O conceito de solastalgia – estresse mental e/ou existencial causado por mudanças ambientais abruptas, não só por consequências naturais, mas também, por modelos de extrativismo danosos – norteia e intitula a exposição inédita que o cineasta, artista visual e pesquisador em novas mídias, Lucas Bambozzi, exibe no MAC USP. A mostra, com curadoria assinada por Fernanda Pitta, traz quatro videoinstalações que servem como uma espécie de convite para o público refletir sobre o impacto social e ambiental das atividades mineradoras no Brasil. A exposição abre com montanhas e paisagens dilaceradas na obra SOLASTALGIA (2023), uma instalação que nasce do processo de realização do longa-metragem LAVRA (2021, 91 minutos), também de Lucas Bambozzi. Por meio de uma linguagem mais sensorial – mais imagética, sem diálogos, personagens e/ou narrativas ficcionais, presentes no documentário -, a instalação evidencia as tragédias causadas pela mineração de ferro no entorno de Belo Horizonte (MG). “As imagens explicitam uma lógica extrativista que destroça modos de vida, em nome de uma noção arcaica de progresso. Se antes estávamos expostos a formas de solastalgia apenas em função de acidentes tidos como naturais, hoje, os acidentes são causados por negligências – por modelos de extrativismo danosos e também por uma noção de desenvolvimento que entra em conflito com outros modos de se viver”, comenta Bambozzi. As narrativas de tragédias, acidentes naturais ou causados por ações exploratórias também aparecem na obra inédita EXTRA, EXTRA (2023), vídeo criado a partir de imagens e registros de fotojornalismo, publicados por diversos veículos de imprensa. Na série PAISAGENS RASGADAS (2021), Bambozzi adentra no espaço aéreo e exibe em cinco telas LCD passeios virtuais através do Google Earth Studio – ferramenta que agrega imagens aéreas de diferentes fontes, a partir de coordenadas de latitude e longitude. Na obra, também em formato de vídeo, o artista apresenta imagens de crateras de extração de minério de ferro de grandes mineradoras multinacionais, localizadas em espaços de controle privado e até então inacessíveis a registros fotográficos usuais. Em LUZES (2023), painéis luminosos posicionados no chão recebem projeções de frases que sintetizam a ideia de solastalgia, sob o olhar de 3 pensadores convidados: Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e filósofo; Christiane Tassis, escritora, roteirista do filme Lavra, e a artista, Giselle Beiguelman. Ao longo do período expositivo, novas participações de artistas devem se somar ao espaço da instalação, em diálogo com as redes sociais e com a exposição em sua integralidade.
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