Sheroanawe Hakihiiwe (Sheroana, Venezuela, 1971) é um artista yanomami que, desde a década de 1990, produz desenhos, monotipos e pinturas. Sua linguagem artística delicada, abstrata e mínima usa linhas retas e curvas orgânicas, pontos, círculos, triângulos, zigue-zagues, arcos e cruzes. Hakihiiwe vive em Mahekoto Theri, uma comunidade yanomami no município de Alto Orinoco, no estado venezuelano do Amazonas, que faz divisa com os estados brasileiros de Roraima e Amazonas. O artista observa de modo ativo a natureza e o cotidiano de sua comunidade, registrando em um caderno aquilo que encontra, aprende e descobre nas pinturas corporais e faciais, nos cantos xamânicos, nos conhecimentos ancestrais sobre os animais, nas propriedades medicinais das plantas, assim como nos padrões utilizados na cultura material de seu povo. Esses cadernos são como arquivos, que ajudam Hakihiiwe a compilar suas memórias gráficas da vida na floresta. Suas anotações são posteriormente transferidas para folhas de papel nas quais ele incorpora cores, padrões, repetições e texturas. A obra de Hakihiiwe tem um sentido de preservação, cuidado, arquivo e tradução de imagens e materiais de valores culturais comunitários, produzindo desenhos que expressam a cosmologia yanomami e constituindo um verdadeiro inventário do patrimônio intangível de seu povo. Boa parte dos desenhos e monotipos presentes nesta exposição foi produzida sobre papéis artesanais com o uso de fibras como cana, algodão, amoreira, banana e milho. Com 48 trabalhos, esta mostra leva o subtítulo Ihi hei komi thepe kamie yamaki [Tudo isso somos nós], sugerido por Hakihiiwe para incorporar a diversidade de elementos que formam sua comunidade e seu entorno. “Tudo isso somos nós”, para o artista, significa “tudo aquilo que está ali na selva. Vivemos todos lá, e não é só nós. Lá tem grandes rios, grandes lagoas, os animais, todos os insetos. Vou resgatando tudo que está lá onde vivo”. A mostra de Sheroanawe Hakihiiwe integra o ano de programação do MASP dedicado às Histórias indígenas, que inclui exposições do Movimento dos Artistas Huni Kuin (Mahku), Carmézia Emiliano, Paul Gauguin (1848-1903), do Comodato MASP Landmann de arte pré-colombiana, e de Melissa Cody, além da grande mostra coletiva Histórias indígenas.
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