Conheça 10 criações feitas a partir da colaboração entre arte e dança

Para comemorar o Dia Internacional da Dança, selecionamos espetáculos idealizados em parceria com artistas como Pablo Picasso, Fernand Léger, Robert Rauschenberg, Andy Warhol, Jasper Johns, Marina Abramović, entre outros

por Beta Germano
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Bauhaus
Bauhaus

O Dia Internacional da Dança é comemorado no dia 29 de abril desde 1982, por definição da UNESCO, por ser o dia do nascimento do francês Jean-Georges Noverre, bailarino que ultrapassou os princípios gerais que norteavam a dança do seu tempo ao propor a simplificação na execução dos passos e a sutileza nos movimentos. Por uma feliz coincidência, é também a data de aniversário de Marika Gidali, a bailarina que, com Décio Otero, fundou o Ballet Stagium em 1971 em São Paulo. 

Vale lembrar que a companhia nasceu no auge dos anos mais duros da ditadura militar e durante o Movimento Tropicalista – encabeçado por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes,Tom Zé, Gláuber Rocha e, nas artes plásticas,  Hélio Oiticica. – um apaixonado pela dança! O Ballet Stagium, portanto, acabou dançando temas como o racismo, violência, opressões e genocídios, sendo os movimentos criados, muitas vezes, a partir de textos proibidos pela censura da época, como Navalha na carne sob o título Quebras do mundaréu , em 1975. 

Mas Oiticica não foi o único artista plástico a se envolver com a dança – desde sempre estas duas formas de arte criaram namoros memoráveis. Confira, abaixo, algumas das colaborações mais icônicas. 

O figurino e o cenário de
O figurino e o cenário de “Parade” foi criado por Pablo Picasso
A pintura Harlequin, de 1917, nasceu como um estudo para o espetáculo criado para o Balé Russ
A pintura Harlequin, de 1917, nasceu como um estudo para o espetáculo criado para o Balé Russo

Pablo Picasso e os Ballets Russes 

Eles colaboraram em várias produções. Os cenários e figurinos cubistas de Pablo Picasso foram usados ​​por Sergei Diaghilev em  Parade; Le Tricorne; Pulcinella; e, Cuadro Flamenco. O mais famoso é Parade, apresentado em 1917, em Paris. O cenário era de Jean Cocteau, o cenário de Léonide Massine e a música de Ernest Ansermet.

Fernand Léger idealizou o cenário e figurino do espetáculo
Fernand Léger idealizou o cenário e figurino do espetáculo “La creation du monde”, apresentado em Paris em 1923
eurocêntrica e racista de Fernand Léger em relação à cultura africana
A peça mostra a visão eurocêntrica e racista de Fernand Léger em relação à cultura africana

Fernand Léger e Ballets Suédois 

O artista francês criou o cenário e figurino do espetáculo La creation du monde, apresentado em Paris em 1923. Este trabalho exemplifica a maneira como Léger e outros artistas associados ao cubismo fizeram uso da escultura africana para seus próprios fins pictóricos, composicionais e narrativas. Junto com a trilha do balé com inflexão de jazz e a coreografia frenética, esses designs lançam luz sobre o fascínio pelo “primitivo” tão em voga em Paris naquela época. Hoje esse espetáculo é amplamente criticado pela visão eurocêntrica da cultura africana! 

A peça foi tão influente que Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral chegaram a idealizar um balé essencialmente brasileiro no qual mulheres negras interpretariam o papel de babás e amas de leite. 

Professor de pintura na Bauhaus, Oskar Schlemmer idealizou a peça
Professor de pintura na Bauhaus, Oskar Schlemmer idealizou a peça “Das triadisches Ballett”, em 1922
Professor de pintura na Bauhaus, Oskar Schlemmer idealizou a peça
Para comemorar o centenário da Bauhaus, “Das triadisches Ballett” foi montada novamente em 2019

Oskar Schlemmer na Bauhaus 

Uma das mais emblemáticas escolas de artes da História, a Bauhaus é famosa também pelos experimentos com dança, figurinos e cenários. Schlemmer era um dos professores de pintura e criador de Das triadisches Ballett, em  1922. Todo o trabalho é baseado em três atos, doze coreografias e 18 figurinos. A narrativa é um comentário direto à teoria da cor, tão central para o trabalho da Bauhaus. O primeiro ato é amarelo, o segundo rosa e o preto final.

