O Dia Internacional da Dança é comemorado no dia 29 de abril desde 1982, por definição da UNESCO, por ser o dia do nascimento do francês Jean-Georges Noverre, bailarino que ultrapassou os princípios gerais que norteavam a dança do seu tempo ao propor a simplificação na execução dos passos e a sutileza nos movimentos. Por uma feliz coincidência, é também a data de aniversário de Marika Gidali, a bailarina que, com Décio Otero, fundou o Ballet Stagium em 1971 em São Paulo.
Vale lembrar que a companhia nasceu no auge dos anos mais duros da ditadura militar e durante o Movimento Tropicalista – encabeçado por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes,Tom Zé, Gláuber Rocha e, nas artes plásticas, Hélio Oiticica. – um apaixonado pela dança! O Ballet Stagium, portanto, acabou dançando temas como o racismo, violência, opressões e genocídios, sendo os movimentos criados, muitas vezes, a partir de textos proibidos pela censura da época, como Navalha na carne sob o título Quebras do mundaréu , em 1975.
Mas Oiticica não foi o único artista plástico a se envolver com a dança – desde sempre estas duas formas de arte criaram namoros memoráveis. Confira, abaixo, algumas das colaborações mais icônicas.
Pablo Picasso e os Ballets Russes
Eles colaboraram em várias produções. Os cenários e figurinos cubistas de Pablo Picasso foram usados por Sergei Diaghilev em Parade; Le Tricorne; Pulcinella; e, Cuadro Flamenco. O mais famoso é Parade, apresentado em 1917, em Paris. O cenário era de Jean Cocteau, o cenário de Léonide Massine e a música de Ernest Ansermet.
Fernand Léger e Ballets Suédois
O artista francês criou o cenário e figurino do espetáculo La creation du monde, apresentado em Paris em 1923. Este trabalho exemplifica a maneira como Léger e outros artistas associados ao cubismo fizeram uso da escultura africana para seus próprios fins pictóricos, composicionais e narrativas. Junto com a trilha do balé com inflexão de jazz e a coreografia frenética, esses designs lançam luz sobre o fascínio pelo “primitivo” tão em voga em Paris naquela época. Hoje esse espetáculo é amplamente criticado pela visão eurocêntrica da cultura africana!
A peça foi tão influente que Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral chegaram a idealizar um balé essencialmente brasileiro no qual mulheres negras interpretariam o papel de babás e amas de leite.
Oskar Schlemmer na Bauhaus
Uma das mais emblemáticas escolas de artes da História, a Bauhaus é famosa também pelos experimentos com dança, figurinos e cenários. Schlemmer era um dos professores de pintura e criador de Das triadisches Ballett, em 1922. Todo o trabalho é baseado em três atos, doze coreografias e 18 figurinos. A narrativa é um comentário direto à teoria da cor, tão central para o trabalho da Bauhaus. O primeiro ato é amarelo, o segundo rosa e o preto final.
Robert Rauschenberg / Donald Judd e Trisha Brown
Integrante do movimento de dança pós-moderna em Nova Iorque e uma das idealizadoras do coletivo artístico de vanguarda Judson Dance Theater , Trisha Brown era muito amiga de Robert Rauschenberg e ambos fizeram várias colaborações durante os anos 1960. Mais tarde Trisha convidou outros pintores, escultores e cenógrafos – como Fujiko Nakaya, Donald Judd, Nancy Graves, Roland Aeschlimann e Terry Winters – para se juntar a ela na criação colaborativa de uma obra para o palco tornou-se uma característica central de sua prática. Judd foi muito amigo e colaborador de Trisha, por isso, em 2015, sua companhia apresentou os espetáculos Accumulation (1971); Rogues (2011); Figure Eight (1974); Sticks IV (1973); entre outros, na Judd Foundation.
Andy Warhol / Jasper Johns e Merce Cunningham
Um dos precursores da dança moderna, Merce Cunningham foi bastante influenciado pelo artista e compositor John Cage e fez colaborações com diversos artistas como Jasper Johns, Andy Warhol e Robert Rauschenberg. Entre os espetáculos mais emblemáticos está Walkaround Time, de 1968, cujo figurino foi criado por Johns que se inspirou em um trabalho de Duchamp, O Grande Vidro (1912-1923). Warhol, por sua vez, cobriu o palco com suas famosas Silver Clouds para o espetáculo Rain Forest, também de 1968. Mesmo depois da morte do bailarino, sua companhia seguiu convidando artistas para trabalhar em conjunto.
Marina Abramović / JR e Paris Opera Ballet
Em 2013 os bailarinos da Ópera dançaram “Boléro”, de Maurice Ravel, usando figurinos idealizados por Riccardo Tisci. A coreografia foi idealizada por Sidi Larbi Cherkaoui, Damien Jalet e pela artista Marina Abramovic. Em 2020, o artista visual francês JR criou figurino e cenário para nove dançarinos do ballet da Ópera de Paris. Brise-Lames , no entanto, não foi revelado ao público devido ao segundo bloqueio em Paris no início de novembro, para evitar o contágio do coronavírus, mas o espetáculo foi exibido na televisão nacional.
Tunga e Lia Rodrigues
No Brasil, uma das colaborações mais significativas foram as criadas entre Tunga e a bailarina e coreógrafa Lia Rodrigues. Quando o artista inaugurou o seu pavilhão True Rouge, em Inhotim, em 2020, por exemplo, ele criou uma performance com os bailarinos da Cia de Lia Rodrigues. Nela, homens e mulheres espalham gelatina vermelha por seus corpos nus e pela obra que se encontra na galeria, em frente ao lago principal de Inhotim, permitindo que os recipientes sejam preenchidos pelo líquido. Segundo Tunga, a performance era definida como o ponto de instauração, ou seja, o momento em que a obra de arte é ativada, ganhando sentido por meio das interações humanas.Depois de sua morte a parceira e amiga orquestrou uma encenação nova para homenageá-lo.