Um dos grandes representantes da tradição humanista e poética que dominou a fotografia europeia na segunda metade do século XX, Josef Koudelka terá três de seus mais icônicos trabalhos exibidos pelo Instituto Moreira Salles. A exposição Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exíliosabre em 18 de maio no IMS Paulista (Av. Paulista, 2424, SP). Koudelka virá para a inauguração da mostra e participará do evento de abertura, no dia 18/5 às 11h, em uma conversa sobre a sua obra com a jornalista Dorrit Harazim. O evento é gratuito e aberto ao público, com distribuição de senhas 1 hora antes.
Com curadoria do próprio artista e organização de Samuel Titan Jr. e Miguel Del Castillo, a mostra traz a integral das séries Ciganos (com 111 fotografias) e Exílios (74 obras). Ambas tiveram suas tiragens produzidas nas décadas de 1980 e 1990, com supervisão do fotógrafo, e pertencem à Coleção Josef Koudelka no Museu de Artes Decorativas de Praga, República Tcheca. Também poderão ser vistas 11 fotografias da invasão da capital da então Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968, evento que interrompeu abruptamente o período celebrado como Primavera de Praga.
Ciganos foi a primeira série que Koudelka dedicou a um único tema. Ele trabalhava como engenheiro aeronáutico e colaborava como fotógrafo para o Divadlo za branou (Teatro Além do Portão), registrando ensaios e espetáculos, quando se interessou pelos ciganos. Suas fotografias foram feitas entre 1962 e 1970, a maioria em acampamentos ciganos no leste da Eslováquia, mas também na Boêmia, na Morávia (região onde nasceu, na cidade de Boskovice, em 1938) e na Romênia. Nesses trabalhos, sua intenção não era criar um relato preciso e objetivo da vida dos ciganos na Europa Central da época, e sim registrar sua visão pessoal, em poderosas histórias contadas por intermédio de imagens.
As fotografias de Exílios, a outra série completa na mostra, começaram a ser produzidas a partir de 1970. Nesse ano Josef Koudelka saiu da Tchecoslováquia, motivado pelas condições políticas em seu país. Para poder viajar e fotografar, vivia modestamente. Em suas viagens constantes – por Espanha, França, Portugal, Itália, Irlanda e Grã-Bretanha –, retratou o povo romani, as celebrações religiosas, as festas populares tradicionais e a vida cotidiana. São fotos que dão pleno testemunho da alienação e da busca pela identidade de uma vida europeia em vias de desaparecer. Registrou também espaços desabitados, animais perdidos em áreas densamente construídas, paisagens e naturezas-mortas.
Na conversa com Karel Hvížd’alacitada acima, ele fala sobre essa experiência: “Quando deixei a Tchecoslováquia, estava descobrindo o mundo à minha volta. O que eu mais precisava era viajar para poder fotografar. Não queria ter o que as pessoas chamam de ‘lar’. Não queria ter o desejo de retornar a algum lugar. Precisava saber que nada aguardava por mim em parte alguma, que o lugar em que deveria estar era aquele em que estava no momento e que, se nada mais havia para fotografar ali, que estava na hora de partir para outro lugar.”
A exposição ocupa dois andares do IMS Paulista. O percurso começa pelo 8º andar, onde estarão as 111 fotos de Ciganos, e continua no 7º andar, onde, antes de se chegar às fotografias de Exílios, o visitante será apresentado a 11 fotografias num formato maior da série Praga 1968. Estão, portanto, dispostas na ordem em que foram produzidas. As imagens da invasão soviética aconteceram por impulso. Koudelka nunca havia trabalhado antes como fotojornalista, mas pôs-se a documentar o que se passava nas ruas de Praga tão logo soube, na manhã de 21 de agosto de 1968, da invasão da Tchecoslováquia por exércitos do Pacto de Varsóvia. Ao longo de sete dias dramáticos, criou uma série espetacular, considerada por muitos um dos mais importantes trabalhos de fotojornalismo do século XX. Para além da tragédia nacional, as imagens feitas naquela ocasião se tornaram simbólicas de toda opressão militar e da luta por liberdade. Na mesma entrevista já citada, ele diz, sobre essa série: “Importante nas fotografias não é quem é russo e quem é tcheco. Importante é que uma pessoa tem uma arma e a outra, não. E aquela que não a tem é, na verdade, a mais forte, embora não pareça de imediato.”
Contrabandeadas para fora da Tchecoslováquia, as fotos chegaram à Magnum Photos, nos Estados Unidos, fundada por, entre outros, Henri Cartier-Bresson. O colega francês diria, sobre o trabalho de Koudelka, ser “um esplendor de sensibilidade, força e honestidade”. No primeiro aniversário da invasão e sem o conhecimento do autor, elas foram publicadas em jornais e revistas do mundo todo. Buscando proteger o fotógrafo e sua família, a Magnum Photos creditou as fotografias apenas com as letras P.P. (Prague Photographer, “fotógrafo de Praga”). No mesmo ano, o Overseas Press Club dos Estados Unidos agraciou o “fotógrafo tcheco anônimo” com a prestigiosa Medalha de Ouro Robert Capa. O fotógrafo só foi admitir publicamente que tinha sido ele a fotografar a invasão na ocasião de sua primeira grande exposição, em 1984, na Hayward Gallery, em Londres. Isso, contudo, somente depois da morte de seu pai, quando a informação já não punha em perigo sua família. Na Tchecoslováquia, essas fotos só foram publicadas 22 anos depois da invasão, em 1990, num suplemento especial do semanário Respekt.
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