A Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de apresentar Outros Carnavais, primeira exposição individual de Alberto Pitta (Salvador, 1961) na galeria, que passou a representá-lo este ano. Com curadoria de Vik Muniz, a mostra faz um apanhado histórico de sua produção ao longo de mais de quarenta anos, apresentando elementos documentais, como matrizes antigas, esboços, cadernos e livros com a presença de sua obra. O segundo andar da galeria será dedicado a trabalhos recentes e inéditos, em serigrafia e tinta sobre tela, com predominância de tons de branco, que remetem aos bordados em ponto Richelieu que a mãe do artista fazia. A exposição conta ainda com um ambiente instalativo composto por amostras de tecido de seu acervo de mais de três décadas.
Em seu trabalho, Pitta representa elementos e simbolismos ligados à espiritualidade e a religiões de matriz africana, fazendo referência direta ao contexto baiano. Se originalmente esses motivos eram trabalhados através do vestuário e da estamparia que realizava para os blocos de carnaval baianos, mais recentemente, o artista tem se dedicado a outras linguagens, como a pintura e serigrafia sobre tela e trabalhos instalativos. A simbologia explorada pelo artista remete em especial à mitologia Iorubá: oriunda do Oeste africano, onde hoje se situam especialmente Nigéria e Benim, e que exerceu grande influência em Salvador e no Recôncavo baiano.
Vik Muniz diz que, como artista, sempre está muito preocupado em como “a arte se torna relevante, do momento em que transcende o contexto da galeria e do museu e passa a fazer parte do dia a dia das pessoas”. “Isso abriu um enorme diálogo, longevo, entre Pitta e eu”, comenta. “Quero que as pessoas vejam o tamanho deste artista, e o que ele vem fazendo há mais de quarenta anos. Ele já expôs na Alemanha, em Sidney, em muitos lugares. Esta mostra pode ser importante para ele, mas é mais ainda para o mundo da arte”, salienta.
Pitta e Muniz se conheceram em 2000, na exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, que reunia artistas baianos e internacionais, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia e, desde então, os artistas tornaram-se grandes amigos. A realização de uma mostra na galeria, contudo, é uma das primeiras vezes em que conversam diretamente sobre trabalho.
Filho da ialorixá Mãe Santinha, do Ilê Axé Oyá, educadora e bordadeira, especialista em ponto Richelieu, Pitta começou sua trajetória ainda no final dos anos 1970, criando estampas para pequenos blocos de carnaval como o Zâmbia Pombo e Oba Layê, do bairro onde morava, em São Caetano. Ao longo de sua carreira, no entanto, realizou trabalhos em parceria com outros importantes blocos da capital baiana, como o Ara Ketu e o Ilê Aiyê, e tendo atuado como diretor artístico do Olodum. Desde 1998, comanda seu próprio bloco, o Cortejo Afro, para o qual realiza toda a produção visual. Pitta afirma gostar de provocar “encontros de analfabetos”: “Entre os que não tiveram oportunidade de estudar, e os que são da academia, mas não conhecem os símbolos das religiões de matriz africana”.
De acordo com Vik Muniz, “a iconografia dentro do trabalho dele é muito importante, e se vai aprendendo. É uma cartilha de significados, muitos deles discretos, porque o candomblé não gosta muito de falar, e Pitta vai soltando as coisas de forma homeopática”, afirma, e complementa: “Pitta já invadiu o entorno do cubo branco, e agora nesta mostra queremos contar um pouco de cada coisa que ele fez”.
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