As gravuras de Jacqueline Aronis desenvolvem dois núcleos de reflexão plástica que se complementam: uma primeira série indaga a origem cósmica: são astros ou nuvens de improvável equilíbrio, em todo caso: imagens de distantes corpos etéreos, coloridos e algo triunfantes, que tem sua origem gráfica, em um instante de ousadia – tal e como se a gravurista agregasse um tom funambulesco à seriedade daquele pensamento pascaliano – Le silence éternel de ces espaces infinis m´effraie – que tão bem caracteriza, desde o século XVII, o sentimento do homem afastado do conforto de um Deus que se responsabilizasse pela “Máquina do Mundo”, tanto quanto situado frente aos avanços da cosmologia e da astronomia.
O segundo conjunto de gravuras perscruta outra origem: a invenção de signos que se estabilizem em possíveis alfabetos que guardem alguma promessa de inteligibilidade: a de um dos mais persistentes impulsos do ser humano: a ousadia da escrita como um astro de tentativa estabilidade da nuvem da linguagem, a do devir aparentemente infinito. Em resumo: Jacqueline Aronis nele explora a Marca, e assim prolonga a reflexão anterior, a seu modo atualizando a asserção de Baudelaire no poema-chave da modernidade – “Correspondances” – que nos convida a passar pelas “florestas de símbolos” que observam o homem com “olhares familiares” (“des forêts de symboles / que l´observent avec des regards familiers.”).
Um duplo olhar em correspondência, a mesma busca.
Horácio Costa, 12 de outubro de 2023
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