Trisha Brown criou em parceria com vários artistas, o mais frequente era o amigo Robert Rauschenberg
Trisha Brown criou em parceria com vários artistas, o mais frequente era o amigo Robert Rauschenberg
Donald Judd e Trisha Brown
Donald Judd e Trisha Brown

Robert Rauschenberg / Donald Judd e Trisha Brown

Integrante do movimento de dança pós-moderna em Nova Iorque e uma das idealizadoras do coletivo artístico de vanguarda Judson Dance Theater , Trisha Brown era muito amiga de Robert Rauschenberg e ambos fizeram várias colaborações durante os anos 1960. Mais tarde Trisha convidou outros pintores, escultores e cenógrafos – como Fujiko Nakaya, Donald Judd, Nancy Graves, Roland Aeschlimann e Terry Winters – para se juntar a ela na criação colaborativa de uma obra para o palco tornou-se uma característica central de sua prática. Judd foi muito amigo e colaborador de Trisha, por isso, em 2015, sua companhia apresentou os espetáculos Accumulation (1971); Rogues (2011); Figure Eight (1974); Sticks IV (1973); entre outros, na Judd Foundation.

Merce Cunningham também fez parceria com vários artistas.
Merce Cunningham também fez parceria com vários artistas. “Walkaround Time”, de 1968, tinha cenário criado por Jasper Johns que se inspirou em um trabalho de Duchamp, O Grande Vidro
Para o espetáculo
Para o espetáculo “Rain Forest”, também de Merce Cunningham, Andy Warhol lotou o palco com suas Silver Clouds

Andy Warhol / Jasper Johns e Merce Cunningham 

Um dos precursores da dança moderna, Merce Cunningham foi bastante influenciado pelo artista e compositor John Cage e fez colaborações com diversos artistas como Jasper Johns, Andy Warhol e Robert Rauschenberg. Entre os espetáculos mais emblemáticos está Walkaround Time, de 1968, cujo figurino foi criado por Johns que se inspirou em um trabalho de Duchamp, O Grande Vidro (1912-1923). Warhol, por sua vez, cobriu o palco com suas famosas Silver Clouds para o espetáculo Rain Forest, também de 1968. Mesmo depois da morte do bailarino, sua companhia seguiu convidando artistas para trabalhar em conjunto.

“Bolero”, de Maurice Ravel, com figurino de Riccardo Tisci e montagem de Marina Abramović
JR desenha figurino e cenário para Opera de Paris
JR desenha figurino e cenário para Opera de Paris

Marina Abramović / JR e Paris Opera Ballet

Em 2013 os bailarinos da Ópera dançaram  “Boléro”, de Maurice Ravel, usando figurinos idealizados por Riccardo Tisci.  A coreografia foi idealizada por Sidi Larbi Cherkaoui, Damien Jalet e pela artista  Marina Abramovic. Em 2020, o artista visual francês JR criou figurino e cenário para nove dançarinos do ballet da Ópera de Paris. Brise-Lames , no entanto, não foi revelado ao público devido ao segundo bloqueio em Paris no início de novembro, para evitar o contágio do coronavírus, mas o espetáculo foi exibido na televisão nacional.

Tunga e Lia Rodrigues em Inhotim
Tunga e Lia Rodrigues em Inhotim

Tunga e Lia Rodrigues 

No Brasil, uma das colaborações mais significativas foram as criadas entre Tunga e a bailarina e coreógrafa Lia Rodrigues. Quando o artista inaugurou o seu pavilhão True Rouge, em Inhotim, em 2020, por exemplo, ele criou uma performance com os bailarinos da Cia de Lia Rodrigues. Nela, homens e mulheres espalham gelatina vermelha por seus corpos nus e pela obra que se encontra na galeria, em frente ao lago principal de Inhotim, permitindo que os recipientes sejam preenchidos pelo líquido. Segundo Tunga, a performance era definida como o ponto de instauração, ou seja, o momento em que a obra de arte é ativada, ganhando sentido por meio das interações humanas.Depois de sua morte a parceira e amiga orquestrou uma encenação nova para homenageá-lo.

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