Estabelecer a rota do que acontece dentro do corpo humano e dentro da psicologia individual, a partir do momento em que algo é inalado, é o mote da exposição “Inalação” da artista olfativa Karola Braga que abre em 18 de maio na Galeria Luis Maluf, no Jardins. Sob a curadoria de Marcello Dantas a mostra apresenta dezenas de obras cuja assincronia entre aquilo que já é conhecido pelo cérebro humano e o que de fato se está vendo ou inalando, gera um desencontro entre razão e sentido. A mostra visa um mergulho nessa interseção, explorando a experiência sensorial, desafiando as percepções ao criar um desencontro entre o que é percebido e o que é racionalizado.
Entre os trabalhos apresentados, uma ‘revisão’ do mictório de Marcel Duchamp, elemento fundamental na história da arte. Instalada na altura do rosto, é uma das primeiras obras com a qual os espectadores se deparam ao entrar na galeria. Segundo Dantas, “Karola revisita esse instrumento na busca pela inversão de seu sentido. Assim, ele passa a ser ressignificado a partir de ser um receptáculo para os sentidos e não apenas um lugar onde a gente dejeta.”
Inovadora, a pesquisa da artista acerca de ‘cheiros’ tem base no uso de aromas, característico em seu trabalho. Através da utilização de fragrâncias, que carregam significados simbólicos e culturais, suas obras geram sensações, evocam memórias e, acima de tudo, contam histórias. A exploração de Braga em relação aos aromas vai além do foco singular no meio em si; ela abrange uma abordagem multidisciplinar, entrelaçando elementos de cultura, química, antropologia e ciência sensorial. Suas buscas artísticas mergulham profundamente nos conceitos de presença/ausência e memória/esquecimento.
Conceito perfeitamente aplicado em sua recente participação na mostra “In the Presence of Absence”, (“Na Presença da Ausência”), que aconteceu na 3ª edição da Desert X, de 11 de fevereiro a 30 de março de 2024, em AlUla, região de patrimônio natural localizada no noroeste da Arábia Saudita. Para a exposição, Karola apresentou o projeto “Sfumato”, em que o incenso passou pelo deserto, deixando um rasto, criando uma memória do caminho do incenso sobre o espaço. Nesse momento, se faz presente algo sentido via olfato, mas que não está ali. E é essa percepção, a de sentir algo que não está ali, que a mostra na Luis Maluf também trará ao público.
“No momento em que você cheira algo que não vê, já está imerso nessa experiência. Ou seja, quando você não está vendo a coisa e ela está ali presente de alguma forma. Tem outros momentos em que você está indo deliberadamente buscar dentro de um objeto um cheiro. Aí é a presença com a presença”, pontua Marcello e recomenda: “Duvide de seus olhos. Confie no seu nariz. A inalação é um processo de encontro. É um espalhamento. É uma aproximação de você com uma coisa que existe dentro de você. Então, é um resgate.”
“Inalação” é um desafio, acima de tudo, à memória. E, mais que isso, tem um “lado mágico”, nas palavras do curador. Para ele, há um processo sinestésico no qual as informações contraditórias confundem os sentidos e permitem que se faça, ali, a imagem a partir de um cheiro ou um cheiro a partir de uma imagem, reafirmando a máxima de que nem tudo o que parece é.
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