Mark David Chapman cumpre pena de prisão perpétua por ter assassinado John Lennon; El Chapo é um narcotraficante mexicano ex-líder da Alianza de Sangre; Dzhokhar Tsarnaev foi condenado por plantar bombas em panelas de pressão na Maratona de Boston em 2013, deixando quatro pessoas mortas e aproximadamente 280 feridas; Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Trump, foi preso por fraude; Jeffrey Epstein, Harvey Weinstein e Bill Cosby foram julgados por por crimes sexuais. O que esta turma teria em comum além de serem desprezíveis? Todos passaram pelo tribunal fereral norte-americano e foram pintados pela artista Jane Rosenberg, que faz parte de um seleto grupo de artistas mulheres autorizadas a acompanhar julgamentos federais históricos.
Mês passado um dos desenhos de Rosenberg viralizou na internet e coletou elogios: Bannon foi representado mascarado, algemado e queimado de sol, enfrentando um juiz federal que o acusava de fraudar doadores para uma campanha de crowdfunding para o muro da fronteira EUA-México. Por trás do pano sobre a boca e nariz, entretanto, é possível ver a imagem angustiada do réu. As câmeras são proibidas nestas sessões, o que dá mais relevância e poder às imagens criadas por Rosenberg: representar é também criar uma espécie de perfil do retratado e quando se trata de figuras tão icônicas este trabalho pode ser um tanto angustiante e, ao mesmo tempo, instigante.
Rosenberg é membra de um pequeno grupo de artistas de tribunais de Nova York, todas mulheres, com formação clássica e décadas de experiência em seu campo. Uma seleção de seus trabalhos, incluindo mais de 60 esboços de Rosenberg, está atualmente em exibição no saguão do Tribunal Distrital dos Estados Unidos, em Nova York, onde Bannon foi acusado. Semana passada ela conversou com Hyperallergic para contar o que percebeu de mais interessante nesses personagens. Ela conta que tentaram permitir que câmeras entrassem nos tribunais, e isso imediatamente se tornou um circo da mídia. “O tribunal não deve ser um lugar onde as pessoas estão representando para as câmeras.”, explica a artista. Sobre a dificuldade de seu trabalho ela cita que muitas vezes a acusação é rápida demais e ela precisa terminar o desenho em 10 minutos. Mas o mais difícil é manter-se neutra diante de pessoas e crimes tão asquerosos: “Tento ser neutra, mas já passei por provações quando chorei depois de ouvir um testemunho horrível. Às vezes vejo fotos de crimes horríveis ou pessoas tão horríveis. Mas tenho que ficar neutro e entregar os visuais como eles são. Não consigo desenhar com lágrimas nos olhos”, relata. E você? Conseguiria desenhar algo que despreza?