do museu Marcelo Araújo, Jorge Schwartz e Giancarlo Hannud também foram convidados para ver a pintura pessoalmente, que até então só conheciam por fotos em preto e branco de antigos catálogos e livros. “Pude perceber, ao observar esses apaixonados por Segall, o frisson provocado pela fatura, pelo colorido e por toda a carga histórica da obra milagrosamente intacta”, concluiu.
“Viúva é uma testemunha da história, uma obra sobrevivente, profunda e intrigante que, reencontrada tantos anos após seu desaparecimento, mereceria voltar para casa, para o museu de onde foi confiscada [Folkwang Museum, em Essen]”, avalia Pierina Camargo, museóloga e pesquisadora do Museu Lasar Segall há mais de 40 anos.
Após análise dos especialistas e autenticidade confirmada, o público terá chance de encontrar a tela sobrevivente no museu dedicado ao artista, fundado dez anos após sua morte, em 1967, no lugar viveu com a família, na Vila Mariana.
